Hoje, em Portugal, já conseguimos medir o impacto das tempestades geomagnéticas (variações bruscas do campo magnético da Terra com origem em tempestades solares) graças ao aparelho que Rute Santos desenvolveu, juntamente com uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra. “O sistema que criamos serve para conseguirmos perceber qual a real dimensão do impacto das tempestades solares em Portugal”, explica à VISÃO a jovem mestre em Engenharia Física no ramo de instrumentação.
As tempestades solares são frequentes, e, por vezes, atingem a Terra de forma mais intensa. “O sol está sempre a emitir radiação e partículas”, explica. “A Terra tem uma espécie de escudo – chamado magnetosfera – e é isso que nos permite viver, porque se toda a radiação e partículas vinda do Sol atingisse a superfície terrestre, nós não conseguíamos sobreviver”. O efeito das tempestades geomagnéticas é mais sentido nos polos do mundo, sendo o responsável pelas auroras boreais. “Esse é o efeito bonito. Mas essas emissões também são prejudiciais para a nossa rede elétrica”, continua.
Rute Santos, de 23 anos, explica que as subestações e as linhas de alta tensão, que são exploradas pela Redes Energéticas Nacionais (REN), têm a função de transportar energia em Portugal, desde os pontos de produção energética até aos pontos de distribuição, parte atuada pela EDP. “Nestas subestações existem transformadores, que como o nome explica, transformam a energia. Quando existem as variações no campo magnético terrestre são induzidos campos elétricos na superfície terrestre havendo correntes elétricas a fluir na superfície terrestre, estando aqui o principal problema”.
“Os transformadores têm cabos ligados à terra que, normalmente, não têm atividade. Quando as tempestades geomagnéticas ocorrem, as correntes elétricas conseguem entrar na rede elétrica por esses cabos nas subestações”, analisa Rute. Como consequência, pode haver falhas de energia, algo que não é comum em Portugal.
Como é que o seu trabalho pode ajudar? “Participei num desenvolvimento de um instrumento para que se consiga medir essas correntes. Foi montado no dia 30 de agosto de 2021 em Paraimo, no concelho de Anadia. O sistema está em volta do cabo neutro de um transformador a medir 24 horas as emissões que chegam. Portanto, estamos a ver no momento o efeito das tempestades geomagnéticas em território português”.
“A próxima fase é tentar prever estas tempestades e instalar este equipamento noutras estações. Desta forma poderemos melhorar o nosso modelo”, adianta.
O trabalho de Rute está inserido no plano de uma bolsa do projeto “MAG-GIC: correntes induzidas pelo campo geomagnético no território português”, financiado pela FCT, durante a qual foi orientada por investigadores do Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra (CITEUC) e do Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física da Radiação (LIBPhys-UC).
No âmbito deste projeto também está a ser criado um modelo de simulação destas correntes elétricas na rede elétrica portuguesa. A criação deste modelo requereu conhecimentos da condutividade do solo português, de medições das variações do campo magnético terrestre e da topologia da rede elétrica.