Porque todos merecem novas oportunidades, o Serviço Jesuíta aos Refugiados, obra jesuíta fundada há 41 anos e presente em cerca de 50 países, tem um gabinete de emprego disponível para ajudar quem procura trabalho, mas também quem procura funcionários.
Imaginem-se migrantes e refugiados que chegam a Portugal, sobretudo a Lisboa, vindos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), por exemplo, e sem qualquer referência precisam de arranjar emprego para dar um primeiro passo no recomeço de vida. Através deste gabinete de emprego podem candidatar-se a postos de trabalho em diversas áreas: cuidados a pessoas idosas ou outros dependentes, serviços domésticos e de limpezas, acompanhamento a crianças, restauração, hotelaria, construção civil, logística, serviços administrativos.
Depois de “inscritos” no portal Ofereça um Emprego no site do JRS, os candidatos ao emprego recebem aconselhamento, consoante o grau de necessidade. As pessoas que não sabem ler e mal falam português estão muito mais vulneráveis do que outras a quem ensinam a usar a Internet, a fazer um Curriculum Vitae, a procurar emprego online, quais os direitos e deveres, de forma a tornarem-se mais autónomos na pesquisa de trabalho.
São os serviços domésticos e de limpeza e os de cuidados a idosos os mais requisitados pelos empregadores, muitas vezes particulares. Dos 300 migrantes empregados, em média, por ano, a maioria vem da Guiné, São Tomé e Príncipe e Angola (por questões de saúde, para receber tratamentos médicos ou porque já cá têm familiares), têm entre 20 e 55 anos e 80% são mulheres.
Ao longo dos últimos cinco anos, o Serviço Jesuíta aos Refugiados já encontrou emprego para 1 636 migrantes, 163 das quais em 2020, ano de pandemia, com as empresas a retraírem-se na contratação, devido a muitos serviços, como restaurantes e hotéis, estarem encerrados. No ano passado houve mais procura por parte dos utentes e menos ofertas de trabalho, algo já recuperado em 2021.
Há exemplos de quem tenha chegado a Lisboa, mas conseguido trabalho noutro ponto do País, o que levou a mudar de vida, como uma senhora que foi trabalhar para um restaurante em Braga, outra que aceitou ser governanta num hotel no Alentejo ou uma família de refugiados sírios que se mudou para perto de Castelo Branco, com o emprego da mulher (como empregada interna) a garantir o sustento de todos.
“A nossa missão é que a pessoa se sinta acompanhada, saiba que está a ser defendida. Na fase da autonomização garantir que a pessoa apesar de estar a ser acompanhada terá de ter vontade para continuar”, explica Carlota Muralha, uma das quatro técnicas que trabalha a tempo inteiro no gabinete criado há uma década.
Numa primeira fase o que estes técnicos fazem é criar o perfil do utente, sabendo quais as suas competências generalizadas. O mesmo repete-se do lado dos empregadores. O match é feito pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados referenciando, em média, quatro a cinco candidatos para as entrevistas. “Por regra, não acompanhamos as entrevistas, mas preparamo-los, explicando os requisitos e os seus direitos sobre folgas ou horários. Quando se fala de salário, a referência é sempre o ordenado mínimo, nunca menos”, exemplifica Carlota.
Muitos dos candidatos, por virem de contextos culturais totalmente diferentes, precisam de alguns conselhos no que toca à comunicação informal. Muitas pessoas não olham nos olhos, não são expressivas, não sabem como estar fisicamente e os técnicos ajudam-nas. Na pós-seleção, já com emprego garantido, acompanham toda a parte burocrática, inclusive das empresas. “Se for uma grande empresa já tem essa estrutura montada, mas os particulares também têm de garantir que há contrato de trabalho e descontos para a Segurança Social, de modo a ambas as partes ficarem protegidas.”