A separação e as famílias reconstruídas são uma realidade da sociedade atual e à qual precisamos de nos habituar. Nos casos em que esta separação é mais difícil ou conflituosa, é importante termos em conta a proteção das crianças, incluindo antes do próprio processo de separação se iniciar.
O papel dos pais é o mais importante de todos mas costuma ser aqui que ocorrem os maiores erros. Muitas vezes instigados pela raiva e até pelo desejo em prejudicar o ex-companheiro/a, as crianças são sujeitas a exposições sociais, judiciais, psicológicas e em alguns casos até mediáticas. É importante compreender que o processo diz respeito Privar um filho do outro progenitor só deve ser equacionado em situações limite e nunca por mágoa ou ressentimento, pois não é ao outro que estamos a prejudicar mas sim à criança. Não contar detalhes desnecessários, não falar sobre o outro, não fazer da criança pombo correio e não a usar para saber o que se passa do lado de lá, dão tudo pontos chave mas raramente tidos em conta.
Quando os processos de separação se tornam litigiosos, poderá haver necessidade da criança ou jovem testemunhar ao longo do processo em tribunal, sendo estas situações muito duras. Expor a criança a um tribunal, a uma esquadra de polícia ou a uma situação de interrogatório deve ser evitado o mais possível. Só situações limite devem levar à exposição da criança. Não tendo total entendimento do que está a acontecer, será um evento marcante, potencialmente traumático e gerador de ansiedade. Sempre que não for possível esta salvaguarda da criança, é importante que as crianças não estejam presentes quando os adultos expõem as suas situações de conflito. Não podemos esquecer que será sempre o pai e a mãe daquele criança e que destruir a relação entre eles é um sofrimento enorme para a criança.
Uma das grandes questões nestes casos passa por saber se devemos contar-lhe tudo deste difícil processo ou omitir alguns detalhes. É importante contar o mínimo indispensável para a criança entender o que se está ou vai passar. Contar demasiado só prejudicará a criança, sobretudo porque ainda não tem a mesma capacidade cognitiva e emocional de gerir e interpretar as situações. Deve por isso ser poupada a situações de detalhe desnecessários. Um erro comum é envolver demasiado as crianças, quando o mais sensato seria protege-las e deixa-las fora do conflito o mais que se conseguir. As crianças têm muita dificuldade em distinguir o que é verdade do que é mentira. Têm por isso dificuldade em interpretar e dar significado àquilo que ouvem. Pode também condicionar a forma como a criança se vê e olha para os pais, que são as suas figuras de referência. O isolamento, ansiedade e outros sintomas somáticos podem surgir na sequência disso.
Contudo, frequentemente são usadas como um meio para atingir o outro, quando todas as outras formas para atingir o outro se esgotam. Costumo dizer que o conflito também é uma forma de perpetuar a relação. Enquanto há conflito, há uma relação.
Um ponto essencial a considerar nestes temas e nestes casos mais difíceis, de modo a protegermos e ajudarmos da melhor forma possível, é a necessidade de acompanhamento da criança por um profissional. A criança pode necessitar de acompanhamento por um psicólogo ou pedopsiquiatra em casos mais sintomatológicos. Todavia, toda esta família precisa de alguém que os ajude em todo este processo. É importante que os pais tenham um papel ativo no processo terapêutico da criança e que, em conjunto com o profissional, se encontrem formas de proteger a criança e de a ajudar a lidar com tudo o que está a acontecer. Quanto mais tranquilos os pais se apresentarem à criança, mais segura e tranquila ela se sentirá.
As crianças pequenas não expressam o que sentem, pois ainda têm pouca maturidade cognitiva e emocional para o fazer. O reconhecimento de emoções é uma competência que se vai desenvolvendo ao longo do crescimento. Assim, é importante estar atento a mudanças comportamentos, isolamento, evitamento de situações ou locais (como a escola por exemplo), sintomas somáticos como dores de barriga ou cabeça, entre outros.
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