O corpo de um homem que morreu há mais de 70 anos foi exumado no passado dia 19, na esperança de resolver o que é considerado um dos maiores mistérios criminais da Austrália: nunca se descobriu a sua identidade nem a causa da morte do “Homem de Somerton”.
O epíteto vem do local onde foi encontrado, na praia de Somerton, em Adelaide, no sul da Austrália, dia 1 de dezembro de 1948. Estava deitado de costas na areia, vestido de fato e com os sapatos recém-engraxados.
Na altura, e apesar da investigação realizada, não foi possível determinar a sua identidade, abrindo campo para numerosas teorias: poderia ser um espião da guerra fria, um amante desgostoso ou simplesmente um marinheiro. Quase todas as etiquetas da sua roupa tinha sido cortadas e não havia nenhum documento de identificação.
Também a causa da sua morte não foi determinada, pairando a suspeita entre o suicídio e o homicídio. Na autópsia não foram encontrados sinais de violência, e três médicos, na altura, testemunharam acreditar não se tratar de uma morte natural, pondo a hipótese de ter ingerido um veneno raro, que podia matar e desaparecer rapidamente do organismo sem deixar nenhum vestígio.
Mas há mais pormenores a adensar o mistério: roupa com as etiquetas removidas, uma mala encontrada na estação de comboio e, a que tem levado a mais especulações, um pedaço de papel enrolado encontrado num bolso escondido das calças, que continha a frase: “Tamam Shud”. Esta significa “o fim” ou “acabado” em persa e que são as últimas palavras do poema “The Rubaiyat”, do polímata e matemático Omar Khayyam, o que reforça a teoria que se podia tratar de um suicídio.
“O poema em si simplesmente significa que sabemos o que este mundo tem reservado para nós, mas não sabemos o que o outro mundo tem, e que enquanto estamos nesta terra, devemos aproveitar a vida ao máximo, e quando chegar a hora de partirmos, vamos embora sem nenhum arrependimento”, pode ler-se nas declarações feitas pelo detetive Leonard Brown, no inquérito aberto pela investigação na altura.
O mistério adensou-se quando a polícia conseguiu encontrar o livro de onde a frase foi rasgada. Este foi entregue por um homem que o achou no banco traseiro do seu carro, um dia antes da vítima ser encontrada na praia, dia 30 de novembro de 1948, não sabendo que ligação teria com o caso. É na sua contracapa que são encontradas a duas maiores pistas do caso: um número de telefone e um código. Ambas escritas a lapis à mão, têm, no entanto, até hoje, sido becos sem saída. O número pertencia a uma mulher que vivia perto de Adelaide e que afirmou não conhecer o homem. Já o código que não foi decifrado.
O corpo foi enterrado em 1949, mas o caso ficou por resolver. Um jornal da altura considerou-o mesmo um dos “mistérios mais profundos” do país. No mês passado, a Procuradora Geral da Austrália do Sul, Vickie Chapman, tomou a decisão de autorizar que o corpo fosse exumado, por considerar ser de “interesse público”. “É uma história que captou a imaginação das pessoas em todo o estado e, de facto, em todo o mundo – mas, que acredito que, finalmente, podemos descobrir algumas respostas”, disse aos órgãos de comunicação internacionais.
“É o pai de alguém, o filho, ou talvez até avô ou tio, e é por isso que estamos a fazer isto. Há pessoas que vivem em Adelaide que acreditam que possam ser parentes e merecem uma resposta definitiva”, acrescentou o deteite Des Bray.
O corpo foi desenterrado no dia 19, e agora será construído um perfil do seu ADN. A reabertura do caso parte da iniciativa Operation Persevere, que procura dar nomes a todos os restos mortais não identificados naquela zona do país.
“A tecnologia que temos agora disponível está claramente anos-luz à frente das técnicas disponíveis quando este corpo foi descoberto no final dos anos de 1940. Iremos usar todos os métodos disponíveis para tentar trazer um fim a este mistério duradouro”, disse Anne Coxon, diretora Assistente na Forensic Science, aos meios de comunicação internacionais.