A preleção sobre a atualização do referencial de linhas vermelhas ficou a cargo de Andreia Leite, especialista da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova da Lisboa.
A porta-voz do grupo de peritos que analisou a questão defendeu a manutenção da atual matriz de risco na reunião de peritos para avaliação da situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, que se realizou no Infarmed, em Lisboa.
Sendo assim, devem manter-se os critérios definidos em março deste ano, entre os quais se destacavam “como indicadores principais a incidência cumulativa a 14 dias por 100 mil habitantes, que não deveria atingir um valor superior a 240 mil casos por 100 mil habitantes e, também, o número de reprodução efetivo, o RT, que deveria ter valores inferiores a 1”.
Andreia Leite garantiu que esta atualização das linhas vermelhas teve em conta “os critérios para se considerar uma epidemia controlada, mediante a existência de uma vacina”. A incidência e o RT permitem perceber se a situação epidémica está, ou não, controlada, mas impunha-se avaliar de que forma a vacinação deve ser considerada na avaliação de risco.
Os especialistas procederam, então, à revisão dos efeitos das vacinas em contexto real de utilização, assim como dos critérios seguidos por outros países, que já haviam servido de base aos critérios estabelecidos em março.
Apesar de a primeira dose das vacinas consideradas (a da Pfizer e da AstraZeneca) já conferir um valor importante de proteção, é apenas com a segunda dose que se atingem valores muito elevados de efetividade. Contudo, “ainda há muitas incógnitas”.
Alguns estudos iniciais indicam que a resposta da vacina à variante identificada no Reino Unido é semelhante àquela que foi encontrada nos ensaios clínicos, outros resultados ainda mais iniciais para a variante detetada na Índia também são “bastante positivos”. Uma incógnita ainda maior é qual será a duração da imunidade conferida pelas vacinas.
Analisando os critérios de avaliação da pandemia noutros países, os peritos verificaram que a vacinação não estava a ser incluída enquanto critério para considerar uma epidemia controlada.
No entanto, alguns países preveem exceções para as pessoas já com a vacinação completa, como frequentarem alguns espaços, viajarem sem necessidade de teste de rastreio ou aliviarem a utilização de máscara e o distanciamento, por exemplo, em encontros com pessoas também vacinadas.
“No passado, o controlo da epidemia assentou em medidas não farmacológicas. No futuro, o controlo dependerá apenas da vacinação. Atualmente, estamos numa fase de transição, entre o passado e o futuro”, notou a especialista.
“Vamos conviver com a vacinação e com medidas não farmacológicas e, como tal, devemos continuar a olhar para a incidência, porque ela traduz uma menor probabilidade de transmissão, o que implica uma menor probabilidade de aparecimento de novas variantes”, alertou. “A incidência é um indicador precoce que nos permite atuar atempadamente”, defendeu.
A vacinação vai ajudar a garantir que a incidência se encontra em níveis baixos, mas será necessário “continuar a olhar para ela porque é o indicador centralizador de tudo o que está a acontecer”.
Andreia Leite sugere, assim, que se continue a utilizar a incidência e o RT como indicadores principais, mas a este conjunto de critérios “deverá ser somada a monitorização da efetividade das vacinas”.
Contudo, por enquanto, o grupo de peritos propõe que se mantenha a atual matriz de risco. “É a incidência o indicador mais sensível que nos permite uma resposta adequada”, afirmou.
“A vacinação vai contribuir para manter os níveis de infeção controlados, logo, não se justifica a alteração dos critérios até agora utilizados”, reiterou. Também foi tido em conta o enquadramento europeu de reconhecimento de patamares de risco, a menor probabilidade de ocorrência de novas variantes quando a transmissão está controlada e o facto desta matriz ser já conhecida de todos para manter uma comunicação “estável e clara”.
Andreia Leite destacou, ainda, que as consequências da doença, as variantes de preocupação e a proporção de vacinados devem ser considerados em cada momento.