O alivio das medidas restritivas associadas à pandemia coloca novos desafios aos relacionamentos. É como se, também eles, estejam a ser alvo das “limpezas de Primavera”, que se estendem, portanto, às interações com as nossas pessoas e a todas as outras com quem, aos poucos, retomamos o contacto presencial.
Deixar de parte algumas máscaras dispensáveis – as defesas excessivas – é a proposta para cultivar ligações mais genuínas, autênticas, até por estarmos sedentos delas e disponíveis para satisfazer essa necessidade de expansão e de partilha.
Uma ida ao centro comercial ou uma saída noturna podem constituir agora uma experiência de êxtase mas, simultaneamente, serem sentidas como experiências avassaladoras, pelo menos no início, especialmente para quem já tinha dificuldades na dinâmica de funcionamento com outros ou por questões de personalidade.
Na ânsia de querer deixar para trás a sensação de vazio, de perda e os estados de exaustão associados à privação de liberdades e de pequenos prazeres tomados antes por garantidos, é natural que esse movimento ocorra com ondas de euforia. Basta olhar para as festas de rua espontâneas em Espanha. “Durante o confinamento percebemos o que era verdadeiramente importante, o nosso corpo está à espera disso”.
Liberdade e reciprocidade sem medo
Agora, a procura de equilíbrio passa por “integrar segurança e liberdade”, com respeito pelas diferenças de cada um e, tanto quanto possível, “sem o medo que paralisa ou gera fugas para a frente”, nem a tentação de coagir os outros a fazerem o que se acha ser o comportamento certo.
O novo cenário traz a possibilidade de libertar-se de padrões relacionais anteriores que tinham alguma dose de toxicidade, como nos casos em que existe “a dominação do outro para se manter um pseudo bem-estar”.
“Só é possível gostar de si e ter uma boa integração de si mesmo quando se consegue aceitar a existência do outro, nas amizades e no amor”, lembra Patrícia Câmara. “Cultivar a ética relacional, nas amizades, no amor e em qualquer etapa da vida” é o caminho para ligações mais genuínas e recíprocas.
Se há cuidado a ter, nesta fase promissora de reencontros e que convida a explorar novas interações, é este: “Saber detetar quando se está diante de relações de domínio e de submissão e o que são situações democráticas emocionais e essas, não há nenhuma razão para ter medo delas, pelo contrário.”
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