Em menos de duas semanas, após as declarações da atriz Sofia Arruda, 32 anos, no Alta Definição, na SIC, atrizes, cantoras, apresentadoras e produtoras vieram denunciar publicamente ou relembrar igualmente episódios de assédio sexual, que sofreram e que tiveram como consequência um travão nas suas carreiras ou as portas fechadas na profissão. Perante este movimento inédito na sociedade portuguesa, semelhante ao #metoo americano, o Governo pede que não só que as queixas não cessem, como não sejam “descredibilizadas”, apelando a que a sociedade não fique queda a assistir a este desfilar de denúncias.
À VISÃO, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, confrontada com a leva de queixas, disse que o assédio sexual “tem sido ao longo dos anos muito desconsiderado e até legitimado, não obstante ter afetado as mulheres e raparigas em algum momento da sua vida, prejudicando as suas perceções de segurança e de pertença no espaço público, seja ele a rua ou as organizações de trabalho”.
“O assédio sexual fere gravemente a igualdade no trabalho, com impactos negativos em matéria de salários, progressão na carreira, condições no trabalho e mesmo bem estar mental e psicológico. O receio de culpabilização da própria, a que hoje nos referimos como revitimização, ocultou durante muitas décadas um problema que se sabia existir e persistir”, assumiu a governante, que pede “uma cultura de intolerância total a qualquer forma de assédio sexual”, de modo a que as vítimas tenham”a certeza de que serão respeitadas e não serão descredibilizadas, dando-lhes confiança para denunciarem as situações de assédio de que são alvo, não devendo recear qualquer tipo de represália”.
Rosa Monteiro lembra que já existe um guia, da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, para que as entidades patronais saibam impor uma “tolerância zero” a este fenómeno. Mas estão ainda a ser criados, no âmbito de um projecto internacional, “outras orientações” para os patrões, entre elas a criação de uma “ferramenta de avaliação de risco”, que permita perceber quem e onde numa empresa está exposto ao risco de sofrer assédio sexual.
De acordo com dados disponibilizados à VISÃO pela governante, pelo menos um décimo da população ativa em Portugal já sofreu assédio, sendo a maioria mulheres. “As situações mais frequentemente reportadas pelas mulheres estão relacionadas com aproximações físicas – olhares insinuantes, contactos físicos não desejados, piadas ou comentários ofensivos sobre o seu aspeto -, sendo na maioria das situações praticadas pelo superior hierárquico ou pelo chefe direto”, explicou.
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