A vida já lhe tinha pregado uma rasteira. Com o divórcio inesperado, no ano passado, Susana Monteiro, 39 anos, acumulou todos os encargos de 20 anos de uma vida a dois e de um filho de 14. Há largos meses que a situação frágil a tinha deixado sem orçamento suficiente para as despesas da casa, alimentação e carro, tantas vezes com o ponteiro do combustível na reserva. A fazer carreira como consultora imobiliária, a ganhar à comissão, em fevereiro mudou para funções administrativas com um ordenado-base de 900 euros. Depois de seis meses em teletrabalho, sem subsídio de alimentação, em agosto não lhe renovaram o contrato. Sem o mínimo obrigatório de descontos, Susana Monteiro não tem direito ao fundo de desemprego. O montante do acerto de contas e de uma pequena indemnização dá para se aguentar até outubro.
Ao longo de todo este tempo, Susana sentia que precisava de ajuda, mas por ser “um pouco orgulhosa” e por achar que “há pessoas em pior situação” – “mesmo que tantas vezes não tivesse um tostão na carteira” –, ainda demorou a agir. Só depois de conversar com a mãe falou com a assistente social da zona de residência, no Campo Grande, em Lisboa. Entre receber refeições já prontas ou bens alimentares, optou pelo cabaz e, quinzenalmente, passou a ir buscar arroz, massa, enlatados, bolachas, farinha, cereais, azeite, chocolate, tostas. Os frescos (legumes, fruta, pão, leite e ovos) vêm com menos frequência, são um extra. Uma compra que no supermercado chegaria aos 50 euros.
Ao relembrar a primeira vez que foi recolher o cabaz, as lágrimas abafam-lhe as palavras. “A Covid até ajudou. O facto de ir de máscara e de não me expor… Dar a cara é muito complicado.”
Depois de já ter tido uma vida confortável, em que ia de férias e jantar fora em família, nos últimos meses, por diversas vezes, deixou de comer, ou por não ter fome ou para guardar a comida para a semana em que o filho estava consigo. Mais tranquila com a necessidade de ter de pedir ajuda – “até porque sei que não vai ser para sempre” –, está à procura de emprego com funções de secretariado ou administrativas em empresas de qualquer área: “Não tenho problema em aprender.”
Números
2 milhões
Portugueses
Este é o número de portugueses que vivem com menos de 450 euros por mês
2 mil
Pedidos de ajuda
Entre abril e maio, o Banco Alimentar chegou a ter dois mil pedidos de ajuda diários. “Nunca tinha acontecido”, assegura Isabel Jonet
840
Novas famílias
O número de quem pediu ajuda à Cáritas, entre maio e junho
Pedir ajuda no limite
Susana Monteiro é apenas uma entre muitos milhares de portugueses que, devido à pandemia, viram a sua vida de pernas para o ar, dificultada por uma vergonha que os impede de seguir em frente. “As pessoas da classe média são sempre as mais atingidas face à redução de rendimentos e à perda de postos de trabalho. Têm uma primeira atitude de achar que vai passar e não procuram de imediato a ajuda. Mas, à medida que o tempo passa, deixam de pagar os seus compromissos, de cuidar da saúde, e depois, em alguns casos, temos gente que reduz o número de refeições, só uma por dia ou fazem-nas com ingredientes menos nutritivos. Quando vêm pedir ajuda tudo está a chegar ao limite e o limite é mesmo o não ter nada”, descreve Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.
No início do confinamento, Rosa Silva levou várias noites sem dormir, com muita ansiedade. Aos 45 anos e com dois filhos de 8 e 14 anos, ambos com alguns problemas de saúde, a empregada de limpeza foi dispensada de todas as casas em que trabalhava na região de Óbidos. Até março, tinha as manhãs ocupadas e mais duas tardes, com seis “patroas” a pagarem-lhe seis euros por hora, o que dava para amealhar menos de um ordenado mínimo (€635) por mês. Sem trabalho, atrasou-se a pagar a luz, aprendeu a fazer render a comida, a ter sempre sopa no frigorífico. Com os miúdos em casa, sem computador, sem internet, sem impressora, Rosa viu-se aflita para dar resposta às solicitações das professoras com as aulas online.
Com a ajuda do diácono Raul Penha, dos Guias de S. Lourenço – grupo formado há 14 anos, atualmente a auxiliar 90 famílias, cerca de 500 pessoas –, o cabaz chega-lhe a casa sem grande alarido. A cada duas semanas recebe frutas, legumes, leite, azeite, atum, salsichas, massas, óleo, iogurtes, produtos de higiene. Também a Câmara Municipal de Óbidos distribui um vale para compras de €210, certo até outubro, prorrogável por mais três meses. “Se não fosse isto nem sei… Tinha de ir bater à porta da família, mas nem sempre podem ajudar, também têm tudo contado”, desabafa. Rosa Silva está à procura de trabalho e gostava de deixar as limpezas, mas sem turistas na vila de Óbidos fica difícil arranjar oportunidade na restauração ou hotelaria.
Pior do que em 2009
Pela segunda vez no século XXI o mundo está em pé de igualdade até nas desigualdades geradas por uma crise, primeiro sanitária, depois económica e social. Geralmente, são os trabalhadores por conta de outrem os que mais sofrem, embora esta crise tenha contornos diferentes dos de 2009-2013. Cabeleireiras, barbeiros, taxistas, artistas e técnicos culturais, juristas ou dentistas, são algumas das profissões mais prejudicadas, como enumera Eugénio Fonseca. “Na crise anterior, as pessoas que podiam comprar continuaram a aceder a estes serviços. Agora, a devastação das empresas familiares e das pequenas e médias empresas é maior porque foi muito repentina”, acrescenta o presidente da Cáritas.
Entre maio e junho, a Cáritas conseguiu apoiar 3 371 pessoas, perto de 840 novas famílias. O investimento próprio de 130 mil euros permitiu pagar a alimentação e muitas rendas de casa. Mas de fora ficaram mais 1 600 pessoas que, por falta de recursos financeiros, foram encaminhadas para outras instituições.
“Quem está necessitado agora, a pedir comida, nunca conviveu com uma situação de pobreza. É uma situação que lhe é estranha”, salienta Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome. “Temos de ter aqui amor e pessoas que os oiçam sem que se sintam penalizados por estarem a pedir ajuda. Não podem ficar em rutura total. Têm de ser ajudados a não precisar e a reorganizar a vida.”
Para Eugénio Fonseca, “só há vergonha em pedir ajuda porque a sociedade impôs um rótulo negativo sobre os pobres. Muitas vezes combate-se os pobres, em vez de se combater a pobreza.”
O Banco Alimentar, entre abril e maio, chegou a contar dois mil pedidos num só dia. “Foi uma avalanche. Nunca aconteceu”, assegura Isabel Jonet. Em 27 anos de trabalho com a comunidade e a criar uma rede alimentar, Isabel Jonet nunca viu nada assim, incluindo o “surpreendente” número de voluntários: 1 144 pessoas.
Com a pandemia, o padrão social também se alterou e, tal como é recorrente nas crises, o panorama de pobreza mudou. “Em Portugal, temos uma pobreza estrutural severa, com um milhão de pessoas a viverem com menos de €250 por mês e dois milhões com menos de €450 por mês. São sobretudo baixas pensões de reforma e de deficiência, são famílias que vivem no limite, muitas delas com o Rendimento Social de Inserção. A esta pobreza estrutural veio juntar-se a pobreza conjuntural. Na crise de 2009 tínhamos famílias sobre-endividadas que não ganhavam o suficiente para pagar os créditos. Agora, esta crise foi violenta por ser de um dia para o outro, literalmente”, analisa Isabel Jonet. Muitos profissionais liberais ficaram impedidos de trabalhar, como feirantes, personal trainers, empregadas domésticas, agentes culturais, fisioterapeutas – pessoas com as vidas equilibradas e com a expectativa de terem um determinado nível de vida. “São muitos os portugueses que não têm poupança, vivem com ‘chapa ganha, chapa gasta’. Qualquer pequena alteração ao rendimento causa uma perturbação enorme”, reconhece a presidente do Banco Alimentar.
Todas estas famílias, nos meses de confinamento, gastaram o dobro em despesas da casa, incluindo água, luz ou internet para quem esteve em teletrabalho e com os filhos em aulas online.
Nove pães por dia
Os franceses e os brasileiros eram os melhores clientes da Oficina do Barro, em Óbidos, onde Luiza Bento, 53 anos, trabalha há quase três décadas. Juntamente com outras artesãs, faz ao vivo a tradicional verguinha, o entrançado da cerâmica de Óbidos. Com o marido, 50 anos, assessor de imprensa em layoff (a receber apenas 66% do ordenado), mais os quatro filhos (dois de cada um, jovens com 16 e 20 anos) em casa, a fatura da luz nunca baixou dos 100 euros e o pacote de internet teve de aumentar para quase €70. Também a despesa do pão subiu. Até março, a padeira deixava-lhes à porta três pães por dia – com os quatro filhos em casa, esse número triplicou e a fatura duplicou de 18 euros para mais de €30.
Para Luiza, a dificuldade maior é ter de continuar a fazer novas peças de barro e tentar vendê-las. Cada peça vai ao forno três vezes, mas as vendas não chegam sequer para pagar a conta da eletricidade, cerca de €200 por mês, mais a compra dos materiais, o barro, o vidrado e as tintas. Num bom mês de agosto, Luiza chegava a vender €350 num dia; na véspera da visita da VISÃO, conseguiu €45 de três azulejos, um produto novo que faz para reinventar o negócio.
Com um orçamento mensal de €2 300, o casal tinha despesas fixas com a renda da casa (€550), o carro (€190), mas conseguia fazer férias em Portugal uma vez por ano e podia ir jantar fora e beber uma garrafa de vinho. Agora, esse valor tem de ser convertido em produtos de primeira necessidade. Depois de desabafar com o diácono Raul Penha, dos Guias de S. Lourenço, Luiza Bento chegou à conclusão de que precisava de ajuda para ter comida em casa para todos. “Pedir é um ato de humildade”, afirma sem embaraço.
Ao contrário, o marido tem vergonha da situação e só percebeu que Luiza pediu ajuda quando os sacos de comida apareceram lá em casa. Como forma de retribuir, tem feito voluntariado na hora de preparar os cabazes. Quando chegar o cheque da Segurança Social com €265, Luiza vai comprar uns ténis para o filho adolescente e pagar a fatura da luz em atraso. A seguir resta-lhe esperar pelo mês seguinte.
Sem concertos, sem dinheiro
Depois dos bares e das discotecas, que continuam sem qualquer sinal de poder abrir madrugada dentro, se há setor que se pode queixar é sem dúvida o cultural, com todos os seus intervenientes parados durante meses, mesmo no pós-confinamento, numa queda de atividade superior aos 80% e com taxas de desemprego acima dos 60%, segundo a Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos. O lento regresso dos espetáculos às salas e ao ar livre ainda não é suficiente para que todos retomem as suas receitas ao fim do mês.
João Ferreira, 43 anos, começou a trabalhar como técnico de som no boom dos festivais de música, dos concertos nos estádios, das queimas das fitas; mesmo as produções internacionais que atuavam em Portugal faziam-no com profissionais locais. Há 25 anos, ganhava 15 contos por dia.
Janeiro foi um mês sem trabalho, o habitual no calendário da sua vida. Em fevereiro ainda saiu de casa uma dezena de dias, mas assim que o País entrou em estado de emergência, de 18 de março até maio, o técnico de som não teve um único dia de trabalho. Viu o seu orçamento planeado até setembro desmoronar, percebeu logo que “o verão estava lixado”, mas estava a contar com o reembolso do IRS. Em janeiro tinha mudado de casa, arrendando uma que custa o dobro da anterior. Agora, o cheque que chega da Segurança Social com €550 vai direto para o senhorio.
Ao longo dos meses foi vendo a conta bancária sempre a reduzir e pensava que o que se seguiria seria dramático. “Se ganhar €3 000 por mês não os gasto. Aprendi com o meu pai a não fazer gastos desnecessários e assim conseguir um pé-de-meia”, conta. Em maio, João Ferreira retomou a atividade num dia com dois trabalhos, uma missa no campo de futebol e um live streaming no estúdio dos Xutos & Pontapés. Em junho, chamaram-no para desmontar um programa de televisão; em julho, com uma maior retoma de concertos, conseguiu trabalhar oito dias, quando o normal seriam 25; em agosto nada e, em setembro, pelo menos veio a Festa do Avante!.
Quando um dos mentores da União Audiovisual lhe falou do trabalho solidário da plataforma e da possibilidade de receber bens alimentares, João pensou que não podia aceitar, “devia haver quem precisasse mais”. E quando a poupança acabar? A resposta fê-lo aceitar o cabaz que ronda os €150 e traz leite, massas, arroz, feijão, azeite, legumes, produtos de higiene, detergentes, congelados, carne, ovos, queijo, fiambre, manteiga. “Preocupa-me mais saber se vai haver prolongamento do apoio da Segurança Social porque sei que, quando houver espetáculos, eu vou trabalhar.”
A União Audiovisual é uma ideia original de Hugo Carriço, técnico audiovisual, a quem se juntou, entre outros profissionais, Inês Sales, produtora de televisão. “Tivemos consciência das problemáticas do meio artístico e da extensão da pandemia. O meio audiovisual é sobretudo de freelancers, sem trabalho não há mesmo dinheiro”, explica Inês.
A 11 de abril, abriram a página no Facebook que conta agora com quase nove mil membros. Começaram por receber donativos em dinheiro, mas perceberam que o ideal era recolher bens alimentares e de primeira necessidade. Através das redes sociais, todas as semanas divulgam os locais onde estão a receber os produtos no Porto e Gaia, Coimbra, Oeste, Lisboa, Margem Sul, Alentejo, Algarve e Açores. Mais tarde, as entregas são feitas de modo discreto e o mais anónimo possível. A única condição é serem técnicos ou artistas: há famílias de circo, DJ, assistentes de iluminação, de áudio e de imagem, produtores, encenadores, atores, artistas, compositores… Só em Lisboa têm 20 voluntários por semana para preparar os cerca de 40 cabazes que alimentam à volta de 160 pessoas. No País, serão 100 a 120 cabazes todas as semanas.
Generosidade no futebol
Com todas as competições desportivas suspensas, o mundo do futebol também se viu em apuros, para fazer face à degradação que se instalou na vida de muitos jogadores. “Hoje tu, amanhã nós” é o lema da plataforma Futebol Para a Vida, criada a 14 de março para ajudar todos os futebolistas que ficaram sem rendimento, principalmente do campeonato de Portugal, logo abaixo da primeira e segunda divisões.
No meio desportivo era sabido que havia muitos colegas sem receberem ordenado, por isso Ibraime Cassamá, 34 anos, um dos capitães do Real Massamá, arregaçou as mangas e, com a ajuda de uma mão-cheia de colegas, entre eles Sandro Giovetti, antigo diretor desportivo do clube de Fátima, criou uma rede. Numa verdadeira cadeia de solidariedade, chegaram aos futebolistas profissionais e a Paulo Futre, em primeiro. Seguiram-se ajudas de muitos outros jogadores de renome internacional como Bruno Fernandes, João Félix, Quaresma, Rui Fonte, Wilson Eduardo, Éder e também de treinadores como Sérgio Conceição, Bruno Lage, Rúben Amorim ou José Mourinho. Com o contributo de todos, mais ou menos mediáticos, arrecadaram cerca de 40 mil euros que serviram para comprar comida e pagar despesas de renda de casa, água, luz e gás de quem pediu ajuda.
No pico do confinamento chegaram aos 400 pedidos e todos foram atendidos. A situação agravou-se ainda mais para os jogadores estrangeiros a jogarem em clubes nacionais. Além de terem sido dispensados, ficaram sem teto, habitualmente pago pelos clubes, assim como a alimentação. Funciona, na maior parte das vezes, como um complemento do ordenado que, no mínimo, anda entre 300 e 500 euros.
Só para trazer a equipa técnica e alguns jogadores brasileiros mais as suas famílias dos Açores, do Sport Clube Praiense, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, para Lisboa, gastaram quase seis mil euros. Também a alguns jogadores do União da Madeira – “abandonados” pelo clube e até metidos na rua pelos senhorios porque o clube deixou de pagar a renda – a plataforma providenciou as viagens da Madeira para Lisboa e para o Porto, de forma a que os profissionais pudessem regressar às suas casas.
Futuro negro
Não fosse a Covid-19 e Pedro Caetano, 60 anos, já não estaria desempregado, depois de ter trabalhado como gerente de uma pousada e a receber um parco subsídio de 300 euros. Aproveitando a mão para a cozinha da sua mulher, Isaura Santos, 57 anos, há um ano idealizaram a Bifanaria Portuguesa. Com a sua rulote percorriam tudo o que era feira, mercado e evento social a servir bifanas à moda de Vendas Novas e choco frito como o de Setúbal. “Não era uma vida abastada, mas era quanto baste, sem andar a contar tostões.” Num fim de semana de trabalho poderiam ter entre 200 e 400 euros só de lucro.
Com a pandemia tudo parou e as iniciativas sociais foram canceladas. Pedro e Isaura só voltaram a pôr a rulote a andar em julho, num único mercado. Mas, durante todos estes meses tiveram de continuar a pagar a renda da casa, que de forma voluntária a senhoria lhes permite pagarem só metade, mais as faturas de água, eletricidade, gás, televisão por cabo, seguro do carro, combustível e alimentação.
Foi depois de ver na televisão uma entrevista de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, a traçar o retrato do que se estava a passar no País, que Pedro decidiu pedir ajuda. “Reconheci-me no seu discurso e inscrevi-me no Banco Alimentar. Nós já tivemos boa qualidade de vida. Temos de nos adaptar e sem vergonha.” Menos pragmática, Isaura tem dificuldade em aceitar que os tempos são de crise e que os cabazes de bens alimentares são uma solução temporária
Casados há 37 anos, o casal conta com a ajuda dos dois filhos já adultos, sempre que estes convidam o irmão mais novo, de 14 anos, para uma temporada nas suas casas. Pedro e Isaura estão cientes de que serão os negócios ao ar livre que melhor sobreviverão. Assim que seja permitido realizar festas, feiras, mercados e afins, a Bifanaria Portuguesa tem todas as medidas de higiene e precaução preparadas para servir as bifanas e o choco frito.
Os próximos meses serão de pura incerteza, com a escalada garantida do desemprego. Em julho, segundo estimativa provisória do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego era de 8,1%, com 409 mil pessoas sem trabalho. “Com muitas moratórias a acabarem, há empresas que vão mesmo colapsar e o drama social vai ser muito maior. Vamos ter sinais daquilo que será a profundidade desta crise”, alerta Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas.
Já Isabel Jonet antecipa uma segunda vaga de novos pedidos. “Tenho muito medo do primeiro trimestre de 2021 porque, quando se começarem a vencer as moratórias, o próprio sistema bancário terá de ter uma resposta diferente. As pessoas não vão ter capacidade para recomeçarem a pagar. Têm de se acautelar ruturas sociais. Até na crise anterior, muitos jovens viram na ida para o estrangeiro uma solução para trabalhar; agora essa não é uma escapatória. A crise económica é transversal à Europa e ao mundo”, constata.
Também a União Audiovisual vai manter a sua rede até à próxima primavera. Inês Sales sabe que, “quando começar a chover e acabarem os poucos espetáculos de rua, estas pessoas não ganham nada.” Quem lhes vale?
Vai piorar?
O que a segunda vaga da epidemia fará à já desgastada economia nacional ainda se está para ver. Mesmo que o primeiro-ministro avise que não temos dinheiro para voltar a mandar toda a gente para casa. Mas já temos uma ideia da violência económica da primeira vaga da Covid-19
7%
O défice estimado pelo Governo para o ano de 2020. O Conselho de Finanças Públicas estima que o impacto da epidemia neste ano seja de 4,6 mil milhões de euros. Só a medida de layoff deverá totalizar uma despesa de mil milhões de euros.
-9,3%
Segundo o Conselho de Finanças Públicas, o Produto Interno Bruto nacional deverá recuar 9,3% em 2020 e demorará três anos a recuperar.
10%
A taxa de desemprego deverá ficar este ano nos 10%, aponta o Conselho das Finanças Públicas. Em 2019, foi de 6,5 por cento.
849
A 19 de setembro registaram-se 849 novos infetados pelo SARS-CoV-2. É o número mais alto desde o dia 10 de abril.