Secretária montada na sala, com luz natural como é aconselhável e um perímetro (mesmo que apenas uma mesa) dedicado somente ao trabalho. Francisco Taira está há precisamente 65 dias úteis – à data de fecho desta edição – em home office, e é possível que adote a prática quando terminar o Grande Confinamento. “Já tinha condições para o fazer, mas nunca o tinha experimentado durante tanto tempo”, começa por dizer à VISÃO. O research director na Carat admite que foram precisas algumas alterações para conseguir gerir a sua equipa de seis pessoas, mas o uso de tecnologias de contacto online permite tantas interações por dia quanto as necessárias. Contas feitas a estes dois meses, a produtividade até aumentou ligeiramente, sobretudo porque, em vez de demorar horas no trânsito de casa para o trabalho e no regresso, chega ao escritório nos dez segundos que demora a ligar o computador.

Mesmo que a emergência da pandemia tenha obrigado a trabalhar em condições que não são ideais – e o facto de ter dois filhos em idade escolar complicar a tarefa –, Francisco acredita que este é um caminho natural para as empresas com funcionários cujas funções possam ser desempenhadas remotamente. E não serão tão poucos quanto isso: segundo o Becker Friedman Institute, da Universidade de Chicago, 33,2% dos trabalhos em Portugal podem ser realizados à distância. É também o caso de Ana Guerreiro, que tem estado a habituar-se nas últimas semanas a um modelo híbrido – parte em trabalho remoto, parte indo à empresa. A flexibilidade de trabalhar a partir de casa é um ponto positivo para esta arquiteta paisagista no Horto do Campo Grande, que até chega a sentir-se mais produtiva – embora com os dois filhos em casa e o marido exclusivamente em teletrabalho nem sempre seja possível total concentração. Mesmo que se veja a fazer parte do trabalho à distância, a ida ao escritório será sempre importante, “para debater ideias com um colega, por exemplo”. E para uma profissão criativa como a sua, que exige o contacto com o exterior, é fundamental não estar sempre fechada entre quatro paredes, “para libertar a criatividade”.
É certo que vai ser preciso estabelecer regras muito claras para que este substitua ou complemente, de forma justa e saudável, o trabalho presencial, mas os especialistas acreditam que estamos perante um ponto de inflexão. Os primeiros sinais estão aí: na primeira quinzena de maio, 54% das empresas inquiridas pelo Banco de Portugal e pelo Instituto Nacional de Estatística tinham colaboradores a trabalhar a partir de casa. E nas primeiras semanas de confinamento, de acordo com um inquérito da Happiness Works (cujos resultados completos são divulgados na edição de junho da revista EXAME), 57% dos trabalhadores questionados diziam-se felizes ou muito felizes por estarem a trabalhar em casa. Ainda assim, a situação desagradava a um quinto. Na verdade, não deverá haver um teletrabalho, mas vários. Há funções cuja presença física na empresa é insubstituível e, nas outras, poderá haver a evolução para um sistema misto, parte presencial e parte remoto.
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