A pandemia da Covid-19 levou governos em todo o mundo a adotar fortes medidas de contenção com impactos negativos em quase todos os setores. A ciência não foi exceção. Com universidades, centros de investigação e laboratórios encerrados há praticamente dois meses, os investigadores tentam fazer de tudo para salvar os seus projetos. No entanto, acreditam que esta paragem pode ter ditado o fim para muitas investigações e adiado para os próximos meses ou mesmo anos vários trabalhos de pesquisa.
Nesta altura, a suspensão dos programas de financiamento é o que mais preocupa a comunidade científica, especialmente os investigadores em início de carreira que vêem assim a sobrevivência dos seus projetos colocada em causa, ao mesmo tempo que crescem as incertezas relativamente ao futuro. “Podemos perder toda uma geração de investigadores por causa disto” alertou Cullen Taniguchi, professor do Centro de Oncologia da Universidade do Texas, nos EUA, em entrevista ao site de notícias STATNews.
Perante estes novos desafios, a comunidade científica internacional continua a procurar soluções para apoiar os investigadores em todo o mundo e minimizar os riscos para a ciência. Várias universidades e institutos estão nesta altura a promover, entre as equipas de investigação, formas alternativas de trabalho a partir de casa e férias remuneradas a todos os cientistas cujos trabalhos laboratoriais foram interrompidos, segundo a Nature. Por exemplo, em Londres, a Wellcome, uma fundação privada que apoia o desenvolvimento científico, continua a financiar todas as bolsas de estudo dos seus programas de investigação e, além disso, está ainda a atribuir subsídios aos cientistas que apresentam licenças médicas ou que estão neste momento tão particular a cuidar dos seus familiares.
Ao mesmo tempo, multiplicam-se entre estes profissionais formas alternativas de trabalho e comunicação entre os pares. É o caso dos investigadores do Associação Europeia de Investigação em Cancro. Isolados há praticamente um mês, os cientistas desta instituição procuram permanecer conectados virtualmente através de várias reuniões diárias que servem para acompanhar o trabalho dos colegas e fazer avançar todos os projetos que nesta altura não apresentem limitações físicas. Aliás, esta é uma realidade partilhada por grande parte das instituições científicas de todo o mundo, com exceção dos projetos que procuram atualmente uma cura para a Covid-19.
No entanto, instituições como o centro de pesquisas para o cancro, no Reino Unido, começam já a sentir dificuldades no financiamento dos projetos. Acredita-se que esta instituição, que financia mais de metade de todas as pesquisas feitas no país sobre o cancro, tenha sido forçada a cortar até agora mais de 44 milhões de libras nos seus programas de investigação e, sem a ajuda do governo, preveem-se ainda mais cortes, segundo avançou o cirurgião oncológico Ara Drazi numa carta publicada pelo diário britânico The Guardian.
A comunidade científica internacional apela aos governos, universidades e laboratórios de todo o mundo para que não sejam esquecidas as investigações que procuram dar diariamente respostas a outros problemas e doenças como por exemplo o cancro. É certo que bombeiros, médicos, enfermeiros, profissionais de saúde estão nesta altura na linha da frente da pandemia. No entanto, são os cientistas que continuam a permanecer no centro da solução para esta pandemia. Mais do que nunca é importante investir no desenvolvimento científico, mesmo depois da Covid-19, alertam os cientistas.