Rita Ferro Alvim estava habituada a fotografar famílias no Dia da Mãe. Este ano, devido à pandemia da Covid-19, tudo se preparava para ser diferente. No máximo, iria fotografar a sua própria família, na sua casa, em Cascais, cumprindo assim as obrigações de confinamento impostas pelo estado de emergência. Até que uma amiga lhe mostrou o projeto de umas australianas e foi como se se tivesse feito luz. E se fizesse o mesmo aqui, em Portugal? Assim nasceu o movimento “Retratos à Porta”, “um presente de Dia da Mãe em tempos de quarentena”.
“À conversa com uma grande amiga percebi que, não o podendo fazer numa praia ou num jardim, o posso fazer à distância (viva as lentes) e na minha vila. (…) É um presente meu para vocês”, anunciou Rita Ferro Alvim na sua página de Instagram.
As mães que quisessem participar deveriam inscrever-se por email, indicando a morada e o telefone. A fotógrafa e criadora da revista Tribo e do projeto “A Caravana” deslocar-se-ia à porta das suas casas e, com a devida distância imposta pelo isolamento social, faria o retrato da família. Gratuitamente. Seriam cinco minutos em cada porta.
Mas a fotógrafa continuava com uma limitação: devido às restrições à circulação neste fim-de-semana prolongado, não poderia sair do concelho de Cascais, onde reside. Rita Ferro Alvim decidiu então convidar vários fotógrafos e fotojornalistas e foi assim que o seu projeto “Retratos à Porta” se transformou num enorme movimento nacional que pôs mais de três dezenas de fotógrafos a fotografar famílias à porta das suas casas para assinalar o Dia da Mãe, que se celebra este domingo, 3 de maio.
“Não estava à espera desta loucura dos #retratosàporta. Nem desta adesão de fotógrafos, nem de tantas famílias a quererem ir até à sua porta”, escreveu a autora do projeto.
Fotógrafos de casamentos sem casamentos para fotografar. Assim nasceu o 40.40.40
Uma das fotógrafas que aderiu ao movimento foi Adriana Morais, que ficou a assegurar os retratos nas zona de Arroios, Estefânia e Saldanha, em Lisboa. Em pouco tempo, recebeu 18 pedidos de marcações.
Curiosamente, a fotógrafa que nos últimos anos se especializou em fotografias de casamentos, também está envolvida noutro projeto que surgiu neste período de quarentena: o 40.40.40, que, diz a página de Instagram, “reúne em 40 dias de quarentena 40 histórias através do olhar de 40 profissionais de fotografia e vídeo da área dos casamentos, para manter ativa e unida a sua paixão”.
A ideia partiu do fotógrafo Pedro Vilela, que também se dedica à fotografia de casamentos. “Desafiei 40 colegas de profissão, fotógrafos e videógrafos. A ideia surgiu em conversa com outro amigo fotógrafo. Não sei se esta história é verdade ou não, mas li que a palavra quarentena tinha aparecido em Itália porque os tripulantes e passageiros dos barcos que chegavam a Veneza tinham de cumprir 40 dias de isolamento (aconteceu durante a Peste Negra, no séc. XVII). Daí a ideia de brincar com a palavra e juntar 40 profissionais em 40 histórias, uma por dia na nossa página de Instagram”, conta à VISÃO.
Inspirado pelo que os músicos também fizeram, o fotógrafo também quis dar voz aos profissionais de casamentos que neste momento estão com a agenda parada devido aos impedimentos de ajuntamentos de muitas pessoas e à suspensão de muitos voos. “Queríamos dizer: agora vamos parar, mas também continuamos criativos”, diz Pedro Vilela, que tratou dos convites e trata de gerir as publicações “sem qualquer censura”. “É um projeto sem grandes pretensões. A única coisa que queria era desafiar os amigos da profissão e talvez criar um movimento. O que vejo é que cada um traz para o projeto os seus seguidores.”
Com liberdade para escolherem como queriam retratar este período em que as celebrações estão em suspenso devido ao estado de emergência – podia ser por fotografia, vídeo, texto ou até música -, Adriana Morais optou por retratar, na sua própria casa, como seria o dia de uma noiva em tempos de pandemia. “Uma fotógrafa com saudades de fotografar casamentos e com o coração apertado a pensar nos casais que tiveram que adiar o seu casamento. Uma fotógrafa que se vestiu de noiva e que recriou as tarefas do dia-a-dia, enquadradas no isolamento que vivemos.” Nestas fotografias, Adriana Morais faz o duplo papel de fotógrafa e fotografada e aparece vestida de noiva (encomendou mesmo um vestido) a varrer, a passar a ferro ou a regar as plantas.