As mulheres em Portugal recebem, em média, uma remuneração base inferior à dos homens e a diferença salarial é mais acentuada nos quadros superiores e nos profissionais altamente qualificados, confirmam dados da Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, revelados a propósito do Dia Internacional da Mulher.
A disparidade salarial entre homens e mulheres no ganho médio mensal é de 27,3% nos quadros superiores e de 20,9% nos profissionais altamente qualificados. Quando considerado o ganho efetivo, incluindo subsídios, prémios e horas extraordinárias, essa diferença é ainda maior.
A disparidade salarial entre homens e mulheres no ganho médio mensal é de 27,3% nos quadros superiores
Dados de 2017 revelam que Portugal ocupava o 7.º lugar no ranking dos países com maior disparidade salarial entre sexos, entre os 27 países da União Europeia. Estónia, República Checa e Alemanha lideram este top, sendo os menos desiguais Roménia, Luxemburgo e Itália.
Apesar de tudo, em Portugal parece estar a fazer-se algum caminho: olhando para os dados de 1985 a 2018 há oscilações, mas este último ano foi o que registou menor discrepância.
Se na maioria dos casos mulheres e homens já fazem o mesmo trabalho (embora com retribuições diferentes), ainda há profissões que permanecem maioritariamente masculinas, como é o caso das polícias ou dos deputados da Assembleia da República – em 2019, as mulheres representam menos de três quintos do total de deputados, apesar do crescimento contínuo nos últimos atos eleitorais.
Outras profissões continuam a ser maioritariamente femininas, como as educadoras do ensino pré-escolar, mas as mulheres já superam o número de homens em várias carreiras, havendo por exemplo mais médicas, advogadas e magistradas neste momento.
Os homens continuam a encontrar trabalho mais facilmente do que as mulheres, mas a diferença tem vindo a esbater-se. Entre 1983 e 2018, a taxa de emprego dos homens passou de 70% para 60% e, nas mulheres, de 43% para 50%, embora muitas trabalhem a tempo parcial.
E quem lidera o ranking demográfico? Atualmente nascem mais rapazes do que raparigas. Em 2018, por cada 100 raparigas nasceram 104 rapazes, mas há mais mulheres que homens a partir do grupo etário dos 25 aos 29 anos (por cada dez mulheres existem nove homens) e a superioridade do número de mulheres aumenta à medida que se avança na idade.
As mulheres vivem em média mais tempo e, quer à nascença, quer aos 65 anos, a esperança de vida é maior. No entanto os anos esperados de vida saudável das mulheres aos 65 anos é menor que os dos homens. Dados referentes a 2017 revelam que eles vivem oito anos sem limitações ou incapacidades enquanto a estimativa para elas é de sete anos.
Esta é uma realidade muito diferente da verificada noutros países europeus. Na Suécia, por exemplo, uma mulher de 65 anos pode esperar viver 16 anos sem limitações ou incapacidades (e o homem 15 anos).
Relativamente à escolaridade, os dados revelam que as raparigas entre os 18-24 anos abandonam menos a escola do que os rapazes e, ao nível do ensino superior, continuam em maioria. As mulheres ultrapassaram os homens no número de matriculados no ensino superior em 1986, e no número de doutoramentos em 2006.
Entre 1974 e 2019, o número de empregadoras também aumentou substancialmente (mais de 6 vezes), enquanto o dos homens registou um acréscimo mais ligeiro (não chegou a duplicar). Em 2019 só 32% dos empregadores eram mulheres mas, ainda assim, Portugal ocupava o 2.o lugar no ranking dos países com maior peso feminino no total dos empregadores, apenas ultrapassado pela Croácia (33%).
Entre 1974 e 2019, o número de mulheres empregadoras aumentou mais de 6 vezes
No que diz respeito à constituição de família, nascem cada vez mais bebés de mulheres não casadas e estes casos estão, aliás, em maioria no nosso país desde 2015. No contexto dos países da União Europeia esta tendência ainda não é a norma, fazendo Portugal parte de um grupo de sete países com esta realidade, com França a liderar, com sete em cada dez mães a não serem casadas.
Entre 2005 e 2018, o número de famílias com um só adulto a viver com crianças ou filhos não activos (até aos 25 anos) aumentou de 107 mil para 191 mil. Esse adulto, em 88% dos casos, é uma mulher.
Nas casas onde a mãe também tem de ser pai há necessidades acrescidas, e de várias ordens. Em 2018, e após transferências sociais, em cada 100 mulheres 18 são ainda consideradas pobres (17,9%), quando nos homens a incidência é ligeiramente inferior (16,6%). Portugal ocupa a 12.a posição dos países europeus com maior risco de pobreza para as mulheres.