Foi aberto um novo capítulo nos esforços dos especialistas em imunoterapia para combater o cancro. Agora, os cientistas garantiram a segurança da combinação de duas abordagens de ponta: o CRISPR, sigla em inglês para um tratamento que “edita” o ADN, e a terapia com células T, em que as “sentinelas” do sistema imunitário são desenvolvidas para destruir tumores.
A novidade foi divulgada esta semana no site da revista Science, com um pressuposto duro, mas que é norma em investigações clínicas de terapias inovadoras. Os três pacientes que aceitaram submeter-se ao ensaio – duas mulheres e um homem, todos na casa dos 60 anos – estavam extremamente doentes, com mielomas múltiplos (cancro dos plasmócitos, glóbulos brancos responsáveis pela produção de anticorpos) e sarcoma (um dos tipos de cancro que mais metástases provocam). Uma das mulheres morreu enquanto algumas das suas células estavam em laboratório, a receber alterações pelo tratamento CRISPR. Nos outros dois pacientes, a doença piorou.
Mas sabia-se, à partida, que os benefícios para aqueles doentes seriam limitados. O ensaio clínico, devidamente fiscalizado pelas autoridades americanas, não tinha como objetivo tentar curar o cancro, salvaguarda o imunologista e oncologista Carl June, da universidade da Pensilvânia, e que co-liderou a pesquisa em causa. O que se pretendia, isso sim, era demonstrar que as terapias genéticas contra o cancro eram viáveis e, sobretudo, seguras. Entre os doentes que participaram no ensaio, nenhum sofreu efeitos secundários na sequência dos tratamentos experimentais que lhes foram aplicados.
“Este é um rubicão que foi decisivamente transposto”, diz Fyodor Urnov, especialista em genoma humano, da Universidade da Califórnia. O estudo agora divulgado, diz Urnov, “responde às perguntas que nos assombravam”.