A China quis deixar de ser a derradeira morada para o lixo estrangeiro e impôs regras para a importação de materiais destinados à reciclagem. Resultado? O problema no tratamento do lixo cresceu exponencialmente nos EUA e ameaça algumas populações.
A cidade de Chester, perto de Filadélfia (Estado da Pensilvânia), é uma das comunidades com um grande peso a mais. A gigante Covanta (incineradora) passou a receber 200 toneladas de materiais recicláveis todos os dias.
Para refrear a entrada de lixo, a política chinesa impôs condições que muitas cidades americanas não conseguem cumprir, como enviar os materiais limpos e separados. Assim, desde o início de 2018 que mais de duas dezenas de items recicláveis só podem entrar na China se cumprirem esses termos. A consequência tem sido que milhares de toneladas são agora enviadas para aterro ou para as incineradoras em vez de serem recicladas.
E se os 34 mil habitantes de Chester já lutavam contra uma atmosfera pesada devido aos trabalhos da incineradora – quatro em cada 10 crianças têm asma, o rácio de cancro nos ovários é 64% superior ao resto da Pensilvânia e o cancro do pulmão 24%, o que os especialistas atribuem à fraca qualidade do ar – passaram ter condições ambientais ainda piores devido à libertação de toxinas causadas pela queima de plásticos.
“As pessoas de Chester sentem-se desesperadas – tudo o que querem é que os seus filhos saiam daqui, que fujam. Porque é que podemos ser dispensáveis? Porque é que este lugar tem de ser sobrecarregado com o lixo e a porcaria os outros?”, diz, ao The Guardian, Zulene Mayfield, uma residente que organizou um grupo de pessoas para lutarem pela qualidade de vida na localidade.
Na incineradora Covanta, apenas uma pequena parte do que é queimado é, realmente, da cidade de Chester, a maioria do lixo chega em camiões ou comboios de sítios distantes.
A queima de lixo liberta vários poluentes – óxidos de nitrogénio, dióxido de enxofre e partículas que, uma vez inalados, causam vários problemas de saúde – e, por isso, Claire Arkin, da Aliança Global para uma Alternativa às Incineradoras, diz ao mesmo jornal que “este é o momento de os EUA fazerem uma avaliação” destes trabalhos, já que “muitas das incineradores estão envelhecidas, nas suas últimas etapas de vida e sem os controles de poluição mais atuais”.
Até há pouco tempo, a China recebia cerca de 40% do papel, plásticos e outros materiais recicláveis dos EUA, mas desde que foram impostas as novas condições esse número baixou muito e as autarquias vêem-se a braços com um problema de logística, mas, também, orçamental. O custo da reciclagem passou a ter “um grande impacto nas contas da cidade”, refere um porta-voz do mayor de Filadélfia. Agora, metade do que deveria ser reciclado está simplesmente a ser queimado.