“Vivemos tempos complexos e é preciso ter a noção que uma atitude destas por parte da estação em causa [TVI] não é muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver as labaredas”.
“Os programas “Você na TV!” e “SOS 24”, nos canais TVI e TVI24, respetivamente, deram voz a um racista explícito e um salazarista assumido, que defende o regresso de Portugal à ditadura e a quem foi dada a oportunidade de se dedicar ao branqueamento histórico, em sinal aberto e para um grande público, com pouco ou nenhum contraditório.”
Foi assim que o ministro da Defesa, João Cravinho, e o Sindicato dos Jornalistas reagiram respetivamente – à presença de Mário Machado no programa da manhã da TVI, “Você na TV”, apresentado por Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes
O programa, emitido ontem, tinha uma rubrica em que o tema era pergunta “Precisamos de um novo Salazar?”.
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social confirmou que recebeu “participações que visam o programa” e que as mesmas “serão apreciadas pelos serviços nos trâmites habituais”.
Mário Machado foi líder da Frente Nacional, grupo neonazi já extinto, fundador da organização de extrema-direita e skinheads “Portugal Hammerskins” e agora lidera o movimento ultranacionalista Nova Ordem Social. Esteve preso, no total, cerca de 12 anos e meio por crimes como discriminação racial, posse de arma, ameaça, coação e agressão. Em 1997, foi condenado a quatro anos e três meses de prisão por envolvimento na morte, por espancamento, de Alcino Monteiro, português de 27 anos com origens em Cabo Verde, no Bairro Alto, em Lisboa.
Mário Machado esteve no programa da TVI para falar sobre a pergunta da rubrica denominada “Diga-me de sua (In) Justiça”, coordenada por Bruno Caetano, que a TVI identifica como repórter.
O Sindicato dos Jornalistas “considera inqualificável o tempo e o espaço concedido” e vai, segundo o comunicado colocada no seu site, “apresentar queixa contra a TVI” junto da ERC e “da Assembleia da República”. Vai, também, pedir à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista “que avalie eventuais procedimentos disciplinares” no sentido de esclarecer a TVI sobre a “indevida utilização” da palavra “repórter”.
Manuel Luís Goucha disse ao Público que a escolha de levar Mário Machado ao programa não foi sua, mas de Bruno Caetano, e que esta “é uma oportunidade de ouro para confrontar argumentos e ideias. Chama-se a isso viver em democracia”. O apresentador diz que foi ele que pediu a sondagem – nos resultados apresentados, 62% disseram que não (precisamos de um novo Salazar) – e que não branqueia “ditaduras nem ditadores, nem de direita nem de esquerda, mas a ideologia do politicamente correto é perigosa.”