1. CHANDIGARH
Punjab/Haryana
Uma meca da arquitetura
Tem um lago artificial desenhado por Le Corbusier e um parque que mete o Güell num chinelo
Eram cinco da manhã, quando acordei com o telefone a tocar. “Jorge? Estás a dormir? Desce depressa, tenho uma surpresa para ti!”
Pouco depois, ainda meio atordoado, estava sentado no “lugar do morto” de um carro europeu, guiado por um adolescente hiperativo que conhecera na tarde anterior. O Raj era um príncipe do Rajastão – neto de marajás, com sangue azul e brasão – e tinha “engraçado” comigo, queria mostrar-me a sua cidade. A uma velocidade louca, chegámos a um parque florestal e caminhámos no escuro até perto de um espelho de água, onde assistimos a um nascer do Sol incrível.
“Chama-se Sukhna”, explicou-me, “e é um lago artificial com três quilómetros quadrados, criado em 1958 por Le Corbusier, o arquiteto franco-suíço que projetou Chandigarh”.
Construída de raiz, a capital dos estados Punjab e Haryana é hoje uma meca para os amantes de arquitetura, com os seus edifícios modernistas e brutalistas. É a cidade mais organizada, rica, limpa e segura da Índia. E, entre dezenas de parques (incluindo o maior jardim de rosas da Ásia), destaca-se o Nek Chand Rock Garden, uma excentricidade made in Índia que faz do Parque Güell, em Barcelona, um lugar “monótono”.
Com 160 mil metros quadrados, o jardim Nek Chand Rock é composto por labirintos e passagens secretas, pontes, túneis e pátios, milhares de esculturas feitas em todo o tipo de materiais. Um País das Maravilhas com um twist indiano, e onde terminou o intenso dia que passei com o Principezinho Hiperativo.
2. AURANGABAD
Maharashtra
Como um cenário
de Indiana Jones
Entre ruínas e templos escavados na rocha, há uma deliciosa réplica do Taj Mahal construída no séc. XVII
Intenso foi também outro despertar, uns anos antes dos dias que passei em Chandigarh – quando, depois de uma noite inteira a viajar de autocarro, acordei e descobri que estávamos parados na berma da estrada. Aparentemente, porque durante a noite o condutor tinha-se perdido.
“É a primeira vez que faz esta rota”, disse alguém com a maior naturalidade.
Ou seja: foi preciso esperar não sei porquê, ou por quem; e, quando mais tarde parámos em Aurangabad, estava tão cansado que decidi ficar ali um dia. Não era suposto, mas fiquei – e ainda bem. Porque, além de visitar fantásticas ruínas de templos e muralhas, descobri o surpreendente Bibi Ka Maqbara, uma deliciosa réplica do Taj Mahal construída no séc. XVII, por um filho do imperador Aurangzeb, e dedicada à sua mãe.
No entanto, as maiores “atrações” de Aurangabad nem ficam em Aurangabad. Por isso, enfiei-me num Ambassador branco e fiz 30 km até às espetaculares grutas-templo de Ellora, escavadas entre os sécs. IV e VII. O templo principal, por exemplo, foi esculpido no maior monólito do mundo, e parece o cenário de um filme de Indiana Jones.
Depois fui a Ajanta, um pouco mais longe – e aqui explorei três dezenas de templos escavados por monges budistas, no séc. II a.C. –, nas escarpas de um desfiladeiro. Que lugar!
Voltei a Aurangabad várias vezes, ao longo das minhas idas e vindas à Índia. E confesso que nunca deixei de me impressionar com a paisagem e o património histórico desta zona.
3. THRISSUR
Kerala
A festa dos elefantes
Para o ano, o Thrissur Pooram calha a 13 de maio – é marcar já a viagem e preparar-se para um dia muito intenso
E porque estamos a falar de “uaus!”, não podia ignorar esta cidade no estado de Kerala – que, para ser sincero, nem sequer visitei como deve ser. Hoje, sei que Thrissur tem muitos templos, igrejas e catedrais impressionantes, museus e até um jardim zoológico. Mas quando lá estive, em 2015, no arranque da minha viagem de Vespa pela Índia, celebrava-se o Thrissur Pooram, um festival hindu que junta centenas de elefantes e milhões de devotos em transe – e pouco mais visitei do que a zona em redor do Templo de Vadakkunnathan, onde se realiza todos os anos este louco evento.
“Isto tem tanto de Woodstock como de 13 de maio em Fátima”, escrevi nas minhas notas, depois de assistir a uma frenética, colorida e confusa sequência de procissões, orações e concertos, ao longo de um dos dias mais intensos da minha vida.
4. AMRITSAR
Punjab
Ver fechar
uma fronteira
O Paquistão fica mesmo à beirinha
desta cidade que é o centro espiritual
e cultural da religião Sikh
Outro evento impressionante, mas que se repete todos os dias antes do pôr do Sol, é a cerimónia de encerramento da fronteira de Wagah, entre a Índia e o Paquistão. O ambiente que rodeia este acontecimento é tudo menos formal: há bancadas de ambos os lados da fronteira e milhares de pessoas concentram-se aqui diariamente para “puxar” pelo seu país. Parece um jogo de futebol, com o público a vibrar com o fechar dos portões, o baixar da bandeira e o render da guarda, numa sequência de coreografias que, por vezes, me fazia lembrar os Monty Python.
E como se não bastasse todo este colorido, a fronteira fica nos arredores de Amritsar, a cidade que é o centro espiritual e cultural da religião Sikh, e que se orgulha de ter um dos templos mais bonitos da Índia. Construído em 1601, o Templo Dourado é um lugar com uma energia muito especial, muito zen, apesar de estar sempre lotado de peregrinos e curiosos.
5. BODHGAYA
Bihar
Sob a árvore de Bodhi
O lugar mais sagrado para os budistas tem gers mongóis, palácios tibetanos, mosteiros birmaneses e palácios tailandeses
Já que falamos de energias, passemos a Bodhgaya, pois este é, de todos os lugares que conheço no mundo, aquele em que senti uma energia mais forte. É arrebatador – nunca me hei de esquecer da manhã que passei a caminhar em volta do Templo de Mahabodhi, em que fui assaltado por todo o tipo de emoções: chorei, ri, suspirei… só porque sim. Foi aqui que, há quase 2 600 anos, o príncipe Siddhartha atingiu a Iluminação, sentado sob a árvore de Bodhi – e, por isso, é o lugar mais sagrado para os budistas de todo o mundo.
Além deste templo, que é naturalmente o epicentro de todas as peregrinações e orações e meditações, a cidade está literalmente apinhada de mosteiros, estátuas de Buda, monges, turistas e bancas a vender todo o tipo de parafernália religiosa e/ou supersticiosa.
E porque chegam, todos os dias, peregrinos vindos de todos os cantos do mundo budista, cada templo tem uma arquitetura muito própria, com a identidade do país que o projetou. Há, em Bodhgaya, gers mongóis, palácios tibetanos, mosteiros birmaneses e palácios tailandeses… e isso dá à cidade um toque muito, muito especial.
Só mais cinco…
Fazer um best of é sempre uma tarefa um tanto ou quanto inglória, pois há sempre o risco de deixar algo valioso para trás. No caso da Índia, nem vale a pena dramatizar. Como já mencionei, este país é uma “mina”. E se a VISÃO me pedisse mais cinco “diamantes”, não teria dificuldade em encontrá-los: da monumental Hampi, com as ruínas de uma das mais ricas civilizações indianas, aos templos de Khajuraho, que dizem ter inspirado o Kama Sutra; de Coonoor ou Munnar, com as suas plantações de chá e casas coloniais, a Dharamsala, rodeada pelos Himalaias, onde o Dalai Lama está exilado; ou Cochim, com a sua mistura de influências coloniais, por onde passaram portugueses, holandeses, chineses, e onde chegou Vasco da Gama, em 1498… e onde comecei a minha aventura de Vespa. Já estão cinco? Mas lembro-me de mais cinco. E mais cinco. E os que forem precisos. Madurai, Orchha, Konark, Mysore, Darjeeling, Mandu, Bishnupur, Gingee… Alguém me pare, se faz favor, que não consigo.