A Casa de Saúde da Idanha, em Belas, é o primeiro estabelecimento em Portugal a receber Paro – ou Amália. Na verdade, até pode chamar-lhe outra coisa, porque ele vai aprender o novo nome, após algumas repetições. É uma foca-robô com inteligência artificial, criada, entre outras razões, para melhorar a qualidade de vida de pessoas com demência. É para isso mesmo que vai começar a ser usada na Unidade de Gerontopsiquiatria e Reabilitação Cognitiva da Casa de Saúde.
“As pessoas com demência têm comportamentos e sintomas muito específicos e é fácil perceber a diferença que há antes e depois da interação com Paro”, refere Takanori Shibata, investigador japonês e criador do robô. Paro reage ao toque, à luz e ao som, expressa emoções, abre e fecha os olhos e move a cabeça e as barbatanas. Em pessoas mais velhas com demência, onde se vê um declínio acentuado das funções cognitivas, como a perda da capacidade de comunicação, pode ajudar a reduzir a ansiedade e a agressividade, principalmente no fim do dia, altura em que os doentes ficam mais agitados.
Para que isso aconteça, basta que Paro seja aceite pelas pessoas porque, se assim for, os resultados são quase imediatos. “Se elas não interagirem com o robô, claro que não vai ter qualquer efeito terapêutico”, diz. Mas quando os doentes o abraçam, por exemplo, essa interação física tem efeitos muito rápidos.
Nos EUA, Paro é considerado um dispositivo médico há quase dez anos. Por cá, o criador diz que, passo a passo, vai ser possível incluir o robô em cuidados de saúde ainda durante este ano. “Estamos, neste momento a fazer o registo de Paro na Europa mas precisamos de ter algum tempo para a sua produção “, refere.
Terapia animal…robotizada
São chamadas Terapias Assistidas por Animais, algumas delas com cães, outras com cavalos, que costumam ter resultados muito positivos. Isto porque as pessoas se sentem confortáveis com animais, confiam neles. O mesmo efeito acontece com Paro: quando lhe falam e ele reage de forma positiva, essa ação vai despertar nelas sentimentos prazerosos e de bem-estar.
Mas, de acordo com o criador, Paro vem colmatar algumas restrições que esse tipo de terapias com animais reais tem. “Há alguns que podem sentir-se stressados quando estão em terapia com os doentes e há sempre o risco de alguma coisa correr mal, de eles agirem de forma agressiva, por exemplo”, diz. No caso de Paro, ele nunca se revolta: mesmo que as pessoas sejam agressivas, ele apenas se retrai.
Um substituto da medicação…mas total?
Apesar de Paro conseguir fazer com que se reduza a medicação dada aos doentes com demência, não pode ser um substituto total. “O robô não vai poder substituir a medicação e a intervenção técnica porque é uma ferramenta terapêutica que vai atuar apenas sobre as áreas definidas e após avaliação da equipa multidisciplinar”, refere Ana Antunes, psicomotricista da Unidade de Gerontopsiquiatria da Casa de Saúde da Idanha. “É importante deixar presente que a roboterapia, como intervenção não farmacológica, deve complementar sempre a terapêutica farmacológica”.
Na opinião de Takanori, a “combinação perfeita” é utilizar o Paro, que consegue reduzir muita medicação, em harmonia com alguns medicamentos que o doente realmente necessita.
A vinda do robô para Portugal é, segundo Ana Antunes, “uma responsabilidade acrescida” já que, no nosso país, este é um projeto inovador, ainda sem resultados nacionais. A profissional acredita que este tipo de terapêutica vai impulsionar a investigação e validação da robótica em casos de demência.