A maioria das mães humanas escolhe o braço esquerdo para pegar nos seus filhos ao colo. A tendência é conhecida e observada há muito tempo, com vários estudos a apontarem uma explicação óbvia para a preferência dessa posição: o facto de o bebé ficar no campo visual esquerdo favorece o processamento do hemisfério direito, ajudando à comunicação entre ambos.
O mesmo já se observara em relação a grandes primatas, como os chimpanzés e os gorilas. Mas um novo estudo, realizado na Universidade Estatal de São Petersburgo, na Rússia, e divulgado esta quarta-feira, 10, na publicação científica Biology Letters, encontrou essa preferência também entre morsas do Pacífico (Odobenus rosmarus divergens) e morcegos raposas voadoras (Pteropus giganteus), sugerindo que o fenómeno é mais generalizado do que se julgava.
“Os nossos resultados sugerem uma origem antiga para esta tendência”, diz Andrey Giljov, um dos autores, investigador do departamento de Zoologia dos Vertebrados.
Neste estudo, Gilvov e os seus dois colegas, Karina Karenina e Yegor Malashichev, lembram que o hemisfério direito tem um papel crucial numa variedade de tarefas de cognição social, que vão do reconhecimento facial e emocional à coordenação espacial e à aprendizagem social. “Mãe e filho, usando ambos o campo visual esquerdo, podem, portanto, conseguir uma perceção ótima um do outro, providenciada pelo fluxo de informação entre os seus hemisférios direitos.”
As morsas (mães com crias de 4 a 15 meses) foram observadas enquanto descansavam na água, junto à margem, a partir de um penhasco na ilha Kolyuchin, no mar de Chukchi, na Rússia. Os investigadores usaram fotografias para identificar os indivíduos e filmaram discretamente os reencontros, verificando como se colocavam quando a mãe “abraçava” o filho ou quando este mergulhava para mamar.
No caso dos morcegos (mães com crias de 5 a 6 meses), a observação foi feita no Sri Lanka, perto do Parque Nacional de Udawalawa, onde duas colónias desta espécie viviam numa árvore. Com a ajuda de binóculos, os investigadores identificaram cada um dos pares, filmando as suas interações. Também foi contabilizado o tempo que os filhotes se mantinham agarrados às mães, a mamar.
Note-se que tantos as crias de morsas como de morcegos também procuravam predominantemente ficar com as mães do seu lado esquerdo.
A preferência poderá também ter a ver com o nosso lado esquerdo ser mais expressivo, já se concluiu em estudos anteriores. “A mãe é mais eficiente, rápida e exata a observar o bem-estar do bebé se ele estiver no seu campo visual esquerdo”, disse num estudo anterior, a neurocientista Gillian Forrester, do departamento de Psicologia da Universidade de London.
Concluindo, colocar os bebés à nossa esquerda não só é natural como tem vantagens. E não somos os únicos mamíferos a fazê-lo.