Emanuel Martins, presidente da Fundação O Século desde a sua constituição, em 1999, foi um homem de vários ofícios ao mesmo tempo.
Prestes a completar 66 anos, neste sábado, Dia de Reis, viu ontem a PJ entrar na instituição que lidera para cumprir “mandados de busca e apreensão […] no âmbito de processo de Inquérito, no qual se investigam, nomeadamente, a prática de condutas ocorridas entre 2012, até à presente data, suscetíveis de integrar a prática dos crimes de peculato e de abuso de poder”, refere o comunicado da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. Foram aprendidos documentos financeiros e atas.
Em causa estarão a utilização dos cartões de crédito para fins pessoais e a contratação de familiares.
Emanuel Martins diz à VISÃO que não foi constituído arguido e está de consciência tranquila sobre tudo o que fez até agora. A PJ levou o “que entendeu levar, como documentos de contabilidade e contratos de pessoas e agora vai investigar”.
Quando, em 1978, se fez militante do PS, talvez não pensasse que a sua vida iria estar tão fortemente ligada à política. Desde líder da concelhia do PS Oeiras, a vereador e deputado.
Daí ser um homem de tantos ofícios. Conseguiu compatibilizar vários cargos ao mesmo tempo.
Se não vejamos: vereador, deputado, presidente do Conselho de Administração da LEMO (a já extinta empresa intermunicipal detida a 80% pela câmara de Oeiras e 20% por Cascais de materiais de obras), líder da concelhia do PS Oeiras e presidente da Fundação O Século. À VISÃO, e de forma tranquila, diz que isso não é nada de especial, “consegue-se tudo trabalhando”, assinalando que a política local foi a que lhe deu “mais prazer, devido ao contacto mais direto com as pessoas”
Contra Isaltino, ao lado de Isaltino
Emanuel Martins saltou para a ribalta política quando foi o candidato escolhido pelo PS, nas autárquicas de 2005, para o concelho de Oeiras. Na altura – e já tendo completado dois mandatos como vereador – foi designado por Jorge Coelho (coordenador do PS para essa eleição) depois de Maria de Belém ter desistido de se apresentar. É que, do outro lado, estavam na corrida Isaltino Morais e Teresa Zambujo. Recorde-se que Zambujo foi vice-presidente de Isaltino e subiu à liderança da câmara quando o autarca foi para o Governo de Durão Barroso, em 2002. Isaltino saiu passado um ano do Executivo, quando o extinto jornal O Independente deu à estampa a notícia de que teria rendimentos não declarados numa conta na Suíça. Não demorou muito para que o ex-ministro começasse a criticar a sua substituta. “Faço disso [escolha de Zambujo] um ‘mea culpa’. As pessoas são boas para umas coisas e más para outras”.
Depois, no momento da escolha de candidatos, o PSD tirou o tapete a Isaltino, que acabou por avançar como independente, e apostou em Teresa Zambujo.
O dinossauro ganhou essa a eleição, em 2005, mas sem maioria. E foi aí que entrou Emanuel Martins, um dos dois vereadores eleitos pelo PS. Acabou por fazer um coligação pós-eleitoral informal, tendo ficado com dois pelouros, e permitiu que Isaltino comandasse a câmara com maioria.
Aliás, Isaltino e Emanuel são da mesma fraternidade maçónica, a Loja Mercúrio, uma das mais influentes e que faz parte da Grande Loja Legal de Portugal.
No seu perfil na rede profissional Linked-in, Emanuel Martins apresenta-se como tendo a licenciatura em Gestão, feita entre 2006 e 2008 na Universidade Atlântica, em Oeiras, e uma pós-graduação em Gestão de Marketing, realizada na já extinta Universidade Independente, entre 200 e 2001.