Vanessa Barreira nasceu em Peniche mas, há 14 anos, que mora em Alfama, em Lisboa, sempre com vista para o rio Tejo. Já perdeu a conta às vezes que mudou de casa, mas ainda não tinha sido preciso sair do típico bairro alfacinha, nem mesmo quando, há sete anos, pôs a sua casa a arrendar a turistas. Em 2010, Vanessa Barreira, 35 anos, comprou uma casa em mau estado, também em Alfama, e recuperou-a. No verão, era para turistas, com uma taxa de ocupação de 95%, no inverno, voltava a ser sua. Só há dois anos, com o “boom” do Airbnb é que Vanessa deixou de conseguir encontrar casas para aluguer de longa duração para si própria.
Agora, anda à procura de casa na zona da Graça, pois mesmo morando sozinha o seu T1 duplex na Rua dos Remédios está a ficar pequeno. Escolheu visitar um T2 com 63 metros quadrados no Largo da Graça. Agrada-lhe estar perto dos miradouros e apesar de ali passarem muitos automóveis e o elétrico 28 durante o dia, Vanessa acredita que à noite tudo será mais calmo. A única exceção será na época dos Santos Populares, que tão bem conhece.
A porta verde da rua abre-se e Vanessa Barreira, acompanhada pelos mediadores da Reilar, sobe uma escadaria de madeira. É diferente ser um primeiro andar sem elevador ou o seu atual quarto andar de degraus. O proprietário está a pedir 750 euros mensais (incluindo despesas de água e eletricidade) pelo T2 com dois quartos interiores. O chão novo deve esconder os tacos velhos de madeira e as portas pintadas de amarelo clarinho tapam a patine do tempo. Na cozinha com marquise, despensa, esquentador e exaustor, ficam a faltar as máquinas de roupa e de louça, fogão e botija de gás. À primeira impressão, Vanessa exclama: “É cara! Não está equipada… No máximo dou 650 euros. Os atrativos são ter mais espaço do que o meu atual T1 e ter de subir menos escadas.”
Sem pressa, Vanessa anda a ver o que o mercado oferece e já viu de tudo, desde 30 metros quadrados remodelados em Alfama, sem vista e sem luz, por 800 euros mensais a outro apartamento que tinha uma vista minúscula para o rio Tejo e chegavam a pedir 1 200 euros. “As pessoas querem tanto vir morar para estes bairros antigos que aceitam pagar estes valores”, diz Vanessa, que confessa não perceber o fenómeno.