O jogo “Baleia Azul” está a assustar os pais. O desafio online consiste em cumprir 50 tarefas (uma por dia), propostas por um “curador” (ou mentor) através das redes sociais, que podem incluir automutilação e terminar em suicídio. Após causar polémica em países como os EUA e o Brasil, já chegou a Portugal: uma jovem saltou de um viaduto no Algarve, num ato que parece ter relação direta com o jogo.
As vítimas costumam ser adolescentes, o que faz os pais questionarem-se como podem saber se os filhos estão a participar no jogo às escondidas. Para Rosário Carmona e Costa, psicóloga especialista em cyberbullying e autora do livro “IAgora: Liberte os seus filhos da dependência do ecrã”, o que os pais devem fazer é ter tantos cuidados com a vida virtual dos filhos quanto têm quando eles estão a brincar na rua.
À VISÃO, a psicóloga deixa cinco conselhos para quem teme que o filho esteja envolvido neste jogo macabro.
Fazê-los entender as consequências
O instinto natural dos pais é proteger os miúdos, mas é necessário também fazê-los sentir responsabilidade pelo que fazem, o que nem sempre é fácil na adolescência. “Se virmos um cérebro de um adolescente, as áreas responsáveis pela busca de atividade estão muito ativadas, enquanto a do autocontrolo não está muito”, explica Rosário Carmona e Costa.
Por mais que seja natural um adolescente sentir-se atraído por uma atividade perigosa, também é prejudicial negar-lhes a possibilidade de tomarem decisões. “Essa situação é agravada porque os pais não dão autonomia aos filhos e assim eles não conseguem prever as consequências. Acham que conseguem sair de um jogo como este a qualquer momento”, explica a psicóloga.
Não punir, mas sim compreender
A ameaça é um elemento muito forte do “Baleia Azul”. O responsável pelo desafio pode ameaçar a vítima, por exemplo, de denunciar a participação dela no jogo à família, caso não cumpra os desafios. “Existe um código de chantagem e pressão elevado dos mentores. Este código de silêncio é igual ao do bullying e da violência doméstica”, compara Carmona e Costa.
Por isso, é mais importante que um pai compreenda a situação em que o filho se encontra do que preocupar-se em punir. “A primeira coisa a se fazer é acolher. Um pai tem que ser muito mais compreensivo nesse momento. A última coisa que o jovem precisa nessa situação é de uma punição”, alerta a médica.
Até para evitar que os filhos escondam as ações dos pais, é necessário que a conversa sobre tais assuntos não sejam ameaças, mas sim consciencialização, porque “o jovem vê-se numa rede da qual não consegue sair.”
Reforçar que ele terá ajuda, sua ou de outra pessoa
É essencial garantir-lhes que os pais estarão presentes nos momentos difíceis. Mesmo antes de suspeitar que os filhos estão a participar em atividades autodestrutivas, é importante trazer o assunto à mesa. “É necessário reforçar aos filhos que, se estiverem aflitos, os pais estarão lá para darem ajuda”, diz a especialista.
Por mais incómodo que possa gerar nos pais, existem situações em que eles não são as pessoas em quem os filhos mais confiam. Por isso é importante ressalvar que, quando não quiserem partilhar determinado problema em casa, haverá outras pessoas que os podem ajudar: “Pergunto a muitos pacientes se têm alguém a quem recorrer, mesmo que não sejam os pais. Ao ver as notícias sobre o jogo, um adolescente pode ficar assustado. Até por isso é necessário dizer-lhe que há sempre alguém a quem recorrer”.
Supervisione a vida online do seu filho
Pode ser difícil, mas é fundamental que os pais se preocupem tanto com os sites que os filhos frequentam como com os locais por onde andam na vida real. “Os pais têm que ter consciência que não controlam tudo na vida do filho. O problema é que acham que não conseguem controlar nada da vida digital, então nem tentam”, sublinha a psicóloga.
Os próprios computadores contam com ferramentas de controlo parental para evitar que os miúdos visitem sites indesejados. Além disso, algumas pequenas práticas podem inibir a curiosidade mórbida dos jovens. A médica recomenda, por exemplo, evitar que os computadores fiquem em áreas escondidas dos quartos dos filhos. É preferível que estejam em locais de passagem, onde as atividades deles fiquem mais inseridas na vida familiar. “É importante os pais saberem o que os filhos fazem online. Assim como sabemos quem são os amigos dos filhos, temos que saber os sites que frequentam.”
Restam os telemóveis. Se é impossível saber o que os adolescentes estão a ver no pequeno ecrã a todo momento, é necessário impor limites. Evitar que estejam sozinhos no quarto a conversar ao telemóvel a todo momento, ou impor limites durante a noite, são atitudes que podem ajudar. “Permitimos que eles fiquem livremente com os aparelhos no quarto durante a noite. É como se os deixássemos a noite inteira com a porta de casa aberta”, alerta Carmona e Costa.
Seja exemplo
Podemos não participar em jogos tão assustadores como o “Baleia Azul”, mas muitas vezes incentivamos os nossos filhos a isolarem-se na internet, ao fazer exatamente a mesma coisa. “Os próprios pais, muitas vezes, são maus utilizadores. A mãe, por exemplo, pode ficar a jogar Candy Crush, ou estar a sempre a conversar em grupos de mensagens”, critica a médica.
Assim como é importante um adulto conscientizar os mais jovens sobre tais riscos, ele também não pode cair nas armadilhas criadas pela publicidade ao fenómeno do “Baleia Azul”. “Eu vi uma vez, numa comunidade do Facebook, uma mãe a dizer que queria observar este jogo e ver até onde ia. Nós também temos de ter cuidado. Muitas vezes também não sabemos se conseguiremos sair dessas situações facilmente”, conclui Rosário Carmona e Costa.