Três mulheres ficaram quase ou totalmente cegas depois de serem submetidas a um tratamento com células estaminais não aprovado, numa clínica do Sul da Flórida. Especialistas dizem que este caso pode servir como alerta para o perigo deste tipo de tratamentos e para a necessidade dos governos e dos médicos protegerem os doentes face a estas terapias.
Nos EUA, o número de clínicas que fazem tratamentos deste género tem crescido muito nos últimos anos, segundo conta o The Washington Post. A maioria delas faze publicidade a tratamentos experimentais ou a alegados ensaios clínicos para doenças como autismo ou esclerose lateral amiotrófica.
“Estas mulheres tinham uma visão bastante funcional antes do procedimento… e, no dia seguinte, estavam cegas”, lamenta Thomas Albin, um oftalmologista que analisou o episódio, agora descrito num artigo publicado na revista New England Journal of Medicine. Uma das três mulheres ficou totalmente cega e as outras duas parcialmente, mas sem quaisquer perspetivas de melhorar.
Os especialistas que observaram estas três mulheres depois do tratamento dizem que é preocupante a forma como estas clínicas conseguem alistar os seus estudos experimentais em em instituições nacionais, dando-lhes credibilidade. Neste caso, a clínica da Flórida inscreveu o tratamento numa base de dados de ensaios clínicos dirigida pela National Institutes of Health, chamada ClinicalTrials.gov, fazendo pelo menos uma das doentes, e talvez mais, acreditar que estava a fazer parte de um estudo aprovado pelo governo.
Para poderem ser submetidas a este procedimento com células estaminais, cada uma das três doentes, entre os 70 e os 80 anos, teve de pagar 5 mil dólares. Thomas Albin diz que este foi o primeiro sinal de que este não era um ensaio clínico tradicional. O segundo foi terem tratado os dois olhos ao mesmo tempo, em vez de terem visto a resposta de um olho de cada vez. “Para nós, clínicos, é muito alarmante o facto de alguém fazer isto com os dois olhos, ao mesmo tempo”, refere.
O artigo não identifica nem as doentes nem a clínica em questão, mas os tribunais do estado da Florida dizem que duas das três mulheres, na altura com 72 e 78 anos, processaram a clínica e algumas pessoas envolvidas no tratamento. Apesar de não poder dizer muito mais sobre o caso, Andrew Yaffa, advogado das duas doentes, referiu que a resolução satisfez ambas as partes. A terceira mulher, com 88 anos, procurou ajuda uma semana depois do procedimento, num instituto médico em Oklahoma.