O Fórum Económico Mundial prevê que demore mais 169 anos até haver igualdade de pagamento entre géneros. Cerca de 225 milhões de mulheres em todo o mundo não podem escolher se querem ou não ter filhos e todos os anos morrem cerca de 47 mil mulheres e 5 milhões ficam com sequelas graves na sequência de abortos sem condições. Estima-se que 35% das mulheres em todo o mundo sofram violência física ou sexual. Mais de 32 milhões de meninas, contra 29 milhões de meninos, não frequentam o primeiro ciclo. E, atualmente, 700 milhões de mulheres casaram antes de completarem 18 anos.
Os números são apresentados pela Amnistia Internacional para assinalar o Dia Internacional da Mulher, este ano marcado por uma greve internacional, que se segue à marcha pelos direitos das mulheres que, em janeiro, juntou 3 milhões de pessoas.
Com o tema “As mulheres não vão ficar à espera dos seus direitos – elas querem-nos agora”, a campanha da organização apresenta este ano os casos de oito mulheres, de vários continentes, que lutam na linha da frente pelos seus direitos.
Tlaleng Mofokeng – África do Sul
Ela não vai esperar… enquanto são recusados abortos
Médica na África do Sul, Tlaleng luta pela saúde sexual num programa de rádio e diz que não vai parar “até que o direito das mulheres a fazer um aborto seja respeitado e providenciado com segurança”.
“Na África do Sul, morrem mulheres todos os anos devido a abortos sem condições e, mesmo assim, os políticos acham que podem usar os direitos reprodutivos das mulheres como uma bola de ping pong política”, afirma a médica.
Tlaleng luta também contra a cultura de violação e pelo acesso à saúde, sem discriminação.
“O mundo inteiro acha que tem o direito de dizer às mulheres o que devemos fazer com as nossas vaginas e os nossos úteros. A saúde das mulheres parece ser uma coisa sobre a qual todos podem opinar”, lamenta.
Hortence Lougué – Burkina Faso
Ela não vai esperar… que outra menina seja obrigada a casar
Há muito tempo que Hortence Lougué trabalha junto à Aministia Internacional no Burkina Faso com mulheres e raparigas forçadas a casar, assim como com sobreviventes de mutilação genital feminina.
Apesar de as leis do país proibirem o casamento infantil, não são raros os casos de meninas com 11 anos obrigadas a casar. Através da rede Support and Awareness Network for Young Girls, Hortence está envolvida com vários projetos de educação para raparigas que conseguiram escapar dos seus casamentos forçados, dando-lhes ferramentas para conseguirem construir uma vida nova e independente.
Connie Greyeyes – Canadá
Ela não vai esperar… que outra “irmã” seja roubada
Connie Greyeyes é uma “ativista acidental”. Do povo indígena Cree, Connie, que vive na Columbia Britânica, no oeste do Canadá, percebeu que um número alarmante de mulheres indígenas da sua comunidade tinham desaparecido ou tinham sido assassinadas – mais de mil nas últimas três décadas, de acordo com os dados oficiais. A partir daí, começou a organizar formas de apoiar as famílias dessas mulheres e exigiu uma investigação nacional, anunciada, finalmente, o ano passado.
“Quanto nos juntamos, temos tanta força. Ser capaz de sorrir mesmo depois de descobrir que quem amamos foi assassinado. Como não nos sentirmos inspiradas por mulheres que foram ao inferno e voltaram com os seus filhos? Vocês sabem, lutar, tentar encontrar justiça. Como não nos sentirmos inspiradas e querer continuar a lutar?”
Karla Avelar – El Salvador
Ela não vai esperar… enquanto os refugiados lhes virem ser recusada a segurança
Dizer que Karla Avelar é uma sobrevivente não é dizer pouco. Sobreviveu a ataques de gangues, tentativas de homicídio e esteve presa. Hoje, lidera a Comcavis Trans, que apoia a comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Intersexuais) alvo de ameaças e violência no país a ponto de muitos terem de fugir como refugiados. Através da Comcavis, Karla fornece-lhes informação e outros auxílios para a complicada viagem para fora de El Salvador que, normalmente, os leva para os Estados Unidos ou para o México.
Su Changlan – China
Ela não vai esperar… para reunir aos pais outra menina forçada a casar
Ex-professora, Su Changlan não conseguiu ficar de braços cruzados quando soube das histórias das meninas vendidas como noivas ou dos pais de crianças desaparecidas e deitou mãos à obra. Além destes casos, Su Changlan estende o seu ativismo à luta pró-democracia em Hong Kong, mesmo sabendo que todo este envolvimento poderia implicar sacrificar a sua liberdade. E assim foi. Está detida desde 2015, mas diz ter esperança que os pais não desesperem. “O Governo devia investir mais nestes esforços em vez de prejudicar o nosso trabalho”.
Jeanette John Solstad Remø – Noruega
Ela não vai esperar… pelo direito de ser reconhecida como mulher
Até há pouco tempo, Jeanette John era John Jeanette, um nome simbólico da dualidade com que tinha de viver diariamente na Noruega. Apesar de o antigo comandante sentir que o seu futuro só podia ser no feminino, a lei norueguesa não lhe permitia alterar o seu género sem enfrentar uma “conversão sexual real” compulsória, que implicaria ver removidos os seus órgãos sexuais, assim como um diagnóstico psiquiátrico. Como recusou, todos os seus documentos continuaram a referir-se a um cidadão do sexo masculino. O seu trabalho contra a lei que classifica como “abusiva” deu frutos e, em 2016, a Noruega adotou uma nova lei sobre o reconhecimento de género, que permite aos transsexuais optar. “Todos merecem o direito de expressar o seu género”, congratula-se Jeanette John.
Loujain al-Hathloul – Arábia Saudita
Ela não vai esperar… pelo direito de conduzir
Loujain al-Hathloul desafiou a probição de conduzir imposta às mulheres na Arábia Saudita e sofreu as consequências: Em novembro de 2014 passou 73 dias na prisão depois de se filmar, e transmitir em direto no Twitter, a entrar no país a conduzir, oriunda dos Emirados Árabes Unidos.
Libertada em 2015, candidatou-se às eleições de novembro desse ano – a primeira vez que as mulheres puderam votar e candidatar-se – mas, apesar de ter sido, depois de alguma luta, reconhecida como candidata, o seu nome nunca chegou a constar dos boletins de voto.
Atualmente, continua a sua luta para que as mulheres sauditas possam usufuir de todos os direitos de cidadania: “Vou vencer. Não imediatamente, mas definitivamente.”
Narges Mohammadi – Irão
Ela não vai esperar… que outra mulher fique desfigurada com ácido
Narges Mohammadi luta apaixonadamente pelos direitos das mulheres no Irão e liderou os protestos contra os ataques com ácido de tantas mulheres têm sofrido no país. Narges está presa, condenada a uma pena de 22 anos, depois de ter sido apresentada contra ela, em tribunal, a “prova” de uma reunião com o antigo alto representante da União Europeia para os Assuntos Estrangeiros, em 2014.
“Numa terra onde ser mulher, ser mãe e ser uma defensora dos direitos humanos é difícil, ser as três coisas ao mesmo tempo é um crime imperdoável”, escreveu, recentemente, a partir da prisão.
Em 2016, a iraniana entrou em greve de fome porque viu ser-lhe recusado o direito a falar por telefone com os filhos, que agora vivem em França com o pai.
“Fui condenada e presa na minha terra natal pelo crime de ser uma defensora dos direitos humanos, uma feminista e uma opositora à pena de morte. Mas não só a minha prisão não me fez sentir qualquer arrependimento, como, na verdade, fortaleceu as minhas convicções e o compromisso de defender os direitos humanos mais do que nunca”.