Todos os anos, a conversa volta à mesa do café (e agora a essa enorme mesa de café que são as redes sociais). Começa a aproximar-se o horário de inverno, e a inevitabilidade dos dias mais curtos e escuros, e saltam os estudos e os protestos. Este ano, é a vez das espanholas Ilhas Baleares (Maiorca, Menorca, Formentera, Cabrera e Ibiza) estarem a bater o pé para não mudarem a hora, na madrugada do próximo domingo.
Nós por cá, não temos outro remédio. Basta ir ao site do Observatório Astronómico de Lisboa para ler o extrato do jornal oficial da Comissão Europeia (nºC 083 de 17/03/2011) que determinada a data da mudança para o dia 30 de Outubro.
Mas aquele território autónomo da Espanha, situado no mar Mediterrânico, tem vários argumentos na manga e conseguiu gerar um consenso entre todos os partidos do parlamento, que assinaram uma declaração institucional (esta terça tornada oficial) para apresentar ao governo (há um ano em modo interino).
Naquelas ilhas queixam-se de que, na hora de Inverno, o sol se põe às 17h45, uma diferença de quase 50 minutos em relação às cidades mais a Oeste da Península Ibérica, como é o caso de Lugo, na Galiza. O texto da declaração contém frases como “a sociedade moderna necessita que as horas de sol se adaptem ao seu tempo livre” e defende que, com mais luz solar, se fomenta as atividades pós-laborais, a poupança de energia e a dinamização turística e comercial.
Argumentos à parte, as ilhas não são originais neste campeonato. Conheça outros casos em que se tentou e conseguiu ficar para sempre na mesma hora (na verdade dos 195 países do mundo, apenas 82 seguem esta norma) e até um estudo que advoga que isso é mais saudável:
* O presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono manifestou-se contra a alteração dos ponteiros do relógio que se avizinha. Miguel Meira Cruz diz que esta adaptação tem impactos negativos na saúde, causando alguns tipos de dores de cabeça e aumentando o risco de acidentes. “Este é mais um exemplo do predomínio do interesse económico em detrimento daqueles dirigidos à promoção da saúde”, conclui.
* No Brasil, apenas os 17 estados do Norte e Nordeste não mudam de hora no Inverno, porque estão muito próximos do Equador e a sua exposição solar é quase a mesma durante todo o ano.
* Apesar de só existirem seis estados na Austrália, mesmo assim há dois que decidiram não mexer no relógio quando muda a estação.
* Em 2010, a Rússia recusou-se a mudar mais de horário, alegando um difícil ajuste no bioritmo. Na altura, a Ucrânica juntou-se ao protesto, mas acabou por recuar quando as relações entre os dois países se deterioraram.
* A China, apesar da sua dimensão, tem toda o mesmo fuso e não há lá mudanças ao longo do ano. A Índia é outro exemplo de hegemonia horária.
* No Continente africano existem poucos países que mudem de hora. A Líbia, Marrocos, a Namíbia e o Saara Ocidental são algumas execpções.
* Em 1992, o governo de Cavaco Silva adotou o horário da Europa Central. Quatro anos mais tarde, e depois de muitas críticas à medida cavaquista, o executivo de António Guterres repôs a normalidade que vigora até hoje.
* Há quem se queixe que esta medida é obsoleta, pois tem precisamente cem anos e foi tomada durante a Primeira Guerra, como uma medida de poupança de recursos. Tornou-se diretiva europeia em 1981.
* Só a Gronelândia tem o mesmo horário dos Açores (menos uma hora do que o Continente e a Madeira) – estão ambos no fuso GMT -1.