Durante todo o mês de Agosto, decorrem na zona de Lisboa e Porto, ações de rastreio e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis nas praias de Leça da Palmeira, Aterro, Salgueiros, Edifício Transparente, Matosinhos, Guincho, Duquesa/Conceição, Tamariz, Carcavelos, Meco, Fonte da Telha, Morena e São João.
À semelhança dos anos passados, mas desta vez com uma cobertura mais massificada, a Abraço aposta nestas iniciativas, com 10 voluntários diários, não só de prevenção e sensibilização, como também de rastreio rápido. Em unidades móveis ou tendas de saúde é possível, através da colheita de duas ou três gotas de sangue e uma picada no dedo (semelhante ao teste da glicémia), testar, em menos de meia hora, se os banhistas estão ou não infectados com o VIH, sífilis, hepatite B ou C. Ontem foram feitos 16 testes VIH e nenhum deu positivo, mas refere Pedro Morais, psicólogo clínico, responsável pelos testes rápidos da Abraço da zona norte, quando lhes acontece um positivo, a pessoa é encaminhada para as vias verdes dos serviços de infeciologia.
Segundo explica Pedro Morais, as ações nas praias são bem acolhidas. As pessoas estão mais descontraídas e pacientes, e os técnicos conseguem apanhar uma amostra transversal e heterogénea, todas as idades e orientações sexuais, da população. Apesar, continua Pedro Morais, de já não se poder falar em grupos de riscos (60% dos portadores de IHV são agora heterossexuais), o psicólogo clínico alerta para o facto de “Portugal apresentar uma das mais elevadas taxas da UE de novos casos de VIH e Infeções sexualmente transmissíveis devido ao diagnóstico tardio”: “Estima-se que cerca de 50% dos novos diagnósticos sejam realizados apenas 4 ou 5 anos após a infeção e que uma em cada três pessoas infetadas pela SIDA desconheça o seu estado serológico” Até lá, o portador pode ir infectando muitas pessoas. “O que mais nos preocupa é aquele que tem e nem sabe”. Daí o investimento no diagnóstico precoce ser uma prioridade nas campanhas de prevenção da Abraço.
O retrocesso no uso do preservativo (aconteceu por toda a Europa), a prática de sexo não seguro por parte dos jovens deve-se, salienta Paulo Morais, ao facto de a nova geração já não viver com o susto da SIDA enquanto doença fatal. Com os retrovirais tornou-se uma doença crónica, podendo mesmo anular-se, através do tratamento, a possibilidade de contagiar os parceiros. ” Esta geração tem menos perceção da doença. Os homossexuais foram o grupo mais informado e em que se controlou mais rápido a doença. No entanto, os homens que têm relações com outros homens voltaram a baixar a guarda e houve uma subida de 12 a 30% de novas infecções nos últimos cinco anos. E está provado que uma relação sexual anal é mais perigosa”.