A esta hora já todo o elenco do espetáculo Ópera na Prisão se encontra nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a ultimar o ensaio final. Mais logo, às 19 horas, o pano do Grande Auditório sobe e tomam conta do palco 17 reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria-Jovens que, desde 2014, já apresentaram duas vezes a sua recriação e interpretação da ópera Don Giovanni, do austríaco Amadeus Mozart com libreto do italiano Lorenzo Da Ponte. Este espetáculo, em que também participam familiares dos detidos e alguns guardas prisionais, um na bateria e outro a representar, por exemplo, é acompanhado pela orquestra da fundação. Faz parte de um projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do Programa PARTIS – Práticas Artísticas para a Inclusão Social, em parceria com a Sociedade Artística e Musical dos Pousos, a Escola de Dança Clara Leão, a Câmara Municipal de Leiria e a Fundação Caixa Agrícola. Em 2014, Ópera na Prisão decorreu no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, onde voltará no próximo mês de setembro, e, em 2015, foram as portas da prisão que se abriram ao público. A apresentação desta noite é um extra realizado a convite da Gulbenkian, bastante satisfeita com o projeto, como explica José Ricardo Nunes, diretor do EPL que também interpreta a personagem de comendador.
“O programa pressupõe uma futura ligação destes jovens à comunidade através das associações musicais, seja num coro, num orfeão ou numa banda. Funciona como uma alavanca na integração do recluso”, refere José Ricardo Nunes. Para todos estes reclusos, na casa dos vinte anos, que cometeram crimes das mais diversas tipologias, como tráfico, roubos ou furtos, é uma fase do seu processo de resociabilização. “A maior parte deles provém de uma cultura musical urbana, mais ligada ao afrobeat ou ao rap. Agora sabem o que é uma pauta, um instrumento musical ou como funciona uma orquestra”, acrescenta. A ensaiarem há 15 dias, José Ricardo Nunes pretende passar-lhes a mensagem de que a vida também é uma opera, onde “temos de saber quando são as nossas entradas, as nossas deixas e o nosso papel na sociedade. Em palco, os jovens têm de controlar a sua voz, o seu corpo, enfim, as suas vidas.”
Os bilhetes custam €12 e a receita reverte na íntegra para a Sociedade Artística Musical dos Pousos
Direção musical: José Eduardo Gomes; Direção artística: Paulo Lameiro; Direção cénica: David Ramy, com Paulo Lameiro; Coreografia: Clara Leão; Cenografia e adereços: Carla Freire; Desenho de luz: David Ramy, com Luís Fradique; Pianista: Yumiko Ishizuka