Os labradores são os cães mais populares do mundo, apontados como das raças mais inteligentes. Um novo estudo veio agora comprovar que podem não ser os mais inteligentes, mas sim os mais gananciosos. E que a a razão para aprenderem tudo com afinco é, afinal, apenas ânsia por comida. Um estudo publicado no site Cell Metabolism concluiu que estes animais fazem tudo com um objetivo: serem recompensados com comida no final.
A obesidade canina afeta entre 34% a 59% dos cães em países modernos e os Labradores Retrievers são das raças mais propícias a sofrer desta doença – eles são capazes de comer qualquer coisa a qualquer altura do dia. E a razão para isso pode ser genética.
Após donos de Labradores se queixarem aos veterinários do constante interesse deles em comida, Eleanor Raffan, cirurgiã veterinária e geneticista, e a sua equipa iniciaram um estudo em volta destes animais. “Sempre que há alguma coisa mais comum numa raça do que noutra, nós pensamos que a genética está envolvida” diz Raffan. Começaram por observar um grupo de 15 cães obesos e outro grupo de 18 com o peso ideal e analisaram três genes conhecidos por afetar o peso dos humanos.
A maioria dos Labradores com obesidade apresentou uma mutação no gene POMC que impede que produzam neuropeptídeos responsáveis por parar a fome após uma refeição.
Numa amostra maior, de 310 cães, os investigadores descobriram que nem todos os cães com a mutação genética são obesos e que nem todos os cães obesos possuem essa condição mas, em média, cada labrador afectado pesa 2kg a mais do que um não afectado.
A equipa de investigadores acredita que esta mutação se deve ao facto de estes caninos, originários da costa leste do Canadá, costumarem ser cães de trabalho e precisarem de comer muito para conseguirem efectuar as suas tarefas, cães motivados pela comida eram sempre os preferidos porque eram treinados com mais facilidade. Isto levou a que se reproduzissem cada vez mais e a mutação se espalhasse – mesmo que nos dias de hoje já não existam muitos Labradores de trabalho.
Curiosamente, esta modificação genética foi mais comum nos 81 cães-guia incluídos no estudo, afectando 76% desses cães. “Não tínhamos nenhuma razão inicial para acreditar que os cães de assistência seriam um grupo diferente” diz Eleanor Raffan. “Foi surpreendente. É possível que esses cães sejam mais motivados pela comida e por isso mais prováveis de serem seleccionados para programas de cães de assistência, que historicamente treinam usando comida como recompensa.” Mas Raffan avisa que os resultados podem ser um equívoco. “Ainda não estudámos cachorros e perguntámos se eles são mais prováveis de se classificarem como cães de assistência se tiverem esta mutação”.
O estudo descobriu que a mutação ocorre em 23% dos labradores retrievers baseando-se numa amostra de 411 cães do Reino Unido e dos Estados Unidos da América. Em 38 raças, a eliminação do gene POMC só está presente em Flat Coated Retrievers, raça que está relacionada aos Labradores, e o peso e comportamento foram afectados da mesma maneira.
Raffan comenta que “pode manter um cão com esta mutação magro mas tem que ter muito mais atenção”. Por isso, se o seu Labrador é desses que faz todos os truques e mais alguns em troca de um biscoito no final, tenha cuidado e não se deixe enganar pelo seu olhar querido.