Portão aberto de acesso a um pequeno pátio está vedado com uma cancela. Antes mesmo de me dirigir ao porteiro, reconheci de imediato a garagem da EcoTukTours. Lá dentro encontram-se estacionados dois triciclos pintados a branco e verde. João Tubal, 42 anos, um dos sócios da empresa, dirige-se-me para me saudar, enquanto Ricardo Carvalho, 30, do alto dos seus quase dois metros, interrompe o almoço para se juntar a nós. Sinto-me como se estivesse a entrar ao serviço num novo emprego, mas sem ter passado pela fase dos testes.
Enquanto conheço a história da empresa, Ricardo termina o almoço. O resto do dia será longo e quase não existem pausas entre um serviço e outro. Com apenas dois anos, a EcoTukTours tem seis veículos, raramente parados. Ao contrário da concorrência, vive muito das visitas por marcação e existem vários hotéis de Lisboa, como o Ritz, que lhes mandam habitualmente clientes.À medida que escuto as explicações, não consigo deixar de olhar de soslaio para os tuk tuk. Parecem-me enormes. Pergunto-me em que estaria a pensar quando aceitei sem hesitar este desafio de transportar turistas em Lisboa por um dia. “Quando quiser, o carro está por sua conta”, ouço. Confesso que sou então invadida por um nervoso miudinho. Luzes, travão, acelerador, ponto-morto e marcha-atrás.
O tuk tuk só exige carta de carro, mas afinal não passa de uma acelera. Precisamente o único veículo que experimentei conduzir no passado sem sucesso. Concentro-me nas instruções de Ricardo e arranco aos solavancos. Tenho quase uma hora até apanharmos as primeiras clientes, Teresa e Sandra, de uma operadora turística especializada em trazer estrangeiros a Portugal, e que querem conhecer o percurso com antecedência. Ricardo, dono de um mestrado em História, é o guia que me vai acompanhar no tuk tuk e ajudar-me sempre que me sentir menos à vontade na condução. Diz-me que o mais difícil no início são as curvas. Para mim, são os pontos-mortos e a sensibilidade no acelerador, de forma a acabar com os safanões.
‘Cogumelos’ de cores vivas
Como se trata de uma “inspeção técnica”, o primeiro trabalho tem um trajeto ligeiramente alterado. Concentramo-nos nas ruas e vielas da cidade antiga, atravessando os bairros da Graça, Alfama e Mouraria. Prefiro começar por observar a condução. Ricardo demonstra à vontade a conduzir e na maneira como fala sobre Lisboa. Vai contando episódios históricos engraçados, tática para captar mesmo os mais desinteressados. Mal subimos em direção ao Largo da Graça, ficamos rodeados de outros tuk tuk. Um, dois, três. Depressa perco a conta. Chegam de todas as formas e feitios, pintados com cores vivas e atraentes. De vez em quando, aparecem algumas condutoras. Já não estou só. Enquanto Ricardo mostra a cidade, as clientes Teresa e Sandra conversam animadas. Há pressupostos antes da viagem: é preciso verificar se o cinto de segurança está posto, se é fácil a uma pessoa mais idosa subir, se faz calor… “Muitas vezes demoramos um pouco mais do que o tempo estimado. Paramos para beber um café. Os ingleses, por exemplo, adoram fazer uma pausa para beber uma cerveja”, conta Ricardo. De tempos a tempos, abrandamos para cumprimentar figuras mais emblemáticas de Alfama e da Mouraria. “Nesta loja trabalha o senhor Mário, com 90 anos”, anuncia Ricardo. E à medida que nos aproximamos dos principais pontos de atração turística, maior é a enchente de tuk tuk.