Os testemunhos ouvidos pela VISÃO desta semana permitem igualmente perceber as razões que levaram o sacerdote a denunciar o antigo bispo auxiliar de Lisboa ao representante da Santa Sé. Decisão e gesto doloroso que, dizem, levaram o coordenador nacional das capelanias hospitalares a uma profunda depressão. Tudo em nome da verdade na Igreja, dizem.
Nesta mesma edição, publicamos ainda um perfil sobre o padre José Nuno Ferreira da Silva, de 48 anos, com episódios, relatos e depoimentos de figuras públicas sobre o seu percurso de vida e profissional.
Conheça aqui algumas dessas figuras, recorde a cronologia deste caso (em baixo) e saiba tudo na VISÃO desta semana, a partir de quinta-feira nas bancas
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Cronologia de um caso
Quarta, 20
Na véspera de publicação da história pela VISÃO, ao final do dia, já o tema da capa da revista era notícia. De Roma à SIC, D. Carlos Azevedo negou “totalmente” as acusações. “Remexer em assuntos de há 30 anos, que não ofenderam a moral pública, não serve de modo ético a informação, mas visa meramente o sensacionalismo para destruir pessoas”, afirmou o bispo, realçando que o caso estaria apenas relacionado com “atos da vida privada que não atentam contra a dignidade dos outros (…). Quando conheci a pessoa em causa, ela era já adulta e grande”, justificou. Referindo não excluir do seu “amor e dedicação” pessoas que experimentaram “limites dramáticos da condição humana”, D. Carlos reconheceu que a atitude “tem trazido olhares de suspeita e atitudes de ambiguidade que me fazem objeto de má-língua”. Nessa mesma noite, mas com data do dia seguinte, a Conferência Episcopal, num comunicado assinado pelo seu porta-voz, Manuel Morujão, tornava pública a sua posição, sem desmentir a VISÃO: “Contrariando as nossas expectativas”, lê-se no documento, “vemos que o nome do bispo D. Carlos Azevedo, atualmente em Roma, está envolvido em acusações de comportamentos impróprios, não conformes com a dignidade e a responsabilidade do estado sacerdotal. Da sua veracidade não podemos nem devemos julgar apressadamente. De qualquer membro da Igreja se espera um comportamento exemplar. Com muito maior razão de quem se comprometeu a viver o celibato sacerdotal”, adverte-se, no texto, concluindo: “D. Carlos Azevedo pode contar com a nossa solicitude e a nossa oração fraterna.” Aos microfones da Rádio Renascença, D. Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa, admitiu que “a Igreja é constituída por pecadores, uns mais do que outros”, atribuindo as notícias a “tentativas de influenciar o conclave”. Na TSF, D. Januário Torgal Ferreira disse não se ter espantado com as suspeitas de assédio sexual: “É indiscutível que, em determinadas zonas da nossa sociedade, havia comentários dessa ordem”, assinalou, concluindo que “o comportamento homossexual” do bispo já era objeto de comentários “desde 2006, 2007”.
Quinta, 21
Anunciada no dia anterior, em declarações à SIC, a conferência de imprensa de D. Carlos Azevedo no Vaticano, é anulada, bem como a sua presença num seminário com jornalistas portugueses. O bispo está em “recolhimento”, garante Rosário Salgueiro, a enviada da RTP a Roma, que atribui a reportagem da VISÃO a uma “guerra da maçonaria católica e da Opus Dei”, porque, “de um lado e do outro não querem que D. Carlos Azevedo assuma o lugar de cardeal-patriarca”. À SIC, o padre Carreira das Neves confirma já ter “ouvido coisas, rumores. Já sabia que havia, em relação ao D. Carlos, alguns problemas complicados (…) e que talvez tenha ido para Roma por causa desses problemas complicados (…). A homossexualidade é reconhecida (…) tem pessoas a quem o dizia”, assinalou. A Rede de Cuidadores, pela voz do psiquiatra Álvaro de Carvalho, confirma ter “conhecimento de notícias deste teor em relação ao senhor bispo (…)”, mas por não se tratar de caso de abuso de menores não foi denunciado às autoridades. “Tivemos uma referência informal, há cerca de ano e meio, dois anos, de que teria sido por uma situação de assédio sexual do senhor D. Carlos Azevedo que ele teria sido transferido para Roma”, além de outras situações “variadas no tempo e geograficamente (…)”. E o psiquiatra criticou a Igreja por “mais uma vez, enfiar a cabeça na areia como a avestruz”. Em Itália, o Vatican Insider, publicado pelo diário La Stampa, dá eco à reportagem sobre D. Carlos, mas com erros: contrariando o que a VISÃO escreveu, noticia que o bispo foi denunciado por “abuso sexual” por factos ocorridos nos anos oitenta. O diário La Repubblica atribui a resignação do Papa Bento XVI à existência de um relatório de 300 páginas, elaborado por três cardeais, no qual se refere a existência de uma “rede transversal unida pela orientação sexual” ligada a desvios de dinheiro, corrupção e lutas pelo poder na Cúria.
Sexta, 22
O porta-voz do Vaticano nega a existência de qualquer investigação sobre o bispo. “É uma pessoa que estimamos muito, que cumpre muito bem as suas funções no Conselho Pontifício da Cultura. Não me parece que haja um processo em curso contra ele e, portanto, consideramo-lo com pleno respeito e plena dignidade (…) Neste período, há muitos ataques e intervenções que pretendem criar confusões e turbulências na Igreja”, diz Frederico Lombardi, que confirmara ter lido o artigo da VISÃO na véspera da saída da revista para as bancas. D. Carlos reaparece e volta a falar à SIC: “Estas notícias devem ser enquadradas no ambiente de preparação do Conclave e de sucessão do patriarca de Lisboa”, justifica.
Sábado, 23
O Correio da Manhã noticia que um grupo de padres, que prefere manter-se anónimo, vai enviar uma carta ao Núncio Apostólico exigindo um “rápido e cabal” esclarecimento sobre as notícias vindas a público. O mesmo jornal faz referência às declarações de D. Jorge Ortiga, bispo de Braga, que presta solidariedade ao sacerdote José Nuno e a D. Carlos, pois “ambos estão a sofrer muito”. Ao JN, o bispo D. Carlos revela estar a receber “muitas provas de solidariedade e de oração” e “muitas manifestações de estima”. D. Manuel Clemente, bispo do Porto, admite à RTP, pela primeira vez, a veracidade da história, mas criticando, indiretamente, a VISÃO: “O caso foi tratado por quem o quis tratar daquela maneira no âmbito eclesial e com alguma reserva. Eu pergunto-me se não há aqui uma ofensa aos direitos humanos trazer para público algo que as próprias pessoas e a própria pessoa quis tratar de uma maneira pessoal e reservada.” À tarde, o padre José Nuno reaparece em público, ao lado do bispo do Porto, nas Jornadas Vicariais da Fé, em Gondomar.
Segunda, 25
O JN faz referência a uma missa do padre José Nuno, na capela do Hospital de São João, celebrada no domingo. “Disse o que tinha a dizer, no momento necessário, às instâncias certas dentro da Igreja”, repete o sacerdote ao jornal, num cenário nunca visto: “Diz quem frequenta a capela hospitalar que não há memória de uma missa tão participada”, escreve o diário. Em Milheirós de Poiares, terra de D. Carlos Azevedo, o povo continua indignado com a denúncia contra o bispo. Na homília da missa de domingo, o pároco local, segundo o Correio da Manhã, diz que “a resignação do Papa é mais importante do que uma notícia que correu na semana passada”.
Terça, 26
O DN noticia que D. José Policarpo pode deixar, nos próximos dias, o lugar de Cardeal-Patriarca