Depois de um “passeio no parque” nos debates anteriores, André Ventura e Rui Tavares protagonizaram, esta quarta-feira, na CNN Portugal, um frente a frente que deu para “aquecer” o ambiente – com constantes trocas de acusações entre os candidatos de Chega e Livre.
Com a conversa a divergir para terrenos movediços, André Ventura deu “rédea solta” aos habituais chavões, apostado em apontar fragilidades no programa eleitoral do Livre, que, ao longo do debate, classificaria de “ridículo”, “anacrónico” ou o “mais irresponsável que já vi na vida”.
Fazendo uso de uma estratégia de desvalorização, Ventura chegaria mesmo a afirmar que Rui Tavares “não devia estar aqui”, pela falta de expressão eleitoral que o seu partido representa. Mantendo, do princípio ao fim do frente a frente, a intenção de falar mais do programa do adversário, do que do seu próprio: “O Chega quer desmascarar o que estes senhores têm feito”, afirmou.
Por outro lado, Rui Tavares tentou manter a habitual serenidade – e conseguiu. Começou com o pé direito, ao acusar André Ventura de ser “um candidato do sistema” e a ironizar o programa do adversário. Perante a enxurrada de acusações lançadas do outro lado da mesa, nunca perderia o pé – não permitindo, desta vez, que fosse o próprio líder do Chega a lançar para cima da mesa as perguntas do debate (receita, aliás, que Ventura utilizou com sucesso contra Rui Rio).
Como nas aparições anteriores, Tavares voltou a colocar-se à disposição para um acordo alargado à esquerda no pós-Legislativas de 30 de janeiro. Mas fechou este debate esclarecendo que a oferta esgota-se nesse espectro político, negando entendimentos com o PSD de Rui Rio. “Se a direita estiver no poder estaremos na oposição”, garantiu.
Mãos esticadas à esquerda e à direita
Rui Tavares e André Ventura esperam que os resultados de 30 de janeiro legitimem que Livre e Chega se tornem numa solução governativa. Pela terceira vez – depois dos frente a frente com António Costa e Catarina Martins –, Rui Tavares foi claro no apelo ao acordo à esquerda alargado (com PS, BE, PCP, PEV e PAN). Já André Ventura, e apesar da aparente recusa de Rui Rio, mantém a porta aberta a um entendimento pós-eleitoral com o PSD, apostando em superar o BE como terceira força política mais votada, para então regatear um lugar no futuro executivo.
RUI TAVARES
“O voto [no Livre é o] mais claro no boletim”.
“[O Livre] Não está a chantagear o eleitorado”.
“Se a direita estiver no poder estaremos na oposição, que precisa de uma oposição clara”.
ANDRÉ VENTURA
“[O Chega] Não vai ser uma muleta [do PSD] como a IL e o CDS”.
“[O Chega] Exigirá participação caso tenha resultados eleitorais”.
Programas eleitorais
Rui Tavares ironizou o programa do Chega, ao referir que o documento (com apenas nove páginas) “não é uma coisa que se apresente ao País”. Em resposta, André Ventura dedicou-se a “desmascarar” o programa do Livre, insistindo na enumeração de propostas como o “subsídio de desemprego para quem se despede”.
RUI TAVARES
“O Programa dele [de André Ventura] tem nove páginas, não é uma coisa que se apresente ao País”
“O program de André Ventura fala de cidades, zero vezes. Do interior, zero vezes. Universidade, zero vezes. Do mar, zero vezes. Ambiente, zero vezes. Constituição, zero vezes. Presidencial, zero vezes. Parlamento, zero vezes. Assembleia, zero vezes. Deputado, zero vezes. Poluição, zero vezes. Língua portuguesa, zero vezes. Mulher, zero vezes. Violência doméstica, zero vezes. Bola!”.
“Este é um programa que não tem nada para oferecer no futuro, por isso pretende falar de propostas que são do século XIX”.
ANDRÉ VENTURA
“Não há 10% de fascistas nem de racistas em Portugal. Temos de ultrapassar isso, Salazar não vai ser ressuscitado”.
“O programa do Livre é o mais anacrónico destas Legislativas. É o programa mais irresponsável que já vi na vida”.
“Defende subsídio de desemprego para quem se despede”. “Quem não quer trabalhar, despede-se e recebe subsídio”.
“O Chega quer desmascarar o que estes senhores têm feito, por detrás de um ar cândido, de propostas muito ecológicas, muito humanistas e beijinhos para um lado e outro, estão mais impostos para os portugueses, uma justiça que não existe e favorece corruptos e bandidos e um sistema político que continua a engrossar”.
Calcanhares de Aquiles
No meio da troca de acusações, Rui Tavares e André Ventura tentaram ferir ode “dói mais”. Cada qual, com o a sua flecha. O líder do Livre mencionou as ligações de André Ventura como “candidato ao sistema”, mencionando, em particular, a relação deste com o ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira e “com quem tenha interesses de armamento”. O presidente do Chega usou a polémica relação (que acabou em divórcio) entre o Livre e Joacine Katar Moreira – com quem Rui Tavares se incompatibilizaria, deixando o partido órfão da sua deputada única no Parlamento – para destacar que Rui Tavares “não fez nada” na última legislatura.
RUI TAVARES
“André Ventura é um candidato do sistema apadrinhado por ministros e primeiros-ministros do governo anterior, de clubes de futebol e de alguma comunicação social mais sensacionalista”.
“Esta coluna que está aqui [mostra uma folha] é o que andamos todos a pagar: as dívidas de Luís Filipe Vieira ao BES”.
“André Ventura fala pouco de quem beneficia o seu partido. Há quem tenha interesses de armamento, casos de burla, interesses no estado angolano, no Banif (…) offshores, citadas nos Paradise e Panama Pappers”.
ANDRÉ VENTURA
“A Joacine Katar Moreira foi usada e depois afastada”.
“O Rui Tavares nunca conseguiu ser eleito, afastaram Joacine e para o Parlamento foi o que foi: racismo e ataque às forças policiais””
“O Chega propôs a duplicação das penas por corrupção, o que é que o Livre propôs? Absolutamente zero. O Chega até propôs reduzir os salários dos políticos”.