“A próopria linguagem de André Ventura”, explica Luís Montengro, “é algo em que não me revejo e que não é aceitável: ainda ontem chamou prostituta política ao PSD… ” O líder da AD entrou a matar, reiterando que “não é não” e que jamais estabelecerá qualquer acordo com o Chega. Numa espécie de jogo de sombras, ninguém responde às perguntas sacramentais: o que fará Luís Montenegro se a AD não ganhar as eleições mas houver uma maioria à direita? Viabiliza um governo minoritário do PS? E André Ventura, se a AD apresentar um governo de maioria relativa,? Junta-se ao PS para o deitar abaixo? Ventura diz: “Está a ver, Montenegro não responde!”. Mas o próprio líder do Chega também não. E os Açores vêm à baila. E, depois, a Madeira. E não saímos disto.
De propostas e políticas setoriais, falou-se, por junto, de polícias, de corrupção e de pensionistas. Aqui, Montenegro teve uma rara oportunidade de desmontar as propostas do Chega, com números e contas feitas. O resto foi wrestling. Nem a Economia, nem a Saúde, nem a Europa, nem a Educação, nem a Defesa, nem a Agricultura, nem a Habitação, nem a Cultura. O debate durou quase 20 minutos a mais, relativamente ao previsto e ao que ficou combinado entre todos os participantes nos debates, líderes e canais, o que pode provocar protestos dos outros líderes políticos. E o moderador, perante “combatentes” tão encarniçados e difíceis, levou dez minutos a repetir que “temos que acabar”. Embora mais sereno e menos excitado do que Ventura, Montenegro deixou-se enredar na teia da agenda do Chega – mas André Ventura tinha a boca seca, sendo mais interrompido do que esperava e tendo dificuldade em manter a linha de raciocínio. Se tivessemos de erguer o braço de um vencedor aos pontos, teríamos de declarar desclassificação para ambos. Das poucas conclusões a tirar, percebe-se que o PSD (ou o seu líder) é mesmo sincero na sua recusa de acordos com o Chega, de quem sente a ameaça de uma OPA hostil. E que, não tendo respondido, Montenegro respondeu: “Ninguém nunca disse o que eu digo: se perder as eleições, não aceitarei governar”. Ou seja, demite-se, para não ser obrigado a viabilizar um governo minoritário do PS – e, sobretudo, para não ser obrigado, pelos seus, a estender a mão a André Ventura.
Indumentária
Ambos se apresentaram de camisa branca e de fato azul: petróleo o de Montenegro, mais escuro o de Ventura. O líder do PSD, com a habitual gravata a fazer pendant com a cor dos olhos. O chefe do Chega, com uma gravata nova, em tons de cinza, bem longe da nota colorida de outros debates.
Presentes/ausentes
O PS e Pedro Nuno Santos. José Sócrates. Ricardo Salgado. Miguel Albuquerque.
As farpas
Ventura: “Está nos olhos dele, vai saltar para o colo do PS!”
“Você é o idiota útil da esquerda!”
Montenegro: “Eu sei mais das contas das suas medidas do que você!”
“Eu rio-me de si, André Ventura!”
A gaffe
Ventura afirma que o PSD é responsável pelo maior corte de pensões, mas é apanhado por Montenegro: “Isto no tempo em que você batia palmas ao PSD…”
Ideias fortes
Chega:
Os governos PS e PSD espezinharam as forças de segurança. Dar-lhes o complemento é a primeira medida do Chega.
Direito à greve nas polícias também existe na Suíça. Seria controlado e haveria serviços mínmimos. Magistrados e membros da PJ também podem ter filiação partidária.
AD:
As medidas da AD para os pensionistas têm uma vantagem: a do realismo. São exequíveis.
O combate à corrupção depende mais dos meios do que dos instrumentos legais, que já existem. A AD consultará a PGR e a PJ sobre o que é necessário.
Frases
Montenegro:
“O Chega decidirá se quer juntar-se ao PS para inviabilizar o governo da AD nos Açores [e no País]”.
“As medidas do Chega custam mais de 25 mil milhões de euros. Esta gestão, se fosse levada a sério, seria igual à do engenheiro Sócrates”.
“Dar a possibuilidade de filiação partidária aos elementos das forças de segurança é levar os partidos para dentro das esquadras da PSP e dos quartéis da GNR”.
Ventura:
“O PSD não pode ter duas opiniões relativamente à corrupção: quando foi o caso da demissão de Costa, disse que não havia outra possibilidade. Mas já com o caso da Madeira, tentou sustentar Miguel Albuquerque…”
“Albuquerque é o seu mandatário!”
“O PSD não quer juntar-se a extremistas, mas ainda ontem chamou extremista a Inês Sousa Real e juntou-se ao PAN, na Madeira!”