A Nova Direita é a única formação estreante nestas legislativas. O principal rosto do projeto é Ossanda Liber, luso-angolana que se deu a conhecer como candidata independente à câmara de Lisboa (pelo movimento Somos Todos Lisboa), em 2021, e que teve ainda uma breve passagem como vice-presidente do Aliança, pelo qual concorreu nas legislativas de 2022.
Depois de admitir ter sido “convidada por todos os partidos da direita”, Ossanda Liber preferiu “avançar com um projeto político próprio, posicionado entre o PSD e o Chega”. Com apenas dois meses de vida, o Nova Direita tenta chegar à Assembleia da República, mas a presidente admite que “ainda pode ser cedo”. “Não podemos ficar desiludidos se, nesse período, não tivemos a capacidade de mobilizar o número suficiente de pessoas para entrar no Parlamento”, diz.
Ossanda Liber rejeita que existam “muitos partidos” de direita, preferindo considerar que o Nova Direita é “a direita certa”, que vai “preencher um vazio” nesse espectro político, para “criar pontes” e contribuir para “uma solução governativa estável”. Em entrevista à VISÃO, Ossanda Liber apresenta a sua agenda.
A imigração tem sido um dos principais temas da sua campanha, até porque tem sido criticada por querer mais controlo à entrada do País, apesar de também ter sido imigrante em França e em Portugal. A sua posição não pode ser considerada incoerente?
Não. É precisamente por ter legitimidade para falar sobre este tema – visto que sou uma portuguesa proveniente da imigração – que falo dele de forma tão vocal. Nada melhor do que alguém que passou por esse processo para falar dele. Eu sou de Angola e emigrei, primeiro, para França. Aliás, eu nasci e cresci em Angola, que é um caso de sucesso no que respeita à imigração. Apesar de todo o caos em que Angola viveu, por causa da guerra civil, apesar de tudo disso, o país mantém-se um lugar seguro. E isso tem uma razão. Entre outras coisas, porque o governo sempre teve noção de que era importante existir controlo da imigração. Se um português quiser trabalhar ou investir em Angola, passa por um processo, por vezes, até demasiado rígido, para avaliar a sua pertinência no país. E Angola nunca foi chamada de xenófoba por isso.
Mas o assunto tem sido muitas vezes repetido. Admite ou não que Portugal precisa de imigrantes?
Os países têm várias fases. Portugal precisa, efetivamente, da imigração. Como Angola também precisa. Mas isso nunca impediu o País de adequar a imigração às suas necessidades. É só disso que estamos a falar. Precisamos de imigração, muito bem… A questão da necessidade é real, eu própria sou muito próxima de empresários, sei muito bem da falta de quadros, isso nem é tema. Toda a gente sabe disso. Agora, quem são os imigrantes que vêm para Portugal? Qual a pertinência económica do imigrante? Será que precisamos de mais eletricistas, de mais bombeiros, de mais de médicos, de mais de enfermeiros, de mais de pessoas para a agricultura. O que é que Portugal precisa realmente?

Reconhece o peso dos imigrantes na economia… O que quer mudar?
É preciso um trabalho concertado do Governo, com os vários ministérios, com as várias áreas, com os vários setores da economia, para, então, atrairmos aqueles imigrantes que, de facto, precisamos. Devemos ter uma política de imigração para as pessoas que, efetivamente, o país precisa. É um ponto de honra da Nova Direita. E depois há ainda a questão da proximidade cultural. Até há poucos anos tivemos uma imigração essencialmente dos PALOP. E, graças a Deus, nunca houve problemas, a imigração nunca foi tema em Portugal. E isso tem uma razão: por causa da proximidade cultural. É um grande facilitador para uma boa integração. Sempre se viveu em perfeita harmonia. Claro que, agora, temos uma imigração proveniente de outras partes do mundo e esta devemos, de facto, encará-la com mais cuidado. Porquê? Porque, muitas vezes, temos imigrantes que têm problemas sérios e alguns deles até são bastantes hostis ao Ocidente.
A Ossanda Liber já passou por outros movimentos políticos e por outros partidos. Como surgiu a ideia de que era preciso uma nova força partidária em Portugal?
Estive num movimento de cidadãos [Somos Todos Lisboa], mas, infelizmente, os movimentos de cidadãos não podem concorrer às legislativas. Mas foi uma experiência fantástica. Depois, fui convidada para o Aliança, aceitei porque havia promessa de inovação, das nossas ideias serem integradas. Sabíamos bem o que queríamos, mas, na realidade, nada disso se concretizou, porque, simplesmente, o Aliança não tem nenhum projeto político. Rapidamente percebi isso e desvinculei-me do partido, cheguei à conclusão que o que fazia mais sentido era, de facto, criar uma formação que contribuísse para uma renovação política. E isso implicou, naturalmente, a fundação do Nova Direita.
O Nova Lisboa é o partido mais jovem da democracia portuguesa. Hoje, com tantos partidos no espectro da direita, não é difícil ganhar um espaço?
Os partidos à direita são muitos? Lamento, mas não sei onde. Na Assembleia da República, temos dois partidos de direita – Chega e PSD. A Iniciativa Liberal, muitas vezes, sobretudo a imprensa, coloca esse partido à direita, mas eles próprios que dizem que não são um partido de direita e, de facto, confirma-se, porque do ponto de vista ideológico vota ao lado dos partidos de esquerda. Portanto, só existem dois, e qual é o problema? Existe um fosso ideológico entre ambos. O PSD muito encostado ao centro, com muita dificuldade em afirmar os valores intrínsecos à direita; e depois temos o Chega, que tem o problema de não ir a fundo em nada, não apresentar soluções, apenas protesta, e tem uma maneira de fazer política que coloca o partido numa situação de grande descrédito. É verdade que o Chega vai crescer em votos e deputados, mas é sempre um voto de protesto, ninguém tem fé nesse partido para mudar a vida das pessoas e resolver os problemas do País.

Já referiu que gostava de ser a “ponte” entre PSD e Chega…
Precisamente. Quando entrarmos na Assembleia da República vamos preencher esse vazio. Isso vai permitir encurtar as distâncias, criar uma “ponte” à direita. Se houvesse uma Nova Direita no Parlamento, as “linhas vermelhas”, provavelmente, não existiam. Havia mais condições para o diálogo.
Inclusive com o Chega?
Temos de aceitar a pluralidade política, independentemente de gostarmos ou não do Chega. Há, no mínimo, meio milhão de pessoas que vão votar nesse partido e é preciso respeitá-las.
Concluo, assim, que quer a Nova Direita no Parlamento para garantir uma solução governativa à direita?
Exatamente. Foi esse o cálculo que já fizemos há um ano, quando começamos a preparar o partido. Está a acontecer aquilo que era mais previsível, que eram estas “linhas vermelhas”, que inviabilizam uma solução governativa à direita, e o eleitorado está a sentir isso. Por isso, é que temos 20% de indecisos, mesmo na situação em que nos encontramos.
Já falámos da imigração, mas gostava de lhe perguntar quais as outras bandeiras do partido para esta campanha?
Permita-me uma correção: temos uma preocupação com a imigração, temos soluções para esse tema no nosso programa, mas está longe de ser a nossa maior preocupação. A nossa maior preocupação, neste momento, é a situação económica e demográfica de Portugal. Precisamos de encontrar soluções para estas questões, estão interligadas, e gostava de destacar essa “bandeira” patriótica da questão demográfica. Temos uma série de propostas para resolver isso, queremos começar a trabalhar imediatamente para que os jovens portugueses voltem a não ter medo de ter filhos, porque está em causa a sobrevivência das famílias – que são, na nossa opinião, o alicerce social – e do próprio País, é a própria sobrevivência de Portugal que está aqui em causa.

Desculpe voltar ao tema, mas: a imigração também não ajuda a resolver o problema da natalidade?
É natural que as famílias imigrantes que cá estão façam filhos, é normal, até é um bom sinal. Não concordamos é que devemos resolver todos os problemas com a imigração. Os imigrantes fazem filhos que portugueses não querem fazer, fazem trabalhos que os portugueses não querem fazer, quer dizer, daqui a pouco o que justifica a existência do País? Portugal tem pessoas e não pode depender da imigração. É preciso apelar ao sentido patriótico dos portugueses, de voltar a acordar o orgulho em ser português. Os jovens, hoje em dia, já nem sabem o que é isto de se ter uma nação, um país, um território… E, numa fase em que as posições estão polarizadas, essa união entre as pessoas, essa pertença a um país, supera qualquer diferença ideológica, qualquer diferença racial, qualquer diferença cultural. Claro que esta tem de ser a tendência, sei que quando falo disto dizem logo que estou a falar como o Salazar, mas eu não conheci o Salazar, isto não tem nada a ver com isso, mas com o facto de ser preciso despertar esse sentido patriótico, para que, nas horas mais difíceis, seja um fator de união entre as pessoas e que essa união, esse amor a Portugal, prevaleça além das diferenças que possam existir.
O que seria um bom resultado para o Nova Direita no dia 10 de março?
Seria excelente entrar na Assembleia da República, mas temos consciência de que o partido tem apenas dois meses de vida. Não podemos ficar desiludidos se, nesse período, não tivemos a capacidade de mobilizar o número suficiente de pessoas para entrar no Parlamento. Sentimos a pertinência da nossa proposta, as pessoas têm manifestado muito interesse no Nova Direita, mas sabemos que pode não chegar. Isso apenas significa que se não entrarmos agora, entraremos, certamente, na próxima. Seria importante para o País sermos eleitos, mas temos tempo. É importante trazer eleitorado para a direita e combater a esquerda que, realmente, tem sido bastante nociva para o País.