Sob a liderança de Bruno Fialho, o Alternativa Democrática Nacional (ADN) tornou-se porto de abrigo de vozes contracorrente. Da agenda continua a fazer parte a oposição às medidas para a contenção da Covid-19, promovidas por Governo e DGS – os outdoors do partido são já imagem de marca. O posicionamento tem garantido “um crescimento de militância bastante superior ao dos restantes partidos [sem assento parlamentar]”, assinala Fialho. Com uma forte bancada evangélica, o ADN concorre, pela primeira vez, aos 22 círculos eleitorais.
Em entrevista à VISÃO, o presidente do ADN – e cabeça de lista por Lisboa –, apresenta as bandeiras e metas do partido para as eleições legislativas do dia 10 de março.
Rejeita a ideia de liderar uma força preconceituosa, e dispara contra o Chega e André Ventura que, defende, tem “roubado” as matérias e as campanhas do ADN. Bruno Fialho acredita estar “à beira de ser eleito” por Lisboa e promete “fazer a diferença” na Assembleia da República.
O ADN tem-se destacado como partido de protesto: é contra as medidas de confinamento e vacinação da Covid-19, contra o que designa como “ideologia de género”, contra a imigração, que considera descontrolada… O ADN não corre o risco de ser visto como um partido de protesto, e não um partido com soluções?
Não. Um partido de protesto apenas protesta. O ADN, por sua vez, aborda os temas que mais preocupam os portugueses, mas também apresenta soluções. E isso acontece ao contrário de outros partidos, alguns deles até presentes na Assembleia da República…
Hoje, o ADN junta pessoas que faziam parte de diversos movimentos civis e religiosos: católicos, evangélicos, libertários, pessoas que se destacaram na luta anticonfinamento e antivacinas durante a pandemia… Como é que se constrói um projeto político coerente com pessoas tão diferentes?
Em primeiro lugar, o ADN não tem problemas no Tribunal Constitucional, como têm outros partidos… É fácil conjugar as pessoas, quando os objetivos são os mesmos, mesmo que essas pessoas tenham posições que, à partida, podem parecer antagónicas… Temos pessoas que são de direita, pessoas que são de esquerda, pessoas que são do centro… Estamos determinados a criar políticas humanistas para o País, e isso não é ideologia. Desde que exista respeito, torna-se fácil gerir a situação, gerir ideias diferentes, gerir egos… Ao invés de estarmos focados no que nos divide, estamos focados no que queremos para o País, nos nossos objetivos. O ADN é uma família.

O ADN tem uma agenda contra o que designa como “ideologia de género”, contra o que diz ser o “lóbi gay”… E é muitas vezes acusado de ser anti-LGBTQIA+. É um partido preconceituoso em relação às minorias sexuais?
Não somos contra a comunidade LGBTQIA+, somos contra o lóbi LGBTQIA+, o que é muito diferente. E digo mais: temos o apoio das comunidades de gays e lésbicas contra o lóbi LGBTQIA+, que está a destruir tudo o que estas pessoas conseguiram construir ao longo dos anos. O lóbi LGBTQIA+ é uma ideologia que se quer impor na sociedade e, em particular, doutrinar crianças contra bases científicas e biológicas que são indestrutíveis do ponto de vista lógico.
Essa posição não pode ser considerada homofóbica e transfóbica?
Os extremistas é que metem carimbos a quem pensa de maneira diferente. Nós não somos homofóbicos nem transfóbicos. Queremos é as coisas nos seus devidos lugares.
Se estivesse no Governo, pensava reverter direitos e garantias das minorias sexuais. O casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo…
O casamento homossexual é uma coisa, os direitos dos homossexuais garantidos pelo casamento é outra. As pessoas que vivem em comunhão de facto devem, obviamente, ter os mesmos direitos, seja qual for o sexo dos parceiros. Agora, se me perguntar se a atual lei do casamento homossexual foi feita à revelia do que é histórico na sociedade, isso é verdade… Mas já ultrapassámos essas questões, as coisas estão feitas, e não queremos revogar nada. Esse assunto não interessa ao ADN.
A lista de candidatos do ADN inclui pessoas que ficaram conhecidas por contestarem as medidas para combater a pandemia. Anabela Seabra, por exemplo, conhecida como a “mulher do megafone”, esteve envolvida num momento polémico, quando “atacou” Eduardo Ferro Rodrigues, então presidente da Assembleia da República. Não é uma desvantagem ter pessoas polémicas nas listas?
A Aliança Democrática (AD) é constituída por um partido [PPM], que é liderado por um candidato [Gonçalo da Câmara Pereira] que, pelos vistos, achava bem bater em mulheres. E, pelos vistos, a AD está em 1.º lugar [nas sondagens]. O que a Anabela Seabra fez, como cidadã, não nos parece que prejudique o ADN… A não ser que os eleitores estejam muito confusos. Aquilo foi uma manifestação de indignação pelas crianças que foram violadas no processo Casa Pia. A ação pode ser considerada exagerada, mas quando uma pessoa está em defesa de crianças exalta-se… São momentos em que a emoção ganha à razão.

Quais são as bandeiras do partido para estas legislativas?
Temos uma ideia principal: queremos ver o contrato eleitoral na lei. Se os partidos e deputados não cumprirem as promessas eleitorais, o partido deve perder a subvenção e o deputado deve ser demitido. Temos de limpar a política portuguesa, mas de verdade, não como alguns andam por aí a dizer. Defendemos também a redução de impostos, numa ótica centrada na família. E queremos emagrecer a despesa pública, em todas as atividades supérfluas, como banquetes, festas e viagens do Presidente da República e do Governo, etc… Se fizermos contas a essas despesas, ultrapassamos facilmente os mil milhões de euros anuais. É muito fácil reduzir impostos.
Já não é a primeira vez que faz uma referência ao Chega nesta entrevista. Usa o termo “limpar Portugal”, também utilizado por esse partido. O Bruno Fialho está a inspirar-se em André Ventura?O Chega é que copia o ADN, e posso provar isso. Aliás, algumas das posições do Chega são coisas que o ADN já tinha dito anteriormente. São eles que nos copiam e deviam ter vergonha. Nós temos o discurso, não eles. O Chega copia matérias e campanhas do ADN. Estamos a ser roubados por quem tem mais poder. O que podemos fazer é continuar fiéis a nós próprios, lutar para que as pessoas percebam que as ideias são nossas, e que acabam associadas a outro partido apenas porque este tem mais presença no espaço mediático.
Quais são as metas para dia 10 de março?
Sinceramente, independentemente do resultado, gostava, primeiro, que as pessoas abrissem os olhos, finalmente. Que percebessem que estamos a viver numa ditadura, que isto não é uma democracia e que precisamos, realmente, de tomar medidas disruptivas contra todos estes governos e leis que têm maltratado a população portuguesa. Temos esperança de eleger um deputado [para o Parlamento], sentimos muito apoio da sociedade civil, as nossas ações contam com um número muito superior aos de outas forças política sem assento parlamentar… Espero que, no dia 10 de março, as pessoas que nos apoiam nas redes sociais saiam de casa e votem, porque nós é que somos o verdadeiro voto útil. O ADN é que vai fazer a diferença no Parlamento.