A operação Tutti Frutti tem estilhaços que se estendem por vários pontos do País. Um deles apanha o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, que é líder da distrital do PSD no Porto, onde tem como coordenador autárquico um dos 60 acusados no processo que abrange vários sociais-democratas e socialistas, acusados de pertencerem a uma teia de promiscuidade em Lisboa.
Manuel Ricardo Dias dos Santos Fonseca de Almeida é um nome que dirá pouco à maioria dos portugueses, mesmo àquele que prestam mais atenção à política. Mas é um dos que consta da lista de acusados pelo Ministério Público na operação Tutti Frutti e é também um dos homens fortes da distrital do PSD Porto, liderada por Pedro Duarte, que é o mais provável candidato social-democrata à autarquia portuense.
Ricardo Almeida é consultor de empresas na área da gestão, ambiente, comunicação e investimentos e aparece como acusado de um crime de abuso de poder, por causa dos acordos que estabeleceu com Carlos Eduardo Reis, o deputado do PSD e vereador em Barcelos que, juntamente com o ex-deputado laranja Sérgio Azevedo, é descrito pelo Ministério Público como um dos pivôs de um esquema que terá lesado o Estado em mais de 500 mil euros.
O “amigo” de Carlos Eduardo Reis
Na acusação a que a VISÃO teve acesso, Ricardo Almeida é descrito como “amigo de Carlos Eduardo Reis” e recorda-se a sua passagem pela administração da empresa municipal de Gaia Gaianima que lhe valeu uma condenação a três anos e meio de cadeia com pena suspensa num caso que levou até ao Tribunal da Relação, onde viu a pena confirmada.
Na operação Tutti Frutti, Ricardo Almeida intervém num processo de “colocação de relvado sintético, sistema de iluminação, sistema de rega e vedações na Freguesia de Oliveira do Douro”, como administrador da Gaianima, para, segundo a acusação, beneficiar a empresa de Carlos Eduardo Reis.
“Foi Ricardo Almeida quem decidiu, em concertação de esforços e mediante plano delineado conjuntamente com Carlos Eduardo Reis, que seria a sociedade comercial da qual este era sócio-gerente, a AMBIGOLD, que iria ser futuramente contratada pelos clubes, a fim de realizar os trabalhos”, escrevem os procuradores.
O Ministério Público acredita que “Ricardo Almeida conferiu a Carlos Eduardo Reis o poder de definir os concretos valores dos apoios financeiros que viriam a constar dos contratos a ser celebrados entre a GAIANIMA e cada um dos três clubes”.
A condenação
Em 2018, Ricardo Almeida já tinha sido condenado por factos relacionados com contratos de empreitada, a contratação de empresas de comunicação, de um cartaz publicitário e de uma empresa de consultadoria aquando da dissolução da Gaianima e de uma parceria com um ginásio para a exploração das piscinas municipais, sem que tenham sido cumpridas as obrigações legais da contratação pública, num ajuste direto sem consulta ao mercado.
A Gaianima, que geria eventos ligados à animação e equipamentos desportivos para o município de Vila Nova de Gaia, foi extinta em 2015, depois de uma auditoria externa ter revelado um passivo de 14 milhões de euros e casos de violação da lei dos compromissos e de desrespeito pelas regras de contratação pública.