O carro onde seguiam dois repórteres da RTP ficou de baixo de fogo das tropas israelitas na Cisjordânia. Os jornalistas saíram ilesos, mas o episódio demonstra a forma como os media têm sido um alvo no conflito entre Israel e Gaza. O Ministério dos Negócios Estrangeiros entrou em contacto com a representação de Portugal em Ramallah para garantir que os repórteres estavam bem, mas não fez qualquer comunicado a condenar o incidente.
Segundo o Committee to Protect Journalists, desde o início da ofensiva a Gaza desencadeado pelo ataque terrorista do Hamas a 7 de outubro de 2023, pelo menos 116 jornalistas e trabalhadores de media foram mortos. O que faz deste o conflito mais mortífero para profissionais da imprensa desde 1992, de acordo com a mesma organização. O número é ainda mais alto segundo a Repórteres Sem Fronteiras, que conta mais de 130 profissionais da comunicação social mortos em Gaza pelo exército israelita desde outubro.
É neste contexto que surge o incidente que envolveu a equipa da RTP, no momento em que tentava entrar em Jenin, na Cisjordânia, e que, ao que a VISÃO apurou junto da direção do canal público, seguiria num carro alugado, mas devidamente identificado como sendo da imprensa.
RTP queria fazer reportagem sobre ataque a refugiados
Paulo Jerónimo e João Oliveira, que escaparam por pouco aos tiros dirigidos contra o veículo em que seguiam e que tiveram de voltar para trás sem fazer a reportagem, iam fazer a cobertura do ataque que está ser levado a cabo por Israel contra refugiados palestinianos em Jenin.
“Israel está a destruir este campo de refugiados no norte da Cisjordânia e os militares disparam indiscriminadamente contra quem se aproxima”, descreve a RTP.
“Eles disparam para tudo o que mexe, para tudo o que se tenta aproximar. Não dão sequer oportunidade de diálogo ou de estabelecer um contacto”, descreveria depois o enviado da RTP Paulo Jerónimo em direto, explicando que “são disparos diretos, não são sequer de intimidação”.
Paulo Jerónimo contou, aliás, que pouco depois do incidente com a equipa da RTP houve outro grupo de jornalistas a ficar debaixo de fogo no mesmo local quando tentavam cobrir os ataques na Cisjordânia para onde o conflito está a alastrar.
Paulo Rangel em silêncio
O ataque, que impediu a cobertura que a RTP queria fazer, não foi, contudo, condenado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Fonte do gabinete de Paulo Rangel disse à VISÃO não estar prevista qualquer reação ao incidente.
A mesma fonte assegurou, porém, que a preocupação do MNE foi confirmar que os dois repórteres estavam bem, estando em “contactos com a representação portuguesa em Ramallah” para acompanhar a situação.
Em maio, Paulo Rangel recusou, em entrevista ao El País que esteja a ocorrer um genocídio em Israel, poucos dias antes de o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir mandados de captura contra líderes israelitas por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos em Israel e Gaza. “Seria muito injusto dizer que Israel pretende eliminar o povo palestiniano”, disse na altura Rangel ao diário espanhol.
Esta semana, o ministro admitiu a possibilidade de Portugal aplicar sanções a Israel, reconhecendo ter havido uma deterioração da situação [no Médio Oriente], mas apenas “se houver consenso europeu”.
O Governo português tem adiado uma resolução sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, alegando ser preciso um consenso mais alargado para esse passo.
No entanto, a Palestina já é reconhecida enquanto Estado por 143 dos 193 países que fazem parte da Organização das Nações Unidas, incluindo por países como Espanha, Irlanda e Noruega.