Parece ser quase uma tempestade perfeita a contestação social com que o Governo está a braços, há um mês consecutivo, tendo em conta a sucessão de protestos de setores em relação aos quais não se esperaria tais gestos, principalmente devido à sua persistência, como os polícias, os agricultores ou os bombeiros. Este cenário estaria longe de ser digno de registo se o País não estivesse à beira de umas eleições legislativas antecipadas, com o Executivo de António Costa a alegar estar com poderes limitados para conseguir responder aos diversos cadernos de encargos com que tem sido confrontado.
Desde o dia 8 de janeiro, quando as forças de segurança fizeram das ruas não o seu local de trabalho mas o da reivindicação musculada e intransigente, juntaram-se aos protestos os agricultores, os bombeiros e agora os professores. O estado de latência é transversal, neste momento: outras jornadas de luta estão sobre a mesa por parte dos elementos da PSP e da GNR; o setor agrícola não está totalmente apaziguado, apesar das promessas do Governo em abrir os cordões à bolsa; os bombeiros, depois de uma inédita concentração em Lisboa que não teve a mão nem de sindicatos nem de associações, repetem o gesto no Porto, neste sábado; e os docentes, já com uma greve na passada semana, a cargo do STOP, avançam sob o comando da Fenprof para dez dias de luta, a arrancarem no primeiro dia da campanha eleitoral e a prolongarem-se até ao dia 8 de março – ou seja, a pouco mais de 24 horas de se iniciar a votação para as legislativas.