De todas as lições que o antigo primeiro-ministro e Presidente da República do PSD quis deixar escritas no seu “O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar”, apresentado, nesta sexta-feira, no Grémio Literário, em Lisboa, Aníbal Cavaco Silva destacou a exigência de uma remodelação governamental. O social democrata não se esqueceu, no entanto, de afastar as pontes com a atualidade, negando que os episódios do último ano, como o caso Galamba, lhe tenham servido de inspiração. O que não impediu a plateia lotada de pensar nisso a avaliar pelos risinhos comprometedores que destacados militantes do PSD fizeram quando Durão Barroso, convidado para apresentar a obra, escolheu também esta passagem do livro para ler.
“A tarefa mais difícil para um primeiro-ministro é a realização com sucesso de uma verdadeira remodelação ministerial. Exige sangue frio, sigilo, preparação e execução meticulosas. Apanhar a comunicação social e o país político de surpresa é o ideal”, defendeu o primeiro-ministro social-democrata entre 1985 e 1995, que fez duas grandes remodelações durante os seus mandatos (em janeiro de 1990 e em dezembro de 1993).
Cavaco Silva admitiu que hoje será mais difícil conseguir este efeito “surpresa”, tendo em conta a agenda mediática frenética, mas ressalvou que, ainda assim, “o supremo interesse nacional deve sempre prevalecer”.
Segundo o antigo governante, esta tese foi desenvolvida antes do período mais intenso de crises que visaram vários ministros de António Costa, pois o livro estava terminado há oito meses. E, por isso, não são reação direta à postura do atual primeiro-ministro (que mostrou resistência em deixar cair alguns dos seus ministros envolvidos em casos polémicos).

Também o antigo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, havia selecionado esta passagem, minutos antes, como ideia central da obra, incentivando “todos os primeiros-ministros” a “decorar esta lição” de um texto “sério, sóbrio, formal, rigoroso e claro”.
“São conhecidos casos de ministros que, não obstante, a reconhecida incapacidade para o exercício das funções, o primeiro-ministro os mantêm. Aqui está uma lição”, concretizou Durão Barroso. Acrescentando que “culpar o Governo anterior para além do período seis meses mostra incapacidade do primeiro-ministro”, e assim arrancou uma gargalhada cúmplice à sala, onde se encontravam destacados membros do PSD, desde o líder, Luís Montenegro, ao presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, ao presidente da bancada parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento, à mulher do antigo Presidente da República Ramalho Eanes, Manuela Eanes.
Estiveram ainda presentes familiares de Cavaco Silva (a filha Patrícia e a mulher Maria Cavaco Silva); antigos ministros dos seus governos entre 1985 e 1995, como Leonor Beleza, Manuel Ferreira Leite, Eduardo Catroga, Mira Amaral, Teresa Patrício Gouveia e Marques Mendes. Além da antiga presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, o ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, e Nunes Liberato, que foi chefe da Casa Civil de Cavaco Silva enquanto Presidente da República.