Ana Moisão, antiga presidente da distrital de Beja do Chega, abandonou o partido e irá manter-se como vereadora independente na Câmara Municipal de Serpa. A decisão foi comunicada a André Ventura há vários dias e esta quarta, 21, à noite, a ex-dirigente anunciou a saída na sua página pessoal no Facebook. “Foi uma decisão muito refletida e ponderada, motivada por algumas divergências e discordâncias internas, que vão permanecer internas”, justificou a autarca. “Estou triste com a situação, aliás muito triste, pois não era este o desfecho que desejava”, assume, em declarações à VISÃO. “Quero seguir tranquilamente e focar- me no meu trabalho no município onde estou eleita. Felizmente, não dependo da política para viver e, portanto, estou preparada para todos os riscos que esta decisão possa trazer no futuro, nomeadamente a nível autárquico. Saio de consciência tranquila, tentei ajudar o partido a crescer na região e foi sem dúvida uma enorme aprendizagem”, resume.
O Chega elegeu 19 vereadores nas autárquicas de 2021, mas com a saída de Ana Moisão são já sete os que passaram a independentes.
A eleita de Serpa tem evitado a todo o custo trazer a público detalhes sobre a degradação da sua relação com o partido e com o próprio líder. Na hora da desvinculação voltou a agradecer ao Chega a “oportunidade” que lhe deu. Contudo, na carta em que comunica a sua desfiliação de militante, Ana Moisão queixou-se de “ataques” pessoais de que terá sido alvo por parte da nova direção distrital e denunciou “problemas” de funcionamento daquela estrutura de Beja e nos órgãos do partido. Ao que apurou a VISÃO, a vereadora lamenta ainda a existência de mensagens privadas a proibir militantes de se relacionarem com ela.
O desconforto da autarca já vinha de longe.
Ana Moisão demitiu-se em janeiro de presidente da distrital de Beja por “falta de lealdade do presidente do partido”. Por essa altura, queixara-se da falta de apoio da direção nacional e do grupo parlamentar às reivindicações distritais sobre vários temas da região, para além de lamentar a falta de apoio financeiro. A gota de água foi, porém, a circunstância de André Ventura ter comentado internamente, ao detalhe, um e-mail confidencial da vereadora em que esta lhe reportava as opiniões de Nuno Afonso sobre algumas das pessoas que rodeavam o próprio líder. A carta de Ana Moisão à Mesa do Conselho Nacional formalizou a demissão com base na falta de confiança no partido e na quebra da palavra do presidente.
Nas redes sociais, a autarca de Serpa já garantiu que irá honrar o compromisso com os munícipes. “Guardo a mesma convicção e sentido de responsabilidade do primeiro dia em que me lancei nesta aventura, sem derivas ou condicionantes ideológicas e partidárias”, escreveu.
Ana Moisão junta-se assim a Nuno Afonso (Sintra), Cidália Figueira (Moura), Márcio Souza (Sesimbra), Henrique Freire (Seixal), Ivo Pedaço (Moita) e Luís Forinho (Entroncamento), que também passaram a vereadores independentes. O próximo poderá ser Fernando Silva (Vila Verde) que, no entanto, não abre o jogo: “Posso apenas dizer que compreendo muito bem as razões da saída da Ana e estou solidário com ela. Pelo que sei, estava a fazer um bom trabalho”.