Proximidade: é a palavra que os une. Todos os candidatos à liderança da Iniciativa Liberal (IL) dizem apostar no crescimento do partido, tornando-o mais popular, indo ao encontro dos portugueses e sem cedências a “populismos”. Mas se o deputado Rui Rocha quer percorrer este caminho calçando os sapatos de Cotrim de Figueiredo, já a parlamentar Carla Castro e o conselheiro nacional José Cardoso – que se juntou à corrida na reta final – trazem promessas de rutura. Da economia, à saúde e à educação, conheça o pensamento dos três liberais, que vão disputar o lugar de Cotrim na Convenção Nacional do partido, marcada para 21 e 22 de janeiro.
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Até onde iria para garantir condições de governabilidade à direita? Admite uma coligação ou um acordo que inclua o Chega?
CC– Primeiro, as soluções e o projeto, e só depois os lugares, mas confirmo que não o incluo [Chega] em qualquer solução governativa.
RR – A estratégia da IL é clara e exclui taxativamente qualquer acordo com os partidos de esquerda, responsáveis pelo atraso do País, e com partidos de cariz populista. O Chega é um partido que discrimina e que quer suprimir a liberdade do indivíduo para impor a sua visão de mundo. Além disso, é cada vez mais estatista no plano económico. Na IL, acreditamos na iniciativa privada. Não há qualquer hipótese de entendimento com o Chega.
JC – A IL toma decisões baseadas em Ciência, factos e práticas europeias. Como tal, não pode estar no mesmo governo com populistas. Defende liberdades individuais, por isso não pode estar com quem julga as pessoas pela sua raça, religião ou etnia. Comigo estaremos disponíveis para governar ou dar apoio parlamentar a quem respeite a liberdade das pessoas e queira reformar Portugal.
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No caso de a IL integrar um governo de centro-direita, para que pastas estaria o partido mais vocacionado? E se fosse convidado(a) a assumir responsabilidades governativas, em que cargo se sentiria mais confortável?
CC – A minha preocupação principal é obter resultados que nos levem a ter uma influência direta nas políticas; as novas linhas azuis seriam transversais a qualquer pasta. Mas há áreas que necessitam, com urgência, de um impacto liberal, nomeadamente, as da Saúde, Educação, reforma do Estado e da Justiça, sem esquecer as políticas para a competitividade da economia.
RR – Os cargos não são importantes. Queremos uma solução para o País muito diferente daquela que temos hoje. Queremos alterar o sistema eleitoral, uma reforma do modelo de Segurança Social, um limite à despesa do Estado, um limite à carga fiscal e liberdade de escolha na Saúde e na Educação. Qualquer solução pós-eleitoral com o PSD terá de ter um caderno de encargos claro com estas reformas, com um calendário de implementação e com objetivos muito bem definidos.
JC – A vocação da IL terá de ser para governar em qualquer sítio e posição. Daí a importância de trabalhar o capital humano e intelectual. Só capacitando novos quadros poderemos estar preparados para governar.
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Cotrim de Figueiredo justificou a sua saída antecipada com a necessidade de a IL protagonizar uma oposição mais “combativa” e “popular”. Como pensa seguir este caminho?
CC – A estratégia que seguimos está esgotada, e eu concordo. O PS, como Governo, está esgotado, em decomposição e sem soluções. Porém, as sondagens, e as eleições do último ano, dão-lhe uma maioria absoluta. Está na altura de mostrar ao País que há mais desafios e soluções liberais além da fiscalidade. E crescer no País implica ter mais capacitação interna para ganhar espaço mediático. Pretendemos estar presentes na sociedade civil, ter um partido virado para fora e contar com estruturas, como o Gabinete de Estudos mais desenvolvido e a Academia Liberal.
RR – Não se pode confundir popular com populista. Uma oposição popular é uma oposição que se centra mais nos temas que afetam as pessoas, no seu dia a dia. A IL tem bandeiras muito fortes, como a redução da carga fiscal, da burocracia e a liberdade de escolha na Saúde e Educação. É importante adicionarmos propostas para a habitação, transportes, Justiça e ambiente. Além disso, quero implementar um estilo de maior proximidade na IL, com iniciativas mediáticas, todas as semanas, pelos vários pontos do País, com os núcleos do partido.
JC – Não gosto de popular nem de populismo, nem de presidencialismo, nem acredito em Dom Sebastiões. Acredito num partido próximo dos cidadãos, que lhes resolva os problemas e não para os encantar com selfies. Defendo, há quatro anos, no partido, um conceito de liberalismo de proximidade, que espero pôr em prática.
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O que o(a) distingue dos outros candidatos?
CC – Tenho outra visão do partido, internamente. Quero aproveitar o potencial dos membros e simpatizantes, num partido colaborativo, em rede e no qual os membros possam ter um papel ativo. Um partido virado para fora, em crescimento, a chegar ao eleitorado e a marcar a agenda política, com vontade de liberalizar o País. Uma liderança próxima, no terreno, e bater sola por todo o País.
RR – Sou o candidato que tem mais energia, criatividade e combatividade para fazer oposição ao PS. Tenho também a melhor equipa, com as pessoas que lideraram a história de sucesso do partido, as nossas campanhas eleitorais e a nossa comunicação disruptiva. E é essa equipa que está em condições de realizar as reformas internas de que o partido precisa – equipa de suporte aos núcleos, formação aos autarcas, novos meios de comunicação interna, como o Portal do Membro –, para que possamos estar mais capacitados para crescer ainda mais, rumo aos 15% nas legislativas de 2026.
JC – Tenho sido sempre coerente com este posicionamento, rejeitado pelos meus “adversários” políticos nesta eleição, que, tendo estado na mesma Comissão Executiva, nada acolheram para mudar a nossa prática política.
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A TAP deve ser privatizada a qualquer preço ou pode haver circunstâncias em que seja preferível fechar? Quais?
CC – Somos a favor de que Governo não esteja onde não tenha de estar e custa demasiado caro aos portugueses – que perceberam isso depois de €3,2 mil milhões num buraco financeiro.
RR – Trata-se de uma decisão política errada, contra a qual a IL esteve sozinha desde o início. Defendemos que a TAP deve ser privatizada e que o valor que resultar dessa privatização seja devolvido aos portugueses, através da atribuição de um cheque TAP.
JC – Deve passar para a iniciativa privada. Com a venda, espero que o valor pago pelo Estado nestes anos seja devolvido para reduzir o IRS das pessoas que pagaram esses apoios, ou seja todos nós.
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A oferta instalada na área da Saúde no setor privado colmataria as falhas do SNS? Os privados têm capacidade de resolver os problemas do SNS?
CC – A nossa reforma é, desde 2019, muito mais do que pôr os privados dentro do sistema. A saúde tem de ser independente do Ministério das Finanças, temos de garantir um planeamento concorrencial – isto é: menos dependente do Estado Central, de homens providenciais e de CEO. Ou seja: ter várias ADSE (ou subsistemas) a concorrer umas com as outras e a procurar inovação e soluções de gestão. Finalmente, queremos dar liberdade de escolha aos utentes dentro de cada rede e subsistema.
RR – As parcerias com privados são um instrumento de gestão adequado, ao qual se pode recorrer sempre que a solução seja a mais vantajosa. Os hospitais do sistema de saúde, geridos por entidades públicas ou privadas, não podem ser o destino de todas as situações, mas apenas das urgentes, devendo reforçar-se a rede de unidades que, com gestão pública ou privada, permite triar os casos que não precisam de chegar a uma urgência hospitalar. Connosco, as PPP na Saúde, que tanto dinheiro pouparam ao Estado enquanto ofereciam melhor serviço às pessoas, segundo diversos estudos oficiais públicos, estarão de regresso. O que importa é que as pessoas vejam o seu problema de saúde resolvido e que não estejam perdidas em listas de espera.
JC – A mudança é mais acima. O SNS deve ser um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde, que aproveita toda a capacidade instalada, e não uma agregação de prestadores de serviços públicos. A liberdade de escolha das pessoas levará a um maior dinamismo na oferta.
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No caso de ser instituída a “liberdade de escolha” que a IL defende: o ensino privado devia ser obrigado a acolher alunos com potencial problemático ou devia continuar a filtrar os “melhores”, como acontece agora?
CC – A igualdade de oportunidades, o apoio a quem dele precisa e a não reprodução das desigualdades sociais são fundamentais. O sistema que defendemos passa por não deixar ninguém de fora, mas também ninguém para trás.
RR – O mais importante é garantir o acesso universal de todos os alunos a um ensino de qualidade, independentemente da sua condição socioeconómica, com muito mais autonomia para as escolas. Em muitas localidades fora das zonas urbanas, não há oferta privada, e aí o código postal tem de deixar de ser fator de acesso. Obviamente que as escolas que quiserem aderir ao sistema não poderão discriminar, sejam elas de natureza privada ou pública.
JC – Se o Estado orçamentar por aluno e der aos pais a liberdade de escolha, o aluno poderá estar em qualquer escola pública ou privada, já que o “apoio” seguirá o aluno para onde ele estiver melhor. O Estado deve ser regulador, mas não intervencionista, e permitir todo tipo de ofertas letivas para essa escolha.
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Que alterações faria ao sistema eleitoral?
CC – O círculo de compensação parece-me a reforma mais premente, para que os votos não sejam perdidos. As nossas eleições desprezam milhares de votos, e estamos a falar do exercício de um direito que fica menorizado, e com ele a democracia ainda mais fragilizada.
RR – A reforma mais urgente é a criação de um círculo de compensação nacional, que evite que mais de 700 mil votos dos portugueses sejam desperdiçados.
JC – Proximidade eleito/eleitor. Votos em pessoas e não em listas. Quero, por exemplo, o eleitor de Viseu a eleger os seus candidatos, sabendo quem são, e não por listas feitas em Lisboa.
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Depois da queda do Muro de Berlim, os comunistas disseram que o sistema falhou devido aos “desvios”, mas que o ideal se mantinha válido. Os mesmos argumentos não foram usados, pelos liberais, no caso do falhanço do governo Truss?
CC – O meu liberalismo obriga-me a respeitar as gerações futuras. O controlo do défice e a dívida são mais do que exigências de Bruxelas: são o nosso dever enquanto pais. O que a antiga primeira-ministra defendeu não tem nada que ver comigo ou com a IL.
RR – Face a uma crise internacional, o governo conservador procedeu a um aumento de despesa pública e a um monumental aumento da dívida pública para fixar preços na energia, ao mesmo tempo que baixava impostos. Ora, fixar preços, aumentar despesa e dívida públicas nada tem de liberal. Já passámos por esta irresponsabilidade em Portugal com o PS de José Sócrates. Nós defendemos que os impostos devem ser reduzidos, ao mesmo tempo que se reduz despesa, para que não haja défices – sempre com responsabilidade financeira.
JC – O que aconteceu com o governo Truss foi mais uma loucura económica, que nada tem que ver com o liberalismo. A redução da receita fiscal obrigava a mais endividamento. Onde é que os liberais defendem o endividamento como solução?
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Como compensaria, durante o período de transição, o efeito da queda de receitas, o agravamento do défice e o impacto nos mercados, quando aplicasse a descida de impostos defendida pela IL?
CC -Temos de ter orçamentos de base zero, em diferentes entidades públicas, com o objetivo de reformular ou rever 25% dos serviços do Estado, de cada organismo. A ideia é definir primeiro o orçamento de cada serviço e ver como se pode repensar a oferta pública, tendo-se essa restrição presente. Também é importante dizer que as soluções não passam por congelar a despesa pública e esperar que a economia cresça. O que defendo é uma mudança de paradigma: reduzir o papel do Estado na economia.
RR – Em primeiro lugar, através do crescimento económico. Portugal tem estado praticamente estagnado. Em segundo, através de uma gestão mais eficiente dos recursos, eliminando as ineficiências do Estado. Falo, por exemplo, do regresso das PPP na área da Saúde; o mesmo para a Educação; de um novo Sistema de Informação e Organização do Estado, para que haja uma melhor gestão e utilização racional do dinheiro dos portugueses, com a redução constante do setor empresarial do Estado ao invés de se desbaratar milhares de milhões de euros, como aconteceu na TAP e outras empresas públicas.
JC – A descida dos impostos não é uma medida isolada. A ideia de criar uma sociedade com mais dinâmica económica obriga a utilizar os impostos como ferramenta. O Estado terá neste ano mais €30 mil milhões de receitas do que quando António Costa tomou posse. Baixar é um problema? E aumentar não é?
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Liberalização das drogas leves: sim ou não?
CC – Sim.
RR – Sim. Defendemos a legalização da produção, venda e uso de canábis.
JC – Sim. Liberdade com responsabilidade na mão das pessoas.
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Qual o seu livro, disco e filme favoritos?
CC – Um livro que me marcou na adolescência foi a Autobiografia, de Agatha Christie. Disco, hoje escolheria A Little Less Conversation, Elvis Presley. E prefiro recomendar uma série: The West Wing [Os Homens do Presidente].
RR – A Criação do Mundo, de Miguel Torga; Back To Black, de Amy Winehouse; e Black Swan [Cisne Negro].
JC – Um clássico: Blade Runner. Junta a minha paixão pela tecnologia, a humanização das máquinas, que creio ser tema dentro de 50 anos, e o colapso da Humanidade, se não soubermos gerir o nosso planeta.