“Uma maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinho, é uma responsabilidade acrescida.” Palavras de António Costa, na noite da vitória eleitoral de 30 de janeiro, quando o eleitorado concedeu ao PS uma maioria absoluta com 41,4% dos votos e 117 deputados (a que se somaram mais três, dos círculos da emigração). Quase um ano volvido, a 15 de dezembro, o primeiro-ministro resumia, numa impactante entrevista à VISÃO: “Foram nove meses de inferno e correria.”
Apenas nove meses, porque o Governo saído de eleições só tomaria posse 60 dias depois do ato eleitoral, devido ao primeiro grande fiasco político do ano: o da repetição das eleições no círculo eleitoral da emigração, na Europa, a 27 de fevereiro, depois de uma incompreensível trapalhada na contagem e na validação dos votos, à primeira tentativa. Um protesto do PSD sobre a irregularidade acabou por se revelar um tiro pela culatra: na “segunda volta”, os sociais-democratas perderiam o seu deputado pela Europa, a favor dos socialistas. Depois de tudo isto, quando chegou o dia da tomada de posse do Governo, 30 de março, a euforia da vitória tinha-se esfumado, perante as nuvens negras que se perfilavam: o mundo que esperava o novo Governo socialista já não era o mesmo em que o PS tinha disputado e ganhado as eleições e se apresentara cheio de confiança: a 24 de fevereiro, a Rússia tinha desencadeado a “operação militar especial” que redundara na invasão da Ucrânia. Em Lisboa, instalado num inesperado limbo político, um Executivo de gestão, com o Parlamento dissolvido, arrastava-se no tempo, desde outubro de 2021, tomando decisões críticas, no quadro da maior crise internacional desde a Segunda Guerra do Golfo. No momento da posse, o novo Governo, saído da maioria absoluta, já se apresentava cheio de olheiras e metafóricos cabelos brancos…