Mais de três horas depois de pôr em sobressalto a classe política e as redes sociais, com as suas declarações sobre os números das denúncias recebidas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI), liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Stretch, Marcelo Rebelo de Sousa assegurou, ao início da noite desta terça-feira, que foi mal entendido.
Numa nota da Presidência da República, o chefe de Estado argumenta que jamais esteve em causa uma desvalorização dos dados em causa e elogia o trabalho realizado até agora por aquela comissão, admitindo que a quantidade de denúncias poderá não traduzir a real dimensão do fenómeno em Portugal, desde 1950 – data a partir da qual a comissão está a receber relatos.
“O Presidente da República sublinha, mais uma vez, a importância dos trabalhos desta Comissão, muito embora lamente que não lhe tenham sido efetuados mais testemunhos, pois este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo Mundo“, lê-se na nota, em que acrescenta que “vários relatos falam em números muito superiores em vários países, e infelizmente terá havido também números muito superiores em Portugal”.
Sinalizado isto, Marcelo alega que “espera que os casos possam ser rapidamente traduzidos em Justiça”. “Tal como fez no início de setembro, transmitindo imediatamente à PGR a denúncia que recebeu, continuará a promover e apoiar todos os esforços para que os abusadores sejam responsabilizados e afastados de qualquer situação que possa permitir a reincidência nestes comportamentos, seja no seio da Igreja Católica, ou em qualquer outra situação”, conclui.
Já depois deste texto no site da Presidência, Marcelo reagiu ainda para a câmara da RTP3, onde ao longo de cerca de cinco minutos disse não entender a onda de comoção que trespassa pelas redes sociais, já que considera ter deixado claro que o que disse “não é uma desvalorização”. “Considero que qualquer deste casos é grave; muito grave”, acentuou.
A meio da tarde, o chefe de Estado tinha admitido estar “surpreendido” com o número apresentado, porque não o considerava “particularmente elevado” quando comparado com o de outros países em que também houve um trabalho de levantamento desta realidade. As reações de políticos dos vários quadrantes partidários não se fizeram esperar, assim como nas redes sociais o assunto tornou-se um dos mais comentados do dia.