Há vários anos que o nome de Nuno Melo surgia como uma hipótese forte para liderar o CDS. Mas é no momento mais negro da história do partido – depois de ter perdido a representação parlamentar, pela primeira vez desde que foi criado, e com um role de dividas que obrigará o recém-eleito presidente a tomar decisões difíceis – que o eurodeputado enfrentará esta tarefa. Fez saber em entrevista que era agora ou nunca e o 29.º Congresso do CDS, que acontece este fim de semana, em Guimarães, ouviu-o e elegeu a sua moção estratégia global “Tempo de Construir” com 73% (804 votos), o que significa que Nuno Melo será o substituto de Francisco Rodrigues dos Santos e indicará a nova comissão política, que conta com o ex-líder parlamentar Telmo Correia; o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do Governo de Pedro Passos Coelho (2011 e 2015), Paulo Núncio, a subsecretária de Estado adjunta de Paulo Portas, Vânia Dias da Silva, e o ex-deputado que liderou a distrital do Porto, Álvaro Castello Branco.
A proposta do eurodeputado foi de longe a mais votada, entre as dos quatro candidatos à liderança centrista. O que Nuno Melo considerou de imediato “importante para a estabilidade”, tal como o apoio dos ex-líderes, como Portas ou Assunção Cristas, “condição essencial e necessária para o futuro” do partido”. O eurodeputado sabia de antemão que contava com uma série de figuras de proa centristas, como a ex-deputada Cecília Meireles, o antigo ministro da Solidariedade e Segurança Social Pedro Mota Soares ou Nuno Magalhães, líder da bancada parlamentar entre 2011 e 2019. E nenhum dos adversários conseguiu ter uma votação desafiante: a moção de Miguel Mattos Chaves, vogal da comissão política nacional cessante, teve 104 votos (9%); menos cinco que a de José Maria Duque, que pertence ao grupo de Filipe Lobo d’Ávila, ex-vice presidente do CDS. Já a apresentada por Octávio Costa não foi além dos 35 votos (3%).
Nuno Melo, 56 anos, representa a ala “portista” do CDS, foi vice-presidente de Paulo Portas e de Assunção Cristas; líder da bancada parlamentar e é eurodeputado do partido desde 2009, altura em que deixou a Assembleia da República, onde se sentou de forma contínua desde 1999. Nasceu na Vila de Joane, Vila Nova de Famalicão, é advogado de profissão e um apaixonado por carros antigos. Gosta de caçar e de agricultura.
A travessia no deserto…
Recebe o desafio de suceder a Francisco Rodrigues dos Santos – cuja liderança contestou, sem nunca se conformar com a decisão do ex-presidente em adiar as eleições internas, que deveriam ter acontecido em novembro do ano passado, mas foram adiadas por causa das legislativas – numa altura em que o CDS lida com a sobrevivência. Os últimos resultados eleitorais (1,6%) puseram fim à representação parlamentar e deixaram o partido com uma situação financeira delicada, sem a receita vinda da Assembleia da República. A permanência no Largo do Caldas, a sede, está mesmo em risco e, por isso, Nuno Melo já disse que, nos próximos dois anos, não receberá nada para desempenhar a função de presidente.
Desde que foi fundado, em 19 de julho de 1974, que o partido do Centro Democrático e Social (CDS) nunca tinha falhado uma eleição para a Assembleia da República. Embora tenha atravessado crises antes: a pior em 1987 (quando o partido sob a liderança de Adriano Moreira conseguiu apenas eleger quatro deputados em 250); mas também nas eleições de 1991 e de 1998, a renovação dos líder, nestes casos feita com Manuel Monteiro e Paulo Portas, fez com que os centristas recuperassem terreno. Em 2019, o partido já dava sinais de que enfraquecera, tendo visto a sua bancada de deputados reduzida de 18 para cinco parlamentares, mas foi no passado mês de janeiro que o cenário mais negro se concretizou. Será a eleição de um clássico como Nuno Melo suficiente para fazer marcha a trás e redirecionar a rota do partido?