Provavelmente, a maioria dos portugueses descobriu que Luís Gomes, 47 anos, ia ocupar um lugar na Assembleia da República numa gala do reality show Big Brother. Quando, perante um desafio da apresentadora, Cristina Ferreira, para participar na temporada seguinte, dedicada a famosos, o político, consultor e cantor explicou que tinha uma cadeira à sua espera no Parlamento. Chegou esta terça-feira, à casa da Democracia para dar continuidade ao trabalho que começou há quase 20 anos, quando foi eleito, pela primeira vez, por um mandato.
“Eu não estava à espera de voltar. Já fui presidente do PSD do Algarve entre 2010 e 2016, mas agora não exercia cargos políticos executivos. Estou a acabar o meu doutoramento, dou aulas na Universidade do Algarve e tenho uma empresa de consultadoria, por isso, surpreendeu-me o convite pessoal do Dr. Rui Rio e eu não podia dizer que não”, explica o parlamentar, no seu gabinete no piso quatro do edifício novo da Assembleia da República, que partilha com a deputada Ofélia Ramos (também eleita pelo círculo de Faro).
O facto de o atual presidente do partido estar de saída, no verão, não deve alterar a confiança política depositava em si ou nesta bancada parlamentar, escolhida à imagem de Rio, nota o social democrata. “O espírito é o mesmo: é o de querer fazer uma oposição combativa e responsável ao PS, que meta o dedo na ferida. Eu sou contra o carreirismo na politica e não vou deixar de ser eu próprio por alguma tática interna. Não estou nada preocupado com isso. Só estou preocupado em aproveitar estes quatro anos e meio para dar o melhor de mim, sendo coerente com os meus valores”, continua, acrescentando que, mesmo entre os restantes elementos da bancada social democrata, “os interesses do partido e do país” devem prevalecer em detrimento “dos egos pessoais”.
Quais são as grandes prioridades para o seu mandato?
“Enquanto deputado eleito pelo distrito de Faro, quero poder chamar a atenção do Governo para os problemas de saúde na região. Ainda há poucos dias, não havia pediatras no Centro Hospitalar Universitário do Algarve e há duas décadas que se promete o hospital central do Algarve, sem que este seja feito. Quero contribuir para que o meu país possa funcionar. Estamos no século XXI e temos uma arquitetura do Estado completamente desadequada. Temos de pôr a regionalização em cima da mesa enquanto elemento de organização do Estado e como forma de aumentar a eficácia. Temos um Estado que é inimigo das empresas, há uma demora inaceitável a responder a processos de inovação e é para isto tudo que eu quero chamar a atenção em sede de plenário”.
O ex-autarca de Vila Real de Santo António (entre 2005 e 2017) não esconde o entusiasmo por voltar a ocupar o lugar onde já se sentou aos 28 anos. Ainda se recorda bem dos cantos da casa, que lhe deixou saudades – “eu gostei muito do tempo que passei na Assembleia da República e acho que fiz um trabalho interessante na área do ordenamento do território”. E, por isso, é sem esforço de maior que planeia a sua vida para os próximos quatro anos entre Lisboa (de terça a sexta) e Vila Real de Santo António (de sábado a segunda). Já alugou uma casa perto do Parlamento e antevê que agora seja a altura ideal para terminar também o seu doutoramento em Engenharia e Gestão, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. E, pelo meio, continuará o seu trabalho de consultadoria, explica para justificar os vários telefonemas de clientes.
Deputado por um tempo; músico toda a vida
Ainda agora tomou posse, mas o seu percurso já chamou a atenção de vários órgãos de comunicação social, pois, a juntar às atividades citadas anteriormente, Luís Gomes é ainda músico.
“Comecei a aprender música tinha 7 ou 8 anos; primeiro estudei órgão, depois guitarra e clarinete e a seguir comecei a cantar, porque tinha muitos amigos que eram cantores, mas, na política, há um certo preconceito”, admite. “Se eu fosse escritor era completamente normal, mas como canto já não é tão bem visto. Eu tento sempre seguir os meus princípios, ter noção do ridículo e não vou deixar de ser eu próprio”.
“Numa altura em que fala tanto sobre a distância entre os políticos e os cidadãos… isto acontece, porque os políticos mascaram os seus `eus`. Se eu gosto de cantar, se as pessoas gostam do meu tema – tenho um tema quase com oito milhões de visualizações no YouTube – seria só ridículo eu deixar de cantar, só porque estou na politica”.