Foram cerca de 40 minutos de discurso de Rui Rio no encerramento da reunião magna do PSD, em Santa Maria da Feira, sobre um programa de Governo que ainda não é público mas sobre as quais os maiores desígnios – se ainda havia dúvidas – foram avançados este domingo. Saúde, Educação, Transportes e Administração Interna, a par de dossiês complicados como a TAP e o Novo Banco, foram matérias sobre as quais o líder do PSD acusa António Costa de não deixar nenhuma herança de aplaudir. Antes pelo contrário.
Citando a expressão emblemática da antiga líder do CDS, Assunção Cristas, com quem chegou a colidir por aquela disputar o mesmo eleitorado do PSD, Rio atribuiu culpas pelo estado do serviços públicos à “esquerda unida”, que juntou um PS, que promete à Europa uma coisa e cá, com o BE e o PCP, “esbanja” dinheiro sem qualquer melhorias para as funções do Estado. Comprometeu-se com reformas mas não de maneira revolucionária.
E se o Chega não esteve no fecho do conclave laranja, pelo menos uma dos suas maiores bandeiras compareceu nas palavras de Rio: a alegada falta de regras na atribuição de ajuda pela Segurança Social. “Os apoios sociais são socialmente indispensáveis, mas apenas para quem deles verdadeiramente necessita, e não para quem os recebe indevidamente”, disse o líder do PSD, sem pejo em apontar tal receita.
Catálogo de erros de Costa
A grande parte do discurso de Rio, que aconteceu logo após a tomada de posse dos novos órgãos do PSD, teve António Costa como alvo, mas também a gerigonça dos primeiros quatro anos de governação socialista e os últimos dois anos de gestão com apoio parlamentar de “uma esquerda radical que ainda acentuou mais o tique imediatista do PS”.
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O líder do PSD começou por comparar a herança que os governos PS de Guterres e Sócrates deixaram aos dos sociais-democratas de Durão Barroso e Passos Coelho com aquilo que Costa se prepara para transmitir a quem se segue; algo que classificou como “solução política de má memória”.
“Os larguíssimos milhares de milhões de euros que esta conjuntura permitiu pôr à disposição do Governo, foram, porém, todos delapidados com o claro objetivo do PS de conseguir obter a aprovação dos seus Orçamentos do Estado pelo PCP e BE”, disse, acenando com o fantasma da troika – “mergulhados em governações socialistas, fomos, primeiro, obrigados a chamar a troika, para evitar a bancarrota a que essas governações tinham conduzido, e, agora, a desperdiçar um período de expansão económica”.
De acordo com Rio, as funções primordiais do Estado têm tido respostas cada vez mais deficientes e apontou a dedo aos setores da Justiça, Educação, Saúde, Transportes e Administração Interna – em relação ao último não deixou de criticar o consulado de Eduardo Cabrita, mas também da sua antecessora Constança Urbano de Sousa.
“Em tudo isto, e muito mais, temos sempre a mesma marca. A marca da falta de rigor e do excesso de facilitismo, como uma identidade sempre presente nas governações socialistas ao longo dos tempos”, defendeu. Sendo que é quanto à tutela de Brandão Rodrigues que disse haver a destruição de tudo quanto os executivos de direita deixaram de eficaz. “O Governo do PS, e particularmente a esquerda unida, tudo fizeram para mudar o que a muito custo se tinha conseguido”, apontou, lembrando um dos epítetos das intervenções da centrista Assunção Cristas, quando se referia à solução governativa do PS com o BE e PCP.
Aliás, dizendo que “a política educativa nos últimos seis anos é o melhor exemplo do que não deve ser feito”, Rio piscou o olho aos professores e às suas insatisfações.
Convicções como os grandes mas sem soluções
Invocando a “convicção” de Winston Churchill, o emblemático primeiro-ministro britânico, para “superar uma centena de outros que apenas têm opinião”, Rio acabou não se comprometer a fundo com respostas para os problemas identificados na gestão socialista. Aliás, fez questão de se comprometer com uma agenda reformista mas não de ruturas extremas: “Estamos prontos para assegurar a diferença. Somos um partido reformista. Não vamos, por isso, fazer nenhuma revolução, nem vamos destruir tudo o que os outros fizeram. Queremos apenas, de forma sensata, mas corajosa e realista, desenvolver o nosso País e voltar a trazer a
esperança aos portugueses”.
Se compromisso claro houve foi com relativamente a uma das áreas que se tornou das bandeiras mais fortes de André Ventura, líder do Chega.
“Não é aceitável um País com a sua classe média sufocada em impostos e em que o seu salário de referência pouco se distingue do mínimo em vigor. Assim como também não é racional manter apoios sociais a quem os usa para se furtar ao trabalho e, dessa forma, condicionar a própria expansão empresarial que, cada vez mais, se lamenta da falta de mão de obra disponível”, argumentou, defendendo que “os apoios sociais são socialmente indispensáveis, mas apenas para quem deles verdadeiramente necessita, e não para quem os recebe indevidamente”. “Tem de haver uma fiscalização adequada para que possamos garantir, simultaneamente, justiça social e progresso económico”, disse, quase no fim da intervenção, arrancando aplausos.