Chegada a hora da desforra, Rui Rio – o líder partidário mais criticado durante a terceira convenção do Movimento da Europa e das Liberdades (MEL) – subiu ao palco e ignorou o repto dos partidos à sua direita para se unir ao CDS, à IL e ao Chega. Aliás, até começou por se demarcar destes: “Se isto fosse um congresso das direitas eu não conseguiria entrar. Teria sido barrado. O PSD não é um partido de direita”. Esclarecendo que “o PSD, quando nasceu, em 1974, não só era de centro como era marcadamente de centro-esquerda”.
Nos últimos dois dias, o presidente do PSD esteve debaixo de fogo de todos os líderes da direita e até dos militantes do seu próprio partido, que o acusaram de ser um líder fraco, de se aproximar do Partido Socialista e de ser responsável pelo surgimento das novas forças políticas à direita. Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS-PP, deixou o recado: “Para combater a esquerda, não precisamos de uma obsessão pelo centro” nem de fazer “fretes ao PS”. João Cotrim de Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal, foi mais concreto, dizendo mesmo que o PSD “está a fazer o jogo dessa esquerda” e André Ventura, líder do Chega, apontou que Rio é incapaz de “fazer o seu papel de oposição”. Mesmo dentro do PSD ouviram-se várias críticas ao atual líder, que tiveram o seu expoente máximo na pessoa de Miguel Pinto Luz. O vice-presidente da Câmara de Cascais, que disputou as últimas eleições internas com Rio, até concedeu que o seu presidente “seria muito melhor primeiro-ministro do que António Costa”, mas “a verdade é que não tem adesão”.
Perante isto, o líder social-democrata assobiou para o lado, optou por olhar para o passado e defender o Governo de Passos Coelho, que cumprimentou entusiasticamente assim que entrou no auditório do Centro de Congressos de Lisboa. E que, segundo Rio, “só teve um ano de liberdade. Nos outros três foi a troika que governou”.
Mas o presidente do PSD centrou-se sobretudo na análise dos problemas estruturais do País sob os eixos do “brutal endividamento externo” e do “endividamento público”, que terão levado Portugal à estagnação, tendo apenas arrancado palmas à plateia já no final, quando falou no PS para dizer que este partido “não quer reformar nada”.
Com a mão que afastou, também condescendeu, justificando ainda que o País precisa de reformas estruturais e que estas não podem ser alcançadas sem diálogo entre os dois grandes partidos: o PS e o PSD. “A cultura dominante não é a cultura do diálogo democrático. Existe a ideia de que uma oposição forte nunca coopera, só diz mal, está sempre contra. E quando coopera tem de se tirar e pôr alguém que venha falar mais alto”, declarou Rio.
Se Passos Coelho quisesse…
Não falou, mas também não foi preciso. O ex-primeiro-ministro social-democrata, Pedro Passos Coelho, chegou para a abertura da convenção, nesta quarta-feira, e ficou até ao final para ouvir Rio. Manteve-se o tempo (quase) todo em silêncio, mas a ânsia do seu regresso era palpável na sala e deixou uma certeza: se Passos Coelho quiser voltar, Rui Rio terá dores de cabeça.
De todas as vezes que o seu nome foi mencionado – e não foram poucas – a sala dedicava-lhe uma salva de palmas. Comum também foi a interpretação de que os problemas da direita seriam minimizados com o ex-primeiro-ministro ao leme.
Rio e Passos abandonaram o MEL juntos, mas sobre o discurso do atual líder – que Passos aplaudiu de pé – nada quis acrescentar aos jornalistas.