Marc Rechter, empresário holandês que é presidente executivo da Enercoutim e do Resilient Group, foi durante quase um ano o rosto nos media de um projeto que queria transformar Sines numa super-indústria de produção e exportação de hidrogénio verde. Antes, no Verão de 2019, tinha sido ele a a apresentar no gabinete de João Galamba as mais-valias deste projeto milionário, bem como o plano de conseguir fundos europeus para o executar através de uma parceria entre Portugal e os Países Baixos. Apesar disso, e ao contrário do que diz o esclarecimento oficial do gabinete do Secretário de Estado adjunto e da Energia, publicado em reação à notícia de que membros do Governo estavam a ser investigados por suspeitas de favorecimento de grandes empresas privadas neste negócio, não foi Rechter a trazer para o projeto a Galp, a EDP ou a REN. O holandês, aliás, nem foi convidado para a primeira reunião oficial entre alguns governantes e representantes destas três empresas, que decorreu no Ministério do Ambiente, a 20 de dezembro de 2019, na presença do Secretário de Estado e da Energia, João Galamba, do ministro da Economia, Siza Vieira, e do ministro do Ambiente, Matos Fernandes.

Nesse longo esclarecimento, o gabinete de João Galamba diz que o projeto de Rechter já incluía originalmente essas empresas. Mas atas de reuniões, emails, memorandos e outros documentos aos quais a VISÃO teve acesso mostram o inverso: que as grandes empresas privadas foram chamadas a investir no projeto nacional do hidrogénio pelo Governo. Algumas delas, aliás, assumem à VISÃO terem sido oficialmente convidadas pelo ministério do Ambiente para estas reuniões. Parte desta história está contada nas escutas telefónicas que o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) montou nas suas próprias instalações (ao contrário do habitual, o processo não é co-investigado pela Polícia Judiciária) para investigar as suspeitas de que membros do Governo poderiam estar a cometer crimes de corrupção ou de tráfico de influência.
Outro documento que desmente a versão oficial do Ministério do Ambiente é a ata da reunião de 9 de janeiro de 2020, dia em que se juntam pela primeira vez na mesma sala elementos do Governo, da Galp, da EDP, da REN e, agora sim, Marc Rechter e outros dois funcionários do Resilient Group. Através dessa acta, fica claro que ainda não havia uma sinergia entre estas empresas e que o Governo estava a tentar que se juntassem para investirem juntos, em formato de consórcio, no plano do hidrogénio limpo. Nesse dia, Galamba disse aos presentes que o Estado podia prestar-lhes os apoios necessários “a uma candidatura a fundos disponíveis para a inovação e indústria na obtenção ao estatuto de IPCEI (Projeto Importante de Interesse Europeu Comum)”. Mais tarde, saber-se-ia que estava previsto um investimento de 7 mil a 9 mil milhões de euros, do qual uma parte seria financiada por fundos comunitários. Ao todo houve mais três reuniões oficiais do Governo com a GALP, a EDP e a REN. Estas três empresas viriam a juntar-se à Martifer e a candidatar-se em consórcio. Seriam um dos 34 projetos aprovados, em julho de 2020, numa primeira fase de seleção decidida por um comité que integrava elementos de vários ministérios.
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