Não é possível manter alunos e pais confinados em casa durante um ano letivo inteiro, mas a evolução da pandemia é incerta e o levantamento das restrições de movimentos, quando for decidido, será sempre gradual.
Em entrevista ao Observador, António Costa não se compromete com calendários mas deixa um sinal sobre a receita para a retoma económica: “Tudo o que sejam medidas que asfixiem os agentes económicos, seja as famílias seja as empresas, serão certamente más receitas para o futuro.”
Regresso à normalidade sem calendário
Partindo de duas certezas – o vírus não está extinto antes do final do próximo ano letivo e a vacina não deverá chegar antes desse momento –, o primeiro-ministro sinaliza um regresso à normalidade possível. Se é certo que “temos vindo a diminuir o risco de expansão”, também é garantido que “não chegámos a fase de declínio da pandemia”.
No imediato, isso significa que não deverá existir “existir qualquer alteração” no decreto do Presidente da República com o quarto período consecutivo de estado de emergência. O regresso à normalidade, esse, “será sempre gradual e progressivo”. Até porque, avisa António Costa, “se perdemos o controlo, voltamos a ter de tomar estas medidas” restritivas da liberdade de movimentos.
Liberdade a diferentes velocidades
A população idosa está mais vulnerável às consequências da Covid-19. Por essa razão, Costa admite “manter” as restrições “até vivermos em total segurança com a doença” e essas restrições poderão ser mais prolongadas precisamente para os mais velhos. É uma forma de “proteção” e não de exclusão ou discriminação destas faixas etárias, justifica o primeiro-ministro.
Mas a distinção não é será apenas geracional. Teremos, no futuro, um “país com múltiplas velocidades” aplicadas a “regiões diferentes, setores de atividade diferentes, a pessoas com riscos diferentes” de contágio.
Vá para fora cá dentro
“Quero querer que, até ao verão, a situação estará suficientemente controlada para podermos ter férias e podermos gozar o melhor possível” esse período. Uma nota positiva que o primeiro-ministro quis deixar na entrevista ao Observador. Mas que traz conselhos.
“Planeiem férias cá dentro”, é o que Costa diz aos portugueses. Até porque ninguém quer ser apanhado por uma nova suspensão de voos quando estiver em “lugares distantes” e arriscar ficar “isolado” por novos encerramentos de fronteiras.
TAP: companhia de bandeira. E nacionalizada?
O tema já tinha sido aflorado pelo ministro das Finanças e Costa não põe a hipótese de parte. Admite “nacioanalizar uma ou outra empresa que seja absolutamente fundamental para o país” e, pelo caminho, vai dizendo que “o setor da aviação civil foi dos que sofreu de forma devastadora” com a atual situação mundial. Além disso, e para que fique claro, a TAP “é uma empresa estratégica para o país”.
Doença diferente, terapia diferente
Outra possível boa notícia. O ponto é: se a “doença” atual é diferente da que foi diagnosticada em 2008 – com a crise do subprime a varrer as economias de todo o mundo –, então a forma de a combater também deverá ser diferente. Isto quer dizer exatamente o quê? “Tudo o que sejam medidas que asfixiem os agentes económicos, sejam famílias sejam empresas, serão certamente más receitas para o futuro.”
Cortar rendimentos não é, portanto, uma “receita que faça sentido”. Mas Costa espera por aquilo que venha a ser definido a nível europeu para perceber com que “instrumentos” pode lidar com a crise económica que se vai instalar no país.
Também sem se comprometer com a manutenção dos aumentos da Função Pública que estavam previstos para o próximo ano, certa, certa, é a necessidade de um “orçamental suplementar para 2020 que incorpore o investimento no Serviço Nacional de Saúde”, além dos custos com as medidas sociais e económicas já adotadas.