“Uma instituição gastronómica portuguesa, simples mas saborosa, em Mealhada.” É assim que a revista brasileira Época descreve o restaurante Pedro dos Leitões, um dos mais conhecidos restaurantes portugueses que servem leitão à Bairrada, e que saltou para a investigação da Operação Lava Jato depois das revelações de alguns visados que têm negociado acordos de “delação premiada” (o método permitido pelas leis brasileiras que permite conceder benefícos legais a quem esteja disposto a colaborar com as investigações judiciais e entregar outros responsáveis). Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, o braço logístico da Petrobas, tem sido uma das principais figuras a ajudar o Ministério Público Federal, fazendo revelações explosivas sobre a cúpula do PMDB, o partido a que pertence o presidente em funções Michel Temer.
Como Sérgio Machado – que renunciou ao cargo na Transpetro depois de ser envolvido no escândalo de corrupção da Petrobas – tinha o hábito de gravar as conversas que considerava delicadas, é hoje descrito no Brasil como “o homem que apavora Brasília”. Os seus depoimentos, e as gravações de conversas telefônicas, já fizeram cair o senador Romero Jucá, um dos principais ministros do governo de Michel Temer, depois de o senador ser apanhado a prometer pôr fim à Operação Lava Jato caso Temer assumisse a presidência.
A investigação suspeita que empresas faziam pagamentos mascarados de doações eleitorais em troca de contratos na subsidiária da Petrobas. Ou seja, que as campanhas do PMDB (pelo menos em Alagoas e no Ceará) eram suportadas por empresas investigadas na Lava Jato.
Também os contratos assinados pela Transpetro no âmbito do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), o programa lançado em 2004 pelo Governo Federal para impulsionar o renascimento da indústria naval brasileira, estão a ser passados a pente fino pela investigação. Foi nesse contexto que os dados se cruzaram com Portugal. O Promef começou a ser desenvolvido por Mauro Orofino Campos, engenheiro naval e ex-deputado que virou uma espécie de consultor para Sérgio Machado, por aquele não ter conhecimentos sobre o setor, e que paralelamente começou a investir no estaleiro Rio Nave, que ganhou o concurso para construir navios da Transpetro. Esse estaleiro é controlado por uma empresa portuguesa: a Estaiport – Consultoria e Planeamento, com sede no Estoril, que por sua vez está vinculada à Estai Escritório de Serviços Técnicos Assessoria Industrial, no Rio de Janeiro. Ambas estão em nome de Campos, que também já foi ouvido pela Polícia Federal no âmbito da Lava Jato.
De acordo com a Época, “os investigadores suspeitam e Machado emitiu sinais de que essa ‘aparelhagem’ internacional serviu à lavagem de dinheiro do petrolão para o PMDB”. A revista conta que a relação entre Machado e Campos é muito próxima e inclui fins de semana em Portugal (Campos tem casa no Estoril) e garrafas de Château Petrus, um dos vinhos mais caros do mundo.
Outra figura que partilharia a mesa em Portugal com Campos e Machado é Germán Efromovich, o empresário brasileiro que foi preterido na corrida à privatização da TAP. Os três estão unidos ainda por dois contratos, assinados pela Transpetro, via Promef, com os estaleiros Eisa e Mauá, do grupo Synergy, controlado por Efromovich. Testemunhas das andanças do trio por Portugal contaram que se costumavam encontrar no tal restaurante, o Pedro dos Leitões.