Porque é que não quis os Airbus A350?
Os Airbus A350 não foram uma boa escolha para a TAP. Só precisariam desta aeronave se quisessem voar para a China ou para o Japão. Mas, para o Brasil e para a América do Norte, não fazem falta.
A TAP foi a quarta empresa no mundo a encomendar os A350 que deveriam ser entregues em 2017. As ordens de encomenda [slots] que estavam feitas têm um valor monetário?
Não. Todos os contratos dizem que não se pode vender os slots. Esse é um princípio inabalável. Se eu comprar uma aeronave hoje não a posso vender enquanto não estiver em meu poder.
Quando a TAP encomendou os A350, em 2011/12, o preço de tabela dos A350 era de 267 milhões de dólares, cada. Atualmente, está nos 304 milhões. Esta diferença, multiplicada pelos 12 aviões encomendados, dá mais de 400 milhões de dólares…
… Os preços não são esses. Não são trezentos nem duzentos milhões. São muito abaixo disso.
Seja quais forem as contas, no meio aeronáutico diz-se que a venda das ordens de encomenda dos A350 poderia render cerca de 150 milhões de euros?
Dizer que se podia vender os slots por 150 milhões ou 200 milhões é completamente errado. Aliás, a TAP estava em incumprimento com a Airbus e arriscava-se a ficar sem os aviões e sem o dinheiro que já tinha investido.
Mas existiu uma negociação sua com a Airbus que resultou na encomenda de 53 novos aviões, 14 A330-900 e 29 A321 LR…
… O que eu fiz foi ir à Airbus e dizer que não queria os A350, porque não faziam falta à TAP. Mas queria os A330 e os A321 LR (Longo Alcance) porque são mais rentáveis. A TAP pode, com os A321 LR, voar para Toronto, Boston, Nova Iorque e até Chicago, com custos mais baixos.
Quais os valores envolvidos nesta negociação?
Estou impedido de revelar os valores, mas posso afirmar que comprámos estas aeronaves por um preço muito baixo. O primeiro 330-900 no mundo vem para a TAP. Fizemos o cálculo com a redução dos custos de operação e com a diferença do valor do mercado dos aviões que vamos trazer, podemos avaliar esta operação em 860 milhões de dólares.
Não teve qualquer ganho com a venda dos slots dos A350?
Eu não tirei nada da TAP. Estou a trazer este valor todo e não posso tirar um cêntimo enquanto a dívida bancária da TAP não estiver toda paga. Esse é o contrato que tenho de cumprir.
Acha que foi um bom acordo com a Airbus?
A TAP tinha um enorme problema. Estava em incumprimento do contrato com a Airbus. Não tinha pago dentro dos prazos exigidos. A Airbus podia cancelar o contrato.
E isso esteve quase a acontecer?
Sim. Durante a greve dos pilotos recebi uma chamada da Airbus, numa sexta-feira, a dizer que iam cancelar os contratos. Eles estavam muito preocupados com o futuro da TAP. Na segunda-feira seguinte, ajudei a resolver o assunto.
Como?
Mostrei-lhes as ideias que tinha para a TAP e eles acharam que era um bom plano. E só o consegui porque tenho um excelente e profundo relacionamento com a Airbus.
Pode explicar esse relacionamento?
Quando estava na Jetblue comprei 100 Airbus. Foi a primeira low cost a ter Airbus na sua frota. A hegemonia do mercado das low cost era da Boeing em 1998/99. Depois disso, a Easyjet, a Air Asia, a Virgin America e a Spirit, todas elas, compraram Airbus.