Os investigadores tiveram mais de vinte telemóveis de Helder Bataglia sob escuta, pediram dados à Suíça e varreram as contas bancárias de que o empresárioo empresário é titular em Portugal. E terão descoberto que, entre 2005 e 2014, Bataglia terá recebido nas suas contas nacionais mais de 12 milhões de euros: 2,9 milhões da ESCOM, a empresa do Grupo Espírito Santo (GES) que há anos apresentava uma frágil saúde financeira, e perto de 9,8 milhões do BES Angola (BESA). Porém, dizem os investigadores, Bataglia, em sede de IRS, só terá declarado como rendimentos os montantes pagos pela ESCOM. O empresário luso-angolano que é desde o Verão alvo de um mandado de captura internacional foi administrador da empresa do GES até 2013, data em que adquiriu um terço da sociedade. Do BESA foi administrador até 2004, e sócio até 2012, data em que abandonou o banco angolano.
A análise às contas bancárias sedeadas em bancos portugueses terá ainda permitido perceber que Bataglia terá recebido cerca de 170 mil euros da sociedade Govest Empreendimentos, uma das cinco empresas que compõem um conglomerado que se suspeita ter recebido créditos do BESA.
Destas contas terão saído cerca de 700 mil euros para a filha Rita Bataglia, 1,6 milhões para Luís Horta e Costa (outro dos administradores da ESCOM) e 1 milhão de euros, dividido em dois montantes, para um homem e uma mulher que teriam em comum terem sido administradores da empresa Monte da Ilha, imobiliária que depois terá passado para as mãos de Rita Bataglia e da advogada Ana Bruno.
Todos estes dados foram apanhados no processo que investiga uma rede de fraude fiscal e branqueamento de capitais em torno da empresa Akoya, e depois transpostos para o processo Marquês. A esses o Ministério Público juntou ainda as respostas das autoridades suíças que terão permitido concluir que Bataglia seria beneficiário de pelo menos 14 sociedades off-shore: duas delas terão transferido 12 milhões de euros para Santos Silva.
Num segundo plano, os investigadores concentraram-se nos negócios em Angola entre Bataglia e José Paulo Pinto de Sousa, o primo de José Sócrates apontado como suspeito de receber luvas no processo Freeport (que acabou com absolvições)e também referenciado no processo que investigava suspeitas de corrupção na Câmara da Amadora. Nesse caso, que acabou arquivado, havia ainda referências à MECASO, empresa da mãe de Sócrates. A nova abordagem dos investigadores terá começado depois de Santos Silva dizer nos interrogatórios que grande parte do dinheiro acumulado na Suíça provinha de um negócio de salinas em Angola. A versão não convenceu os investigadores porque o acervo financeiro terá sido acumulado na Suíça anos antes de os empresários se terem voltado para aquele negócio. Ainda assim, haveria outros dados que teriam ficado registados nas escutas a Bataglia e a José Paulo que seriam relevantes para a investigação.
As conversas telefónicas terão permitido perceber que, em Março de 2013, José Paulo vivia preocupado com um projeto de 30 milhões de dólares denominado Salinas Tchiome. A ponto de antes de o projeto ser aprovado ter alegadamente exercido influências que terão chegado ao presidente da República de Angola. Numa das mensagens apanhadas pela investigação, José Paulo terá comentado com o general Armando da Cruz Neto, governador de Benguela, se poderia dar um toque uma vez que o projeto teria como promotores Bataglia e a família Pinto de Sousa, por via da empresa Eaglestone. Noutra, Bataglia terá dito a José Paulo que como o projeto estava prestes a ir a Conselho de Ministros estaria na hora de conjugar táticas.